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Do Canavial à Faculdade de Medicina - (final)

    Sentindo-se cada dia mais desafiado, Jonas procurou em 2008 um curso de matérias isoladas. "O nível de exigência do aluno era maior. Mas era o que eu precisava. Conheci o professor Vieira Filho, fiz teste para uma bolsa 100%, mas só consegui desconto. Eu pagava R$ 190, por cinco disciplinas, ainda com o que sobrou do IBGE", conta o rapaz, que nesse tempo mal se mantinha acordado nas aulas e nos ônibus (quatro por dia). "Sofri em silêncio", desabafa. Jonas ficou na lista de remanejamento, por 13 pontos. Bastaria que duas pessoas desistissem, o que não aconteceu.

Além de aprender biologia, física e química, Jonas teve que aprender a brincar. A exemplo de um dos seus "mestres", o poeta Fernando Pessoa, criou heterônimos. Personagens dele mesmo. Pequenas histórias autobiográficas. O mais conhecido é João, um menino que adora tirar fruta do pé. "Uma vez João me disse para eu não ficar triste. Falou que quando eu passasse, eu ia para casa, comer manga e chupar picolé", brinca Jonas. "Eu fui fazer as provas este ano de mãos dadas com Deus e João", ressalta. Outra coisa: Jonas nunca brinca sozinho. "Converso com os meus mestres, Franz Kafka, Josué de Castro, Machado de Assis, Mozart, Bach e João Cabral de Melo Neto", cita alguns.

Para encurtar os gastos com as passagens de ônibus, as despesas na casa da irmã e o cansaço, Jonas conseguiu uma vaga na Casa de Estudantes de Pernambuco, no mês de abril deste ano. "O acolhimento foi imediato", declara. "Além disso, fui atrás novamente de uma bolsa integral e consegui, através do professor Fernandinho e companhia", fala Jonas, agradecido como se falasse de "deuses". Era tudo ou nada este ano. Foi tudo. Jonas conseguiu a aprovação pelo sistema de cotas (que reserva 20% das vagas para alunos egressos da rede pública), com a pontuação 532,25. E foi também o começo. Jonas já faz planos para comprar os primeiros livros (Prometheus, Atlas de Anatomia e Harrison: Medicina Interna) com o dinheiro de um novo concurso do IBGE. Também já aprendeu no corredor da UPE que "a arte na medicina às vezes cura, de vez em quando alivia, mas sempre consola".

(Matéria publicada no Diário de Pernambuco - 23/12/2009)

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