Bate o luar pelas encostas,Banha vales e grotões.
Que noite clara e comprida!
Entro no atalho da vida
Com um grande saco nas costas,
Cheio de recordações.
A luz do luar, de mansinho.
As sombras da noite espanta:
Quem canta encurta caminho,
Mata saudades quem canta.
Pesa-me êste desalento
Que a alma me aperta e espezinha
"Caminha!" - murmura o vento,
Dizem as nuvens: "Caminha!..."
Vem do silêncio das matas
Rumor de fonte e cachoeira.
Cantam minhas alparcatas
Cantando a canção da poeira.
Tudo canta! A flor do mato,
Uma ave noturna, um grilo
Canta o veio do regato,
Canta o luar no céu tranquilo.
Canta o bacurau na serra,
Canta o sapo na lagoa.
Sobe do hálito da terra
O canto da vida boa.
Tanto amor! Tanta promessa
Nesta vida em que definho!...
E eu vou cantando baixinho...
Quem canta chega depressa,
Quem canta encurta caminho.
Em Toda Uma Vida de Poesia vol.2 Ed.José Olympio 1957, págs.535-536
Nota: o blog manteve a ortografia original
Imagem: Pixabay
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