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Do Nada Ela Sumiu, Maurício Pons

“a folha em branco me assusta”
Me Ensina a Escrever - Oswaldo Montenegro














Do nada ela sumiu.
Procurei na poeira que os pensamentos levantam quando se 
movem, sem êxito.

Tentei no laptop, que às vezes ela fica por ali zanzando pela 
tela em branco. Nada!

Varri sala e lavei louça para esperá-la. Em vão.
Caminhei pelo bairro – quem sabe a encontrasse à sombra de
um salso ou em meio às cores de algum jardim florido?! Nos 
jardins, apenas flores.

Busquei em Carolina, como fizeram Chico e Jorge. Emprestei
Valentine, do Paul, e Valérie, do Ramil. Procurei em Bruna, em
brumas e brisas. Quis encontrá-la em Luna, na lua e nas 
estrelas. 


Naveguei o azul do mar, sangrei o vermelho do amor, sofri o 
negro da dor, silenciei o branco da paz, gargalhei a alegria do
sorriso e chorei a tristeza da lágrima... Nenhuma linha.

Inspiração! Respira sozinha; anda com suas pernas; voa com
suas asas. Aparece quando quer. Do nada.

E do nada ela sumiu.


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