“Estava à toa na vida, o meu amor me chamou, pra ver a banda passar, cantando coisas de amor.” Você sorriu e cantarolou esses versos? Provavelmente possui certa idade. Músicas revelam muita coisa da nossa trajetória e idade. Por que uma música de 1966 - que não está entre as mais elaboradas de Chico Buarque - tem o poder de me fazer sorrir? Gosto dialoga com memória, sempre. Os pratos da minha infância embasam minhas afinidades afetivas com a culinária. Minha mãe seria uma sofisticada chefe de cozinha, capaz de assombrar os grandes mestres de Paris? Não, com certeza, porém os cozinheiros franceses não me serviram feijão em um prato fumegante com um sorriso na Rua São João, em São Leopoldo (RS). Se eu tivesse sido exposto a escargots à provençal na primeira infância, teria o mesmo apreço? Não sei... Na minha infância, as lesmas nunca subiam à mesa. Como aprendemos com Marcel Proust e sua cena famosa dos bolinhos Madeleine, o cheiro de uma comida evoca recordações e reconstrói memória