Os olhos dele continham o céu do Planalto. Na Huíla, Serra da Chela, Dezembro, quando o azul mais fere. Nos olhos dela estavam gravadas suaves ondulações da estepe mongol. Tons sobre o castaño. Entremos primeiro no azul. Os continentes são convenções, apenas existem terras separadas por mares. Nos bolsos dos seres marinhos sempre há montes de terra seca. Nós desconseguimos de chegar aos bolsos aferrolhados. Na loucura do pôr do Sol, gaivotas gritam avisando rotas. Uns poucos sabem traduzir os gritos das gaivotas. Esses chegam a terra firme. Pessoas têm vidas paralelas, seguem juntas sem se cruzarem. Outras, convergentes, acabam se encontrando num canto do mundo. Explicar a razão é gesto vazio, como cabaça depois de feita a manteiga. No entanto, na cabaça de manteiga não se faz hidromel. Nem as vacas nem as abelhas deixariam. Nem só a Lua é redonda, nem só a Lua cheia é bela. Flores existem, pássaros de cores de fogo. Pessoas têm a beleza interior atribuída aos santos. Os verdadeiros, sem veneno. Ela, porém, com sua cara de Lua, era a criação mais perfeita. Ele não a amou apenas, adorou-a como uma deusa. Tinha medo de partir a louça de madrepérola, criada na rota da seda. Só lhe tocava com mãos de veludo. E, mesmo assim, tremia cada vez. Hereges existem. Tentam fazer hidromel na cabaça da manteiga. O hidromel é intragável, mas eles dizem, do alto da sua arrogância, vocês não têm bom gosto. Nem o gosto de arriscar. Ele presentia o perigo de trocar as cabaças. Felizmente, não avistava abelhas nem vacas. Alí. Afinal estavam bem perto. Manteiga não calha bem com mel, já sabíamos. No mundo da natureza. No mundo dos humanos, tudo pode calhar. Se vontade houver. E se os poderosos permitirem. Normalmente, os poderosos encolhem os hombros. Indiferentes à dor. O seu silêncio marca a eternidade da separação. A cabaça de mel quebrou, por acção da manteiga. Ou foi o contrário. Nas fábulas da vida, algumas misturas são intoleradas. Porém, com palavras doces, amigas. Maiakovski estava equivocado, As palabras não são sinos de redenção. Oh, como se repetem experiências. Uma vez e ainda mais outra. Nunca se aprende nada sobre o amor e ele é um eterno retorno ao tema das cabaças trocadas. Nem sempre, porém, a cabaça de manteiga detrói a de mel. Luares de esperança no horizonte. Eis o resultado da mistura de cabaças. Não havia monstros de duas cabeças, oma-kisi comedores de gente. Não havia estranhos rumores no vento. O mel tinha dominado a manteiga ou o contrário. Harmonia tinha sido criada. Uma criança normal era o remate do amor deles. Como não soluçar no grande silêncio da estepe? Há rostos que aparecem em combates Moscas zumbindo sobre corpos apodrecendo Ao cheiro do sangue seco. Rostos há que não são moscas Não rondam mortes sem sangue Trazem apenas melancolia e uma réstia de esperança. Assim ela lhe aparecia em combates Ternura, meiga ausência. Ele sabia, tinha o futuro enterrado. Esperava apenas pelo desespero. Alguns diriam Futuro adiado. Era pior, enterrado nas brumas. Quem arranja uma pá desenterrando brumas? Quando o futuro se tornou porta de pedraRespira fundo devagar devagar Como os grandes peixes em águas profundas. Sê tu próprio o teu respirar. Ele respirou fundo como os grandes peixes Deu voltas frenéticas nas águas profundas Respirou devagar devagar Enovelou o suspiro no espírito Rompeu de pedra a porta Ousou enfim olhar o futuro. Existia. Ele já não contemplava o futuro ao longe Ansiando por sua chegada Tinha o futuro na palma da mão e apertava-a. Nem as pombas escapam de mão bem apertada Pombas brancas, bem entendido. Fonte: Blogoteca Esse poema, que dá nome à obra, encontra-se ao longo do Nota: O blog manteve a grafia original. |
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