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Segunda-feira poética: Ode Sobre a Desigualdade.

 Com a mãe, dia do resultado do vestibuar
                             

Alcides no laboratório de biomedicina










“Este poema é uma homenagem a um Alcides muito pobre  porém muito inteligente que decidiu buscar um espaço nessa sociedade excludente quando um tiro dado por outro “Alcides” qualquer obstou o seu caminho em busca da felicidade e de algum lugar ao sol”.   De: Antonio Francisco dos Santos Filho


Nome: Alcides dos Morros Favelado da Silva.
Como tantos outros moradores pobres dessa urbe ferida
Que o destino, aleatoriamente, parece, decidiu jogar nos cafundós dessa vida,
Para, sem berço e sem sorte,
Irem lutando diuturnamente contra os assaltos da morte.



Êta azar da gota nascer desse jeito!
Preto, pobre, sem manta e sem leito,
Num casebre qualquer, de taipa ou madeira,
Muitas vezes de parto difícil,
De qualquer ajuda sempre carece,
Em cima de uma rede rota ou de uma esteira
Ou numa maternidade qualquer do INSS
Mas sempre sem eira nem beira.


A mãe, tendo que cuidar de uma ruma de filhos,
Segue inquebrantável varejando a sua sina,
Doméstica, lavadeira, catadora de lixo, operária...
Não importa, é uma batalhadora incansável,
E será sempre uma verdadeira heroína
Que vai seguir tentando dar à sua prole aquilo que a sociedade desavergonhadamente lhe tira.

 
Não há muito a fazer
A não ser lutar e lutar, e como luta essa gente!
Uma luta inglória, incessante, incongruente,
E os “Alcides” vão nascendo num rito de penúria
Com esse destino insano só a eles circunscrito,
Pois os abonados, bem nascidos,
Não conseguem ouvir nem compreender
Seus lancinantes gritos, nem seus dolorosos prantos.


Esses “Alcides” vão seguir destinos diferentes,
Alguns, trabalhadores braçais para sempre,
Outros, ladrões, traficantes, viciados, indigentes...
Filhos bastardos dessa sociedade indecente
Que os aprisiona nessa triste casta de excluídos permanentes.

 
Mas a natureza na sua imensurável bondade
Resolve prover alguns desses “Alcides” de algum divino dom
Dando-lhes sem cobro aquilo que lhes tira a sociedade
E mudando do seu triste fado o tom;
Vai lhes imbuir, assim, de uma nova dignidade,
Surgindo desse modo os “Alcides” médicos, advogados, professores, padres...
Como se a vida fosse um simples golpe de sorte,
Deixando os omissos, atônitos, acreditando que tal fato seja um milagre de porte.


Quantos desses “Alcides”, um dia, conseguirão ser gente?
Pois não há espaço para todos no reino da desigualdade,
Talvez, com um punhado de fé e a divina fidelidade,
Possam os “Alcides”, bem crentes, obterem as oportunidades perdidas pelos descrentes.
E com essa divinal caridade
Alcançarem o sucesso tão pleiteado nessa sociedade exigente.


Ou talvez com submissão, fé e bondade,
Acatando as esmolas e indulgências dessa cristã sociedade, possam os “Alcides”, numa outra vida, finalmente, serem premiados com o tão almejado reino de justiça e igualdade.
Pois aqui, nesta terra, é de fazer dó,
De tão injusta e cruel, a luta pela felicidade e por um pequeno lugar ao sol!
 



 Nota (1): Alcides morreu um semestre antes de se formar biomédico. A UFPE, concedeu diplomação simbólica ao estudante no dia da colação de grau em dezembro de 2011.
 Nota (2):  As três filhas de D. Maria Luiza, são também estudantes da UFPE. Ana Paula cursa Farmácia, Andrezza cursa Publicidade e Andréa faz Adinistração.

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