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Mostrando postagens de abril, 2020

Para Fechar o Mês de Abril, Regina Porto

     Encerrando o mês de abril, deixo aqui minhas descobertas, sugestões e recomendações, vamos lá?          Por Que É Tão Dificil Ficar Com Você Mesmo , da jornalista Suzana Valença foi a postagem que mais gostei de fazer. Agora recolhidos em casa vamos ter de olhar melhor e mais seriamente pra nós mesmos. Isso pode ser rico ou assustador.  Pense a respeito ...      Recomendo a leitura   e sugiro o blog Como Conversar Com Seres Humanos , que eu achei bem interessante.         Também adorei conhecer uma autora nova indicada por uma amiga de grupo de leitura.  Está la na postagem do dia 3: Um Pedaço de Nós , de Natascha Duarte, vale conferir.      Assisti a 2 séries completamente diferentes que me agradaram muito: A Vida E A História de Madam.C.J. Walker com a brilhante atriz Octavia Spencer   e  Anne with E com Amybeth McNulty, ambas na Netflix. A primeira tem 2 temporadas e a segunda encerrou com a terceira temporada.       Por causa do isolamento tenho ouvi

Nascido em 17 de abril: Carlos Pena Filho.

A Palavra Navegador de bruma e de incerteza, Humilde me convoco e visto audácia E te procuro em mares de silêncio Onde, precisa e límpida, resides. Frágil, sempre me perco, pois retenho Em minhas mãos desconcertados rumos E vagos instrumentos de procura Que, de longínquos, pouco me auxiliam. Por ver que és claridade e superfície, Desprendo-me do ouro do meu sangue E da ferrugem simples dos meus ossos, E te aguardo com loucos estandartes Coloridos por festas e batalhas. Aí, reúno a argúcia dos meus dedos E a precisão astuta dos meus olhos E fabrico estas rosas de alumínio Que, por serem metal, negam-se flores Mas, por não serem rosas, são mais belas Por conta do artifício que as inventa. Às vezes permaneces insolúvel Além da chuva que reveste o tempo E que alimenta o musgo das paredes Onde, serena e lúcida, te inscreves. Inútil procurar-te neste instante, Pois muito mais que um peixe és arredia Em cardumes escapas pelos dedos Deixando apenas uma promessa leve De que a

Por Que É Tão Difícil Ficar Com Você Mesmo? , Suzana Valença

Um dia eu estava tão chateada que não queria nem levantar. Acordei e, da cama mesmo, comecei a trocar mensagens com a minha amiga Bruna Cruz sobre a situação que estava me deixando estressada. Comentando sobre as pessoas ao meu redor naquela ocasião, Bruna me disse algo que voltou a fazer muito sentido agora que estamos todos em isolamento. Ela falou, “amiga, algumas pessoas não conseguem ficar consigo mesmas”. Não é verdade? Naquele dia, eu estava triste sobre algumas pessoas, aparentemente, não terem interesse em passar tempo comigo. O que minha amiga lembrou é que, muitas vezes, as dificuldades são internas, não externas. Nós não sabemos ficar com nós mesmos. Não temos paciência. Não conseguimos nos ouvir, nos entender, nos tolerar. Antes da minha amiga, outra pessoa muito inteligente transmitiu  a mesma ideia com outras palavras .  “A infelicidade de um homem começa com a incapacidade de estar a sós, consigo mesmo, num quarto” , cravou o matemático e filósofo francês  Bla

Nascido em 19 de Abril: Manuel Bandeira

AMIGO MEU , J. Guimarães Rosa, mano-velho, muito saudar! Me desculpe, mas só agora pude campear tempo para ler o romance de Riobaldo. Como que pudesse antes? Compromisso daqui, obrigação dacolá… Você sabe: a vida é um Itamarati – viver é muito dificultoso. Ao despois de depois, andaram dizendo que você tinha inventado uma língua nova e eu não gosto de língua inventada. Sempre arreneguei de esperantos e volapuques. Vai-se ver, não é língua nova nenhuma a do Riobaldo. Difícil é, às vezes. Quanta palavra do sertão! A princípio, muito aplicadamente, ia procurar a significação no dicionário. Não encontrava. Pena o título: Grande Sertão: Veredas. Nenhum dicionário dá a palavra “vereda” com o significado que você mesmo define à página 74: “Rio é só o São Francisco, o Rio do Chico. O resto pequeno é vereda.” Tinha vezes que pelo contexto eu inteligia: “ciriri dos grilos”, “gugo da juriti” etc. Mas até agora não sei, me ensine, o que é “arga”, “suscenso”, “lugugem” e um desadôr

Nascida em 19 de abril:Lygia Fagundes Telles

     O  Moço do Saxofone      Eu era chofer de caminhão e ganhava uma nota alta com um cara que fazia contrabando. Até hoje não entendo direito por que fui parar na pensão da tal madame, uma polaca que quando moça fazia a vida e depois que ficou velha inventou de abrir aquele frege-mosca. Foi o que me contou o James, um tipo que engolia giletes e que foi o meu companheiro de mesa nos dias em que trancei por lá. Tinha os pensionistas e tinha os volantes, uma corja que entrava e saía palitando os dentes, coisa que nunca suportei na minha frente. Teve até uma vez uma dona que mandei andar só porque no nosso primeiro encontro, depois de comer um sanduíche, enfiou um palitão entre os dentes e ficou de boca arreganhada de tal jeito que eu podia ver até o que o palito ia cavucando. Bom, mas eu dizia que no tal frege-mosca eu era volante. A comida, uma bela porcaria e como se não bastasse ter que engolir aquelas lavagens, tinha ainda os malditos anões se enroscando nas pernas da gente

A Visita de João Gilberto Aos Novos Baianos, Sérgio Rodrigues.

