Eu ando por aqui desde pequeno. E sinto que ela bota sentido
em mim. Eu acho que ela manja que fui para a escola e estou voltando agora para
revê-la. Ela não tem indiferença pelo meu passado. Eu sinto mesmo que ela me
reconhece agora, tantos anos depois, Eu sinto que ela melhora de eu ir sozinho
sobre seu corpo. De minha parte eu achei ela bem acabadinha. Sobre suas pedras agora
raramente um cavalo passeia. E quando vem
um, ela o segura com carinho. Eu sinto mesmo hoje que a estrada é
carente de pessoas e de carinho. Eu sinto mesmo hoje que a estrada é carente de
pessoas e de bichos. Emas passavam
sempre por ela esvoaçantes. Bando de caititus a atravessam para ver o rio do
outro lado. Eu estou imaginando que a estrada pensa que eu também sou como ela:
uma coisa bem esquecida. Pode ser. Nem cachorro passa mais por nós. Mas eu
ensino para ela como se deve comportar na solidão. Eu falo: deixe deixe meu
amor, tudo vai acabar. Numa boa: a gente vai desaparecendo igual quando Carlitos
vai desaparecendo no fim de uma estrada... Deixe, deixe, meu amor.
(Em: Memórias Inventadas As infâncias de Manoel de Barros - Ed. Planeta 2010)
Comentários
Postar um comentário
comentários ofensivos/ vocabulário de baixo calão/ propagandas não são aprovados.