Venho perdendo a vista. Fecho o olho direito e já só enxergo sombras. Tudo me confunde. Caminho agarrada às paredes. Leio com esforço, e apenas sob a luz do sol, servindo-me de lupas cada vez mais fortes. Releio os últimos livros, os que me recuso a queimar.Andei queimando as belas vozes que me acompanharam ao longo de todos estes anos. Às vezes penso: enlouqueci. Vi, do terraço, um hipopótamo dançando na varanda do andar ao lado. Ilusão, bem sei, mas ainda assim ví-o. Pode ser fome. Tenho-me alimentado muito mal. A fraqueza, a vista a vista que se esvai, iso faz com que tropece nas letras, enquanto leio. Leio páginas tantas vezes lidas, mas elas são já outras. Erro,ao ler, e no erro, por vezes encontro incríveis acertos. No erro me encontro muito.