      O homem chegou num fim de tarde de sábado, tipo cinco horas. O Moraes tinha inventado aquele dia de fazer uma moqueca mas, típico, perdeu o pique e a Ritinha teve que assumir. Moqueca atrasada, todo mundo faminto e quase de porre da cerveja na barriga vazia, um táxi Opala novo e de banho tomado para na estradinha de terra e me desce um cara de terno preto carregando um violão. Eu ri. Fazia um calor de melar cocaína, quase todo mundo no banho de mangueira, neguinho de sunga, Teresa Olho de Peixe, Baby e Pepita nuns deliciosos biquínis quase teóricos, de repente me desce do táxi a porra de um coroa de terno preto carregando um violão. De olhar, só olhar, pinicava o cocoruto. O táxi engatou uma ré e sumiu. Lembro de pensar, sujou, mas não deu tempo de ir longe na paranoia porque de repente o tempo parou. Sei lá quanto tempo o tempo ficou parado. Uma pausa de mil compassos do Paulinho, alguma coisa assim. O primeiro que abriu a boca foi outro Paulinho, o nosso. Caralho, ele

A Fuga do Cativeiro Egípcio, Antonio Prata

"Pequeno pânico" talvez soe incongruente, algo como "gigantinho" ou "minifuracão", mas foi exatamente o que senti ao vê-lo próximo à esteira de bagabens, acenando. Não, não somos inimigos, longe disso. Namoramos duas primas, lá por 96 dividimos a mesa em Pessachs, Rosh Hashanahs e Yom Kippurs, na casa da avó delas. Os dois góis - ele cristão e estudante de engenharia, eu ateu e aspirante a escritor - procurávamos terrenos comuns pra escorr nosso deslocamento: eu  lhe narrava a ideia de um conto, ele dissertava sobre as maravilhas de concreto armado e, assim, ficava mais fácil equilibrar as adolescências sob aqueles quipás.  Dezoito anos e onze horas de viagem depois, contudo, às seis da manhã...      Fui empurrando o carrinho e arrastando meu pânico, pensando que seria tão mais simples se, num acordo de cavalheiros, nos ignorássemos mutuamente. Bastava monitorar o posicionamento do outro com a visão periférica e ficar de lado ou de costas, conforme a s

Felicidade No Ar, Moraes Moreira

Album:   Estados Gravadora:   Virgin Brazil Ano:   2006 Faixa:  2 - ouça aqui Desde o primeiro olhar Um forte elo entre nós Felicidade no ar Sereno, orvalho, garoa Sol da manhã notícia boa Sol da manhã notícia boa (2x) Brilha linda estrela, viva flor Seguir eu vou, seguir seu rastro Muito além está o nosso amor Além dos mapas, além dos astro La la la rarara Sempre vivi girassois,   La la la rarara Por que somos nós Somos encontro marcado As duas bandas da fruta Somos o amor sonhado O clarear da gruta Somos encontro marcado As duas bandas da fruta Somos o amor sonhado O clarear, o clarear O clarear da gruta

Porque É Tão Importante Ver As Estrelas, José Eduardo Agualusa

Esta é a história do meu amigo fortunato, que numa madrugada de pouca sorte acordou nu no corredor de um grande hotel londrino. Fortunato, alto funcionário de administração do Estado, em Luanda, tinha ido a Londres participar num encontro internacional de burocratas. Técnico competente, homem de cultura e bom gosto, incorruptível por natureza e educação, o meu amigo sofre amargamente com a situação do país e a imagem de Angola no exterior.  Ele acredita, um pouco ingenuamente, que cabe a todos os técnicos honestos a missão de melhorar essa imagem.      Nos países da Europa ocidental é fácil a qualquer funcionário manter intacta a integridade moral. O difícil, na verdade, é ser corrupto. Exige, no mínimo, alguma coragem e imaginação. Num país essencialmente corrupto acontece o inverso: um funcionário incorruptível é olhado com suspeita e revolta por toda a gente; com suspeita porque ninguém acredita na sua incorruptibilidade ("alguma coisa aquele tipo deve estar a esconder"

Nascido em 3 de abril: Thiago de Mello

A Vida Verdadeira Pois aqui está a minha vida. Pronta para ser usada. Vida que não guarda nem se esquiva, assustada. Vida sempre a serviço da vida. Para servir ao que vale a pena e o preço do amor Ainda que o gesto me doa, não encolho a mão: avanço levando um ramo de sol. Mesmo enrolada de pó, dentro da noite mais fria, a vida que vai comigo é fogo: está sempre acesa. Vem da terra dos barrancos o jeito doce e violento da minha vida: esse gosto da água negra transparente. A vida vai no meu peito, mas é quem vai me levando: tição ardente velando, girassol na escuridão. Carrego um grito que cresce Cada vez mais na garganta, cravando seu travo triste na verdade do meu canto. Canto molhado e barrento de menino do Amazonas que viu a vida crescer nos centro da terra firme. Que sabe a vinda da chuva pelo estremecer dos verdes e sabe ler os recados que chegam na asa do vento. Mas sabe também o tempo da febre e o gosto da fome. Nas águas da minha infância perdi o medo entre