- Você é filha de João Cabral!
Não sou "boazinha". Isso pode ser confirmado por quem me conhece. Então, a partir do dia em que ouvi essa frase pela enésima vez, comecei a perguntar a quem a proferia:
- Qual o poema dele que você prefere?
Depois de perguntar isso, instalava-se geralmente um silêncio incômodo que me fez perceber que João Cabral era uma figura mítica, ensinado nas escolas e adotado nas provas de literatura do vestibular, mas depois esquecido e nunca mais lido, a não ser por quem fizesse letras.
Essa reação me incomodava, porque tenho certeza de que, quando ele escrevia, fazendo com que eu e meus irmãos andássemos quase na ponta dos pés e falando baixo porque "seu pai está trabalhando", ele queria ser lido e buscava, como qualquer ser humano, apreço e reconhecimento por seu trabalho, que acontecia apenas quando era lido por críticos e colegas.
Decidi então que minha missão era tornar seus poemas mais lidos e amados, e mostrar facetas menos conhecidas de sua obra. Daí esta coletânea, tomando coo tema os locais em que viveu e por onde viajou.
Aqui está uma antologia que não fala apenas dos dois grandes assuntos de João Cabral: Pernambuco, onde nasceu, e Sevilha, que o apaixonou. Afinal, ele foi diplomata, conheceu muitos lugares e escreveu sobre eles. Este livro é, portanto, um punhado de poemas desses lugares, inclusive Sevilha, entremeado com breves relatos de minha vida ao lado dele. Espero que gostem, e que esse livro os faça procurar ler suas obras maiores.
Inez Cabral
In: Neto, João Cabral de Melo, A Literatura como turismo, selecão e texto Inez Cabral, Rio de Janeiro, Alfaguara 2016, págs.7-8.
Comentários
Postar um comentário
comentários ofensivos/ vocabulário de baixo calão/ propagandas não são aprovados.