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Mostrando postagens de agosto, 2016

Por Que Girafa Não Tem Voz? Rogério Andrade Barbosa.

  Houve   Houve uma época em que os animais da floresta falavam todos a mesma língua. A girafa gostava de se vangloriar dizendo que era a rainha dos bichos porque tinha o pescoço mais comprido. Como era mais alta que os outros, costumava ficar olhando para o céu e conversando sozinha consigo mesma. Os outros bichos logo começaram a se irritar com essa mania da girafa, especialmente na hora em que tentavam tirar uma soneca depois do almoço. Irritados, começaram a traçar um plano para silenciar a chata da girafa. O leopardo foi até a grandalhona e provocou: ___ Você fica aí contando vantagem o dia inteiro, mas tem coisas que não sabe fazer. A girafa, que era muito atrevida, gritou: ___ O que por exemplo? ___ Correr mais rápido do que eu _ desafiou o veloz leopardo. ___ Aceito _ respondeu a girafa, sem pestanejar. ___ Me avise a hora e o lugar. O dia da corrida foi logo marcado. O leopardo, certo que ia vencer, convocou todos os ani

Vento, Cecília Meireles

Passaram os ventos de agosto, levando tudo. As árvores humilhadas bateram, bateram com os ramos no chão. Voaram telhados, voaram andaimes, voaram coisas imensas; os ninhos que os homens não viram nos galhos, e uma esperança que ninguém viu, num coração. Passaram os ventos de agosto, terríveis, por dentro da noite. Em todos os sonos pisou, quebrando-os, o seu tropel. Mas, sobre a paisagem cansada da aventura excessiva - sem forma e sem eco, o sol encontrou as crianças procurando outra vez o vento para soltarem papagaios de papel.  Imagem:The White Orchart -Van Gogh - 1888  

A Mudança, Marques Rebelo.

     A mudança foi repentina! As estrelas desapareceram bruscamente da noite. Saindo não sei donde, nuvens, cada vez mais negras, amontoavam-se num canto e acabaram por tomar todo o céu. Negror. Então, veio o vento e sacudiu o ar estático , abafado, vergou as árvores, bateu janelas na vizinhança, trouxe gritos distantes para meus ouvidos inquietos. Levantou-se poeira nas ruas, rodopiou, subiu, entrou pelas persianas sujando os móveis.       Mamãe, aflita, que estava na hora da poção, chegou como uma sombra, cerrou as persianas, mas o vento era sutil e insinuando-se por frestas despercebidas, balançava da mesma forma as bambinelas.      - As bambinelas estão dizendo adeus!     Não sei como me acudiu logo o pensamento estranho: As bambinelas estão me dizendo adeus! Ou estarão me chamando?  Sim, é possível  que estejam. Mas para onde? Sinto-me fraco, uma dormência espetante como milhões de alfinetes paralisa as minhas pernas. E elas continuam a acenar: Vem!      Embala-me, mon

Não Entre Na Noite Pra Se Render, Dylan Thomas

Não entre na noite pra se render Imagem: Regina Porto Velhice é pra arder até o fim, Lute, lute para a luz não morrer. O sábio aceita bem o escurecer Mas tem palavras de luz e por fim Não entra na noite pra se render. O justo, que ao partir irá sofrer Porque não lhe coube um melhor jardim, Luta, luta para a luz não morrer. O rude que põe o sol pra correr, E vê tarde demais o que é ruim, Não entra na noite pra se render. O sério, ao pé da morte, já sem ver, Acesos os olhos, alegre enfim, Luta, luta para a luz não morrer. E você meu pai, triste de se ver, Amaldiçoe, abençoe-me assim. Não entre na noite pra se render, Lute, lute para a luz não morrer. De: Do not go gentle into that good nigth. Tradução; Jorge Pontual Dylan Thomas era um escritor inglês, leia aqui sobre ele.

Mais vendidos de 2016

O site Publishnews divulgou a lista dos 20 livros mais vendidos no Brasil até o momento. 1 - Como Eu Era Antes de Você   286.007 exemplares vendidos Jojo Moyes Ed. Intrínseca 2 - Ruah -   198.522 exemplares vendidos Padre Marcelo Ed. Principium 3-  Depois de Você - 176.040 exemplares vendidos Jojo Moyes Ed. Intrínseca 4 - Authentic Games - 114.263 exemplares vendidos Marco Túlio Ed.Astral Cultural 5 - Dois Mundos, Um Herói - 100.499 exemplares vendidos Rezende Evil Ed.Suma das Letras  6 - Philia - 92.743 exemplares vendidos Padre Marcelo Ed. Principium 7 - Muito Mais Que 5 Minutos - 90.889  exemplares vendidos Kéfera Buchmann Ed. Paralela 8 - A Coroa - 88.306  exemplares vendidos Kiera Cass Ed.Seguinte 9 - Grey - 84.380  exemplares vendidos E.L.James Ed. Intrínseca 10 - Segredos de Bel Para Meninas - 82.944  exemplares vendidos Bel/Fran Ed. única 81.162  exemplares vendidos An

Na Poesia, Carlos Drummond de Andrade.

