Acabei de conhecer o nome de uma escritora portuguesa: Manuela Nogueira. Ela tem quase 90 anos e é sobrinha de Fernando Pessoa. Em entrevista concedida ao site da Feira Literária, Manuela Nogueira narra, com aquele jeito bem lusitano de falar,como soube da morte do tio predileto:
Fliporto:Quando morreu o seu tio, o grande poeta Fernando Pessoa, a Sra. tinha apenas dez anos de idade. Lembra-se da notícia dessa morte e qual o impacto causou em si?
Resposta: Meu tio
Fernando morreu quando eu tinha dez anos. Nesse inverno, anormalmente,
ficámos na casa do Estoril porque a casa era nova. Minha mãe (irmã de
Fernando Pessoa) fazia anos a 27 de Novembro, e ele sempre vinha aos
nossos aniversários e não apareceu e mandou um telegrama de parabéns.
Tinha havido um ciclone e estávamos sem telefone. Minha mãe que estava
imobilizada com uma perna partida ficou muito preocupada. Meu pai foi de
comboio a Lisboa e ninguém atendeu quando tocou à porta. Então meu pai
soube pelas vizinhas do lado (Tias de Jorge de Sena) que ele não
estivera bem e tinha ido para o Hospital de S. Luís acompanhado por um
amigo e um primo. Meu pai visitou-o no hospital e não parecia muito
grave (não havia meios de diagnóstico). Meu pai tornou ao hospital no
dia seguinte e o estado era estacionário. Dia 30 minha mãe recebeu a
notícia fatal e deixou-se estar deitada. Ela sempre fora, apesar de mais
nova, uma irmã protetora. Eu, pela empregada, soube da triste notícia.
Fiquei como paralisada e sem coragem para ir ter com a minha mãe. No
quintal, frente à casa, continuei a jogar “à macaca” sem parar porque
nem sabia como enfrentar outras pessoas, especialmente a minha mãe. Era
um tio que amava muito e que sempre me divertira com as suas
brincadeiras “de faz de conta”. Como encarar os meus pais?! Tinha dois
tios da parte de minha mãe que raro via porque viviam em Inglaterra e um
tio da parte paterna que era oficial de marinha e estava sempre em
viagem. Tias não tinha. Assim o Tio Fernando morria e era uma notícia
terrível. A primeira morte na minha da minha curta vida. Uma morte
inesperada.
Veja aqui a entrevista completa.
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