Pular para o conteúdo principal

Poema de Fim da Feira, Alceu Valença

Imagem do site Kleber Leite


A noite rendendo a tarde,
Toda Sexta é mesmo assim,
Depois do sol em declínio,
A feira chegando ao fim.
Um bêbado declama um verso
Na frente de um botequim:

É o resto,
É a sobra
É o sobejo,
É a casca
É a banana
É a calçada,
Melancólicas
Melancias
Mordiscadas.
É a feira
Que agoniza
Triturada
Bebida
Sorvida,
Deglutida,
Mastigada,
Ela vive
E agoniza
Em becos,
Praças,
Calçadas.
De manhã,
Chegou gorda
E bem faceira.
Pouco a pouco
Foi perdendo
O movimento.
virou resto,
Monturo,
Bagaceira.
Peleja da vida
Com o bicho do tempo.

In O Poeta da Madrugada, Alceu Valença.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di...

Vamos Pensar? (10)

 

Vamos pensar? (18)

Será que às vezes o melhor não é se deixar molhar?