     O Rapazinho disse à garota:      - Você precisa ter mais cultura, ouviu? Cultura. fica aí com essas milongas de Caetano, Gil e não sei que mais, e ignora os verdadeiros mestres da poesia. Já ouviu falar em Camões?      - Já. Um chato      - Rilke?      - Como é o nome dêle?      - Emily Dickinson?       - Sei lá.      - Fernando Pessoa?      - Esse é irmão da Tânia, ora.      -Viu como você é burrinha? Irmão da Tânia coisa nenhuma. Quem é a Tânia para merecer um irmão desse gabarito? Fernando Pessoa, meu anjo, é simplesmente o maior...      -Então são dois. Porque Nandinho eu conheço bem, não é de poesia.      - Podem ser mil com esse nome, nenhum chega aos pés do Fernando Pessoa de que eu estou falando.Qual, você tem jeito não.      - Então, por que você diz que gosta de mim? Procure outra que saiba de cor nomes de todos esses caras.       - Não tem nada uma coisa com a outra. Gosto de você por certos motivos. Gosto de você... até nem sei por que. M

Com Camisa, Sem Camisa, Carlos Drummond de Andrade.

Cardin consulta o Novo Testamento (um grão de cultura ajuda o talento): Imagem de Daniela Fetzner/ Terra O primeiro homem não tinha camisa, expunha o tórax ao beijo da brisa. O sol lhe imprimia uns toques bronzeados, Eva, no peito, lhe fazia agrados... Tão bacaninha! Pierre decretou: "Camisa, mes chers, agora acabou." Os camiseiros já fundem a cuca, fecham-se teares, em plena sinuca. "Olha só que pão!" exclama no cock a moça vidrada, e tenta um bitoque em cada tronco miguelangelesco em que o pêlo põe grácil arabesco. Um convidado (?) chega de repente, manda parar a prática inocente: "Um lençol! uma toalha! um guardanapo para cobrir o nu, depressa, um trapo, um jornal de domingo,bem folhudo que esconda o peito, a perna, o pé e tudo! Tem estátua pelada no salão? Mesmo em foto é demais a apelação! Nu, nem no banheiro. Tá compreendido? Melhor é ensaboar-se alguém vestido." Viste, Pierre Cardin, o que fizeste? Ante o rigor de rep

Minha Sugestão de hoje: blog da Suzana Valença

Que tal conversar com a blogueira? Nunca pensou nisso?  Pois saiba que a gente gosta e você, internauta, tem muito o que dizer, aposto.  Q uer começar? Clique aqui

Juvenal e o Entregador de Pães, Regina Ruth Rincon Caires

             O dia de Finados estava se aproximando...             Época do ano que rendia um ganho a mais para Juvenal, e que o ajudava a remendar as dívidas. Era pintor de parede, ajudante de pedreiro, enfim, era o que precisava que fosse. Pau pra toda obra! O que não lhe faltava era disposição. Homem de meia idade, sem estudo, nascido e crescido por ali. Benquisto, transitava bem entre todos os moradores da vila.             O cemitério, que ficava na saída da vila, na parte alta, podia ser visto de longe. Era imenso, todo cercado com muro de tijolos. Dentro, muito espaço. A pequena capela ficava perto do portão de entrada, e, por toda a volta, túmulos largamente espalhados. No fundo do terreno, uma área enorme, desocupada, reservada para servir aos futuros funerais por muitos e muitos anos.             Alguns jazigos eram religiosamente cuidados durante todo o ano. As famílias visitavam seus mortos semanalmente, quinzenalmente. Limpavam, podavam as plantas que cercavam

Se Eu Fosse Um Padre, Mário Quintana

Se Eu Fosse Um Padre Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões, não falaria em Deus nem no Pecado - muito menos no Anjo Rebelado e os encantos das suas seduções, não citaria santos e profetas: nada das suas celestiais promessas ou das suas terríveis maldições... Se eu fosse um padre eu citaria os poetas, Rezaria seus versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram e quem me dera que alguns fossem meus! Porque a poesia purifica a alma ... a um belo poema - ainda que de Deus se aparte - um belo poema sempre leva a Deus! Imagem do site: www.praverlerecriticar.com.br   

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Os Olhos Dela, Artur Louback

O célebre escritor Jorge Luis Borges - O Machado de Assis argentino - tem um conto meio maluco no qual conta a história de um personagem que, revirando o porão de um antigo casarão em Buenos Aires, é surpreendido por algo mágico: a revelação de um ponto que reúne todas as coisas do universo! Chama esse ponto de "O Aleph" e dedica-se, com graça e poesia, a descrever o que o personagem vê através dele.       Devo confessar que, ao ler o conto, a minha primeira reação foi questionar a parte prática da história. Da mesma forma que nunca consegui entender como o cabelo de Rapunzel crescia tanto ( o meu só cresce 12 cm por ano!), ao descobrir o tal Aleph, pensei na hora: "Mas como é isso? Um buraco na parede com um filminho passando? Um holograma projetado na poeira?". Corri para o São Google e me deram a dica: esquece a parte prática e embarca na viagem - afinal, o cara é o Maradona da literatura e, portanto, sabe o que faz.      Pois bem, livre das amarras da

Desobjeto, Manoel de Barros

Imagem: Martha Barros. O menino que era esquerdo viu no meio do quintal um pente. O pente estava próximo de não ser mais um pente. Estaria mais perto de ser uma folha dentada. Dentada um tanto que já se havia incluído no chão que nem uma pedra um caramujo um sapo. Era alguma coisa nova o pente. O chão teria comido logo um pouco de seus dentes. Camadas de areia e formigas roeram seu organismo. Se é que um pente tem organismo. O fato é que o pente estava sem costela. Não se poderia mais dizer se aquela coisa fora um pente ou um leque. As cores a chifre de que fora feito o pente deram lugar a um esverdeado musgo. Acho que os bichos do lugar mijavam muito naquele desobjeto. O fato é que o pente perdera sua personalidade. Estava encostado às raízes de uma árvore e não servia mais nem pra pentear macaco. O menino que era esquerdo e tinha cacoete pra poeta, justamente ele enxergara o pente naquele estado terminal. E o menino deu pra imaginar que o pente, naquele estado, já