Data magna do estado de Pernambuco (6 de março) e Dia Internacional das Mulheres (8 de março), aproveitei para juntar dois orgulhos e trazer uma mulher à frente do tempo, que era feminista quando nem se falava nisso. Ela é de Pernambuco, é do leão do norte:
Nasceu em 6 de junho de 1915, em Sirinhaém, interior de Pernambuco. De família pobre, graças aos esforços do seu pai, Naíde conseguiu estudar na sua terra natal, interna no Colégio da Sagrada Família, que foi, para ela, sua iniciação no mundo do conhecimento e berço de sua formação ética e intelectual. É nesta fase de sua juventude que, estimulada pelo ambiente educacional em que vivia, aprende a ler e a falar bem o francês.
Aos 16 anos, acompanhada de duas irmãs mais novas, contrariando a vontade paterna, audaciosamente decidiu vir para o Recife, para trabalhar e estudar na concretização de um sonho, a de ser médica. Formou-se médica (1946) pela Faculdade de Medicina do Recife.
Naíde Teodósio ingressou na carreira docente em 1962, como professora da Faculdade de Medicina, tendo participado ativamente, como integrante do grupo de pesquisadores liderado pelo cientista Nelson Ferreira de Castro Chaves da idealização e fundação do Instituto de Antibióticos do Recife, criado cientista em 1952, dando origem ao atual Departamento de Antibióticos da UFPE.
Mesmo antes da Faculdade de Medicina do Recife se incorporar à Universidade, Naíde e colaboradores, inicialmente dedicados ao estudo da fisiologia, da técnica operatória e da histologia, começam, de forma pioneira, a dirigir suas pesquisas para os campos da fisiologia da nutrição.
O intercâmbio de pesquisadores nacionais e estrangeiros, promovendo conferências, cursos e trabalhos experimentais, foi fecundo na formação do grupo do Recife. Houve, inclusive, a participação e cooperação internacional de alguns Prêmios Nobel da Medicina e Fisiologia, a exemplo do argentino Bernardo A. Houssay (1887 – 1971: Nobel em 1947) e o sueco Ulf S. von Euler (1905 – 1983: Nobel em 1970), que exerceram grande influência na formação científica de Naíde.
A qualidade das pesquisas desenvolvidas por Naíde Teodósio e colaboradores assegurou a publicação de mais de 50 artigos científicos em revistas especializadas estrangeiras e nacionais, tais como Annals of the New York Academy of Sciences, Nutritional Neuroscience, Brazilian Journal of Medical and Biological Research e Rev. Bras. Medicina.
Naíde sempre se preocupou com a formação de pesquisadores e de novos talentos locais para o magistério. Formou mais de uma geração de cientistas, consolidando grupos de pesquisa 125 Série Sinopses Biográficas na área de Nutrição. Fundou o Laboratório de Fisiologia da Nutrição do Departamento de Nutrição da UFPE, hoje “Laboratório de Fisiologia da Nutrição Naíde Teodósio” (LAFINNT).
No campo da nutrição aplicada, Naíde pesquisou, desenvolveu e disseminou o uso de um suplemento nutricional de baixo custo chamado Prothemol, que foi criado à base de farinha de trigo, clara de ovos e hemácias (glóbulos vermelhos) de sangue bovino com o objetivo de combater as consequências da desnutrição e da anemia em crianças e mulheres grávidas.
Sua amizade com o ex-governador Miguel Arraes e simpatia para com os comunistas foram a “gota d’água” durante o Golpe Militar de 1964, fazendo-a ser presa durante um ano na extinta Casa de Detenção do Recife, acusada de subversão.
Apesar das perseguições políticas, Naíde Teodósio conseguiu vencer todos os obstáculos em sua trajetória universitária, sendo aprovada em concurso público, na década de 1960, para o honroso título de professor “Livre-Docente”.
Deixou um legado importante para a sociedade, tanto no aspecto científico quanto do ponto de vista social e político. Foi agraciada com a primeira Medalha do Mérito Sanitário Josué de Castro, concedida pela Assembleia Legislativa de Pernambuco e pelo Conselho Regional de Medicina que lhe outorgou a “Medalha de São Lucas”.
Como reconhecimento deste legado, a Secretaria Estadual da Mulher do Governo de Pernambuco criou, em sua homenagem, em 02 de julho de 2007, o Prêmio Naíde Teodósio de Estudos de Gênero – Concurso de Redações e Artigos Científicos. Naíde faleceu no dia 17 de abril de 2005, aos 89 anos.
Uau! Uma mulher incrível!
ResponderExcluir