Quando eu era criança os rios eram todos feitos de areia e água: quase nada mais. E tinham peixes. E serviam para o banho. Serviam também para a minha mãe lavar roupas, batendo cada peça num batedor e depois botando toda a roupa numa pedra grande para quarar. Quando eu era criança os rios tinham água de beber (isso, claro, quando nenhuma seca chegava para infernizar o Sertão) e a gente bebia aquela água com muito gosto e sem receio algum. Porque todo s os rios eram feitos de areia e água: quase nada mais. Quando eu era criança os adultos respeitavam os rios. Diziam: “Isso é uma obra de Deus”, toda vez que os rios botavam água numa correnteza tão forte que nenhum homem era capaz de vencer. E ninguém se atrevia aterrar um rio: era contra a Natureza. Quando eu era criança nenhum rio fedia. Pelo contrário: todos os rios tinham um cheiro bom. Um cheiro (é verdade) que eu nunca soube decifrar e, certa vez, perguntei ao meu avô e ele me olhou e dis