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Nana Pauvolih - A Rainha da Amazon Brasil, Suzana Valença



O sobrenome dela é P-a-u-v-o-l-i-h. Mas, entre os fãs, ela é conhecida só como Nana mesmo. Se você ainda não ouviu falar nela, não tem problema. Nana Pauvolih é, provavelmente, a escritora bem sucedida mais desconhecida do Brasil. Ela não está em nenhum das listas de livros mais vendidos publicadas nas revistas semanais. Mas não se engane, o território dela é outro. Nana domina as vendas de ebooks no Brasil. Na Amazon nacional ela está no topo do ranking de best-sellers e sua média de avaliação “varia” entre 5 e 5 estrelas. No universo online, Nana Pauvolih é unanimidade. Mas porque Nana Pauvolih é tão conhecida apenas no mundo literário digital? É que ela escreve livros eróticos.

Quem tem vergonha de comprar livros eróticos?


“Livros online são mais baratos, práticos, não ocupam espaço. E para quem quer ler um erótico sem mostrar à família, também fica mais fácil. São grandes as vantagens”, conta a autora. Como muitos leitores têm vergonha de comprar o livro físico (“isso está mudando”, garante Nana), ela constrói seu sucesso com ebooks. Não é de hoje que os leitores consomem as obras de Nana encobertos pela discrição da internet. As histórias sensuais de Nana, seus (muitos!) fãs e o digital têm uma relação antiga que ajudou a cimentar o caminho da escritora para se tornar rainha da Amazon Brasil em vendas de ebooks.

Antes de começar a vender os livros online, Nana publicava suas histórias (de graça mesmo) em seu blog e em plataformas especializadas como Wattpad  e WidBook. A autora conta que trabalhou bastante na divulgação de suas produções em sites de leitura. Aos poucos, o público foi descobrindo a escritora e rolou química. “Contei com a divulgação dos leitores. Na rede, se um gostar, indica para outro, faz postagem, se torna um fator multiplicador”. Chegar à Amazon foi o caminho natural, “eu percebi que podia ser profissional quando comecei a vender bem. Era um sonho se tornando realidade”. Hoje, a autora tem 12 obras à venda pela loja online e todos contam com muitas resenhas positivas dos leitores. No mundo dos livros físicos, Nana tem contrato com a Editora Rocco, que está colocando no mercado a Série Redenção, uma trilogia que já havia sido publicada online no ano passado. Ela ainda tem no currículo outra série, chamada Segredos, e outro livro, A Coleira, publicada pela editora Multifoco.

Nana Maravilhosa!


Dê uma olhada nas resenhas de leitores de Nana na Amazon e procure uma opinião negativa. Se achar, me avise. Ou jogue na Mega Sena. Na maioria das vezes, os comentários do público (mulheres, quase sempre) são elogiosos, calorosos, fanáticos. Ela é tratada por “maravilhosa”, as leitoras capricham nas exclamações (maravilhosa!!!!) e as avaliações nunca são menores do que quatro estrelas. Nana Pauvalih não divide opiniões.
Para ela, tanta empolgação das fãs é resultado da honestidade que ela emprega em sua escrita. “Eles gostam do meu trabalho. Apesar das pessoas acharem que escrevo apenas erotismo, não é isso. Eu escrevo sempre uma história diferente da outra, com enredo, com romance, com tudo que um leitor gosta, principalmente o público feminino. Não tenho “papas na língua”, ou melhor, vergonha nas pontas dos dedos. Escrevo tudo em detalhes, seja um reencontro entre pai e filho, com todas as emoções possíveis, até uma cena de sexo de várias páginas. Amo detalhes. Amo intensidade. E talvez seja isso que os leitores que avaliam amem também”.

Nana Pauvolih
“Não tenho papas na língua”. Foto: Rafaela da Gama / Editora Rocco

Comprar ou ler de graça? Os dois!


Mesmo com o sucesso de vendas, a autora continuou disponibilizando histórias gratuitas. Ela conta que mudou um pouco a estratégia de divulgação apenas no final do ano passado. “Coloquei [os livros] direto na Amazon e deixei nas outras plataformas apenas capítulos de degustação. Meus livros custam R$7,99 e R$9,99, bem acessível, para que as pessoas possam comprar”.
Este mês, a Amazon disponibilizou o conto O Senhor da Ilha. A história podia ser lida há um ano, de graça, no site da autora. Mesmo assim, a obra chegou ao primeiro lugar entre os mais vendidos da loja online. Isto quer dizer que as leitoras pagam pelas histórias de Nana, mesmo podendo as ler grátis em outra plataforma. Nem a própria Nana consegue explicar tanto sucesso. “Acho que as pessoas eu gostam do meu trabalho queiram ter o livro para ler quantas vezes quiser”.

Facebook para conversar com o público (discretamente)


A escritora conta que gosta muito de interagir com as leitoras. E mais uma vez a discrição que só a vida online permite ajuda bastante. Ela mantem um grupo secreto no Facebook com cerca de 5 mil mulheres como sua principal ferramenta online este diálogo. Nana leva em consideração a opinião das fãs (“só as dadas com respeito”), mas não deixa que terceiros pilotem suas histórias. “[Sigo] sempre minha intuição e minha imaginação. Eu me envolvo muito com as histórias e personagens. Já aconteceu de programar para escrever uma história e acabar adiando, pois outra veio tão forte que foi quase uma necessidade escrevê-la. Quase não. Totalmente. Eu simplesmente me deixo levar por elas”.

Não gostou? Vá ler outra coisa!


E as histórias de Nana são bem isso mesmo. Jogadas, simples, sinceras, sem muito apego a um estilo, uma estrutura ou a uma verossimilhança. A autora não parece ligar nem um pouquinho. Em O Senhor da Ilha, a personagem principal fica presa como escrava (sexual, claro) do protagonista. Ela não acha que essa trama pode ser considerada machista? “Poder pode, mas não me preocupo com isso. Cada um tem sua opinião. Quem não gosta, deve ler outro tipo de literatura. Há quem goste. Se eu fosse me prender ao que pensam, não escreveria nada”.
Nana é sincera em escrever o que ela quer. Ela pode até não estar sendo resenhada nas páginas de cultura da Veja, mas faz um trabalho extremamente honesto que conquistou muitas fãs fieis internet afora. “As leitoras conhecem minha trajetória, minha dedicação, meu respeito pelos leitores, fazem questão de comprar”, diz.  “Assim, escrevo por que amo, o que me dá vontade, com todo meu empenho”.

Esta matéria foi originalmente publicada e pode ser lida no Digaí.

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