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Corpo Estranho, Flora Figueiredo

Percebo um corpo estranho

a me rolar pelas entranhas.
Não sei bem onde está:
se no peito, na garganta,
se do lado esquerdo, ou do direito,
ãs vezes se acomoda,
às vezes se agiganta.
Esse corpo estranho já perdura
o tempo certo de cristalizar.
Se ele veio mesmo pra ficar,
me dê licença.
Preciso de compressa e água benta,
pois se a dor aperta, a febre aumenta,
a terra esquenta sob a trilha dos meus pés.
Quero também a bula detalhada
para não usar a sensação de forma errada,
caso isso seja um novo amor, mais uma vez.


Conheça Flora Figueiredo. Outras poesias da autora, aqui
Imagem: Templo Cultural Delfos

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