Esses motivos nasceram menos de uma emoção do que de uma vontade de engajamento. O jovem normalista que eu era foi muito marcado por Sartre, um condiscípulo mais velho. A Náusea e o Muro, não O Ser o O Nada, foram muito importantes na formação de meu pensamento. Sartre nos ensinou a dizer a nós mesmos: "Vocês são responsáveis enquanto indivíduos". Era uma mensagem libertária. A responsabilidade do indivíduo que não pode confiar em um poder nem em um deus. Pelo contrário, é necessário engajar-se em nome de sua responsabilidade como pessoa humana. Em 1939, quando entrei para a Escola Normal da Rua Ulm, em Paris, entrei como fervoroso discípulo do filósofo Hegel, e me inscrevi no seminário dado por Maurice Merleau-Ponty. Seus ensinamentos exploravam a experiência concreta, a do corpo e de suas relações com os sentidos, grande singular diante do plural dos sentidos. Mas meu otimismo natural, que quer que tudo o que seja desejável seja possível, me levava mais para o lado de Hegel. O hegelianismo interpreta a longa história da humidade como tendo um sentido: é a liberdade do homem progredindo etapa por etapa. A história é feita de choques sucessivos, levam-se em conta os desafios. segundo ele, a história das sociedades progride e, no fim, depois de atingir sua liberdade completa, o ser humano tem no Estado democrático sua forma ideal.
É claro que existe uma outra concepção da história. Os progressos feitos pela liberdade, a competição, a corrida para ter "sempre mais"; isso pode ser vivido como um furacão destruidor. É assim que um amigo de meu pai a apresentava, o homem que dividiu com ele a tarefa de traduzir para o alemão Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. Esse amigo era ninguém menos que o filósofo alemão Walter Benjamin. Ele havia tirado uma mensagem pessimista de um quadro do pintor suíço Paul Klee, o Angelus Novus, no qual a figura do anjo abre os braços como que para conter e afastar uma tempestade, que Benjamin identificou como o progresso. Para ele, que se suicidou em setembro de 1940 para fugir do nazismo, era o progressão irresistível de catástrofe em catástrofe.
*Vicky: estado francês dos anos 1940 a 1944, um governo fantoche de influência nazista. (N.T)
Indignai-vos! Stéphane Hessel; tradução Marli Peres - São Paulo: Leya - 2011
Págs.17-20
Imagem: Angelus Novus, Paul Klee - 1920
Aquarela,31,8 x 24,2cm - Museu de Israel, Jerusalem
Comentários
Postar um comentário
comentários ofensivos/ vocabulário de baixo calão/ propagandas não são aprovados.