Capa da ed.Alfaguara |
Creio que nunca disse: detesto esse estilo(?) de escrita sem vírgula, sem maiúsculas... sem fôlego. Por causa disso precisei me carregar de boa vontade para ler A Máquina de Fazer Espanhóis. Ótimo livro. Quando Valter Hugo Mãe escreve liberto de José Saramago, confesso, me agrada muito mais. Estou finalizando a leitura de O Filho de Mil Homens.
Vamos ao livro:
Crisóstomo é um pescador que sente-se velho e incompleto sem filhos aos quarenta anos.[...via-se metade no espelho porque se via sem mais ninguém , carregado de aus~encias e de silêncios...Pag.11, cap.1]Torna companheiro um grande boneco que comprou. Camilo é um órfão que surge meio do nada numa traineira onde Crisóstomo trabalha. Cada capitulo é, por si, um conto muito bem urdido. Cada personagem traz uma imensa solidão fruto do estranhamente e rejeição a eles diispensados por serem, digamos assim, diferentes. Uma anã, por ter engravidado de algum dos 15 homens da aldeia traz alívio às mulheres e mantem o silêncio masculino quando morre de parto. O filho sobrevive e vai ser companheiro/filho de Crisóstomo mais adiante. Antonino desperta a repulsa geral e o sentimento de culpa da mãe por sua homossexualidade. Casa-se com Laura, abandonada pela mãe, numa situação arranjada para servir a ambas as partes diante das demais pessoas. [ ...Um homem maricas, por mais repugnante que fosse, seria sempre um marido com vlidade para melhorias fundamentais como aumentar a estabilidade financeira e assegurar o socorro nas urgências e azares diversos..Pag.54,cap.4] A mãe de Antonino, atrapalha-se com sentimentos de nojo,culpa, amor pelo filho. A vida, as circunstâncias, as necessidades diversas vão desfazendo laços e formando novas uniões e famílias.[De qualquer modo, já não precisavam falar.Pertenciam-se e comunicavam entre si pela intensidade dos sentimentos.Tinham inventado uma família. Pag.199 cap.21] Valter Hugo Mãe, magistralmente desenvolve as carências e loucuras de cada personagem e recoloca cada um no lugar mais provável que a vida lhes reservou, sem, de forma alguma, apelar para o mais fácil e edulcorado. Uma característica que notei em V.H, desde o livro anterior foi o lirismo dentro das tragédias. Um romance, bem escrito, poético, com críticas claras à hipocrisia da sociedade e à religião, original e com toque de realismo fantástico. Recomendo a leitura. Para quem conhece o autor, vai gostar de vê-lo independente de Saramago. Quem não conhece, vou arriscar: duvido que não goste.
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