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Dois Poemas de Natal: Vinicius de Moraes e Fernando Pessoa

Poema de Natal

Para isso fomos feitosPara lembrar e ser lembradosPara chorar e fazer chorarPara enterrar os nossos mortosPor isso temos braços longos para os adeusesMãos para colher o que foi dadoDedos para cavar a terra
Assim será a nossa vidaUma tarde sempre a esquecerUma estrela a se apagar na trevaUm caminho entre dois túmulosPor isso precisamos velarFalar baixo, pisar leveVer a noite dormir em silêncio
Não há muito o que dizerUma canção sobre um berçoUm verso, talvez, de amorUma prece por quem se vaiMas que essa hora não esqueçaE por ela os nossos corações se deixemGraves e simples
Pois para isso fomos feitosPara a esperança no milagrePara a participação da poesiaPara ver a face da morteDe repente nunca mais esperaremosHoje a noite é jovemDa morte, apenas nascemosImensamente.
 (Música de Toquinho)


Natal

Natal… Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!


Imagem: Maud Lewis






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