Até hoje Josefina não sabe explicar se foi sonho, fantasia ou realidade. No Domingo de Ramos, depoisde almoçar bem, com vinho chileno e um licorzinho final, deitou-se na rede da varanda, disposta a abandonar-se ao dia luminoso. A cabeça, os pensamentos iam e vinham, no mesmo ritmo lento e oscilante da rede; as preocupações foram esmaecendo, à medida que ela se deixava embalar. Nisso houve um barulhinho que a princípio tentou ignorar, recendo romper a lânguida quietação que a envolvia. Mas o pequeno ruido - áspero, curto, insistente - acabou invadindo-lhe o bem estar. Abriu com relutância o olho preto ( o mais esperto) e logo depois o segundo,já totalmente emersa da modorra: diante dela um coelho malhado a encarava, com a orelha direita para cima e a esquerda encolhida. Seu jeito insolente e meio c6omico não a surpreendeu,pois tudo era possível sob aquela esplêndida luminosidade de abril. O visitante parou de arranhar o mosaico com as unhas, e disse depressa, mexendo os bigodes