O Barbosa sempre teve algum sucesso com mulheres. Não por beleza,
cabeça ou dinheiro, mas por gostar de dançar, o que é muito raro entre
homens. No Clube Piratininga, ele sempre dança com uma, depois com outra
e mais outra e assim vai noite adentro. No fim da noite, dançou com uma
fieira delas, nunca de mesas próximas. Além de dançar bem, ele conduz
bem e elas, assim, dançam melhor. Sentem-se melhor. Ele vai sem carro e
sempre acaba pegando carona com alguma delas.
É esse seu jeito discreto
de ser.
No final de 2009, o Barbosa foi para a Chapada dos Veadeiros em
caminhada com amigos de Brasília. Passou a noite do Ano Novo em Alto
Paraíso, vendo estrelas e esperando extraterrestres, muito comuns na
região. Na volta, em Cristalina, topou com um viveiro de plantas à beira
da estrada e encostou a picape. Ele sempre traz umas novidades de suas
viagens.
Foi andando em meio às mudas e se interessou por um arbustinho sem
vergonha. A dona do viveiro, uma morena alta, maior que ele, disse que
era patchuli. Ele nunca vira a planta patchuli. Só conhecia a essência,
os incensos, loções e perfumes, sempre associados à sensualidade.
A mulher amassou umas folhas na mão e ofereceu para ele cheirar.
Explicou que extrair a essência do patchuli era complicado, mas que ela,
por exemplo, passava sua roupa de baixo com folhas de patchuli.
Aquelas palavras fisgaram o Barbosa. Com o olho brilhando, ele seguiu
conversando até o anoitecer. Acabou ficando por lá. Quando acordou, sua
roupa já estava lavada, secando no varal. Antes do meio-dia, a mulher
passou as cuecas dele com folhas de patchuli e serviu o almoço. No que
ele fechou a mochila, ela ajeitou as mudas na caçamba e empurrou o
Barbosa pra estrada. Sabe-se lá porquê.
Foi a partir daí que ele passou a usar cuecas passadas com patchuli,
sua homenagem à goiana. Um tributo que lhe trouxe paz e serenidade. Para
seu entorno também.
No Piratininga, teve ainda mais sucesso com as mulheres, sobretudo as
maduras. Criou reputação. Todas sabiam quem era o homem do patchuli.
Que conversa e dança, vem sem carro e volta de carona.
Com o tempo, suas parceiras foram se conhecendo, conversando e, por
fim, sentavam todas na mesma mesa. Eram as sete do Barbosa. E ele ali no
meio, sempre alegre. Conversando e dançando.
Não tardou muito para os outros começarem a falar mal daquele
arranjo. As línguas ferinas diziam que ele usava as sete. Os homens
diziam que ele era usado pelas sete. Incomodava aquele jeito alegre e
divertido que os oito encontraram para viver. Talvez até por inveja,
deitaram a falar mal deles. E muito.
As sete, que em comum só tinham o Barbosa, amedrontadas foram se
espalhando pelo salão. Foram se afastando, disfarçando. Deram um gelo no
Barbosa. Uma tristeza.
O Barbosa, que gostava delas, foi perdendo a confiança. Foi minguando. Por fim, desencanou e sumiu na poeira.
Até hoje elas estão lá, à espera de um homem que converse, não
reclame, seja alegre e dance. Às vezes conversam umas com as outras e há
consenso. Se já é difícil encontrar um homem que preste, imagine sete.
Fonte: Brasileiros
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