Pular para o conteúdo principal

Valter Hugo Mãe, de volta à minha estante

Acabei de receber do volta O Filho de Mil Homens, de Valter Hugo Mãe. É sempre bom receber correspondência e se for livro melhor ainda. No meu caso ou recebo porque comprei algum livro que queria ou porque voltou às minhas mãos algum exemplar que emprestei a várias pessoas, tendo o livro saído de uma cidade para outra até voltar.


O Filho de Mil Homens me emocionou muito. Ofereci no grupo formado para leitura de escritores africanos de língua portuguesa, que denominamos Morena de Angola.O livro saiu do Recife em Março. Passou por Fortaleza, São Paulo, Goiânia,Santa Maria de Jetibá (ES), Porto Alegre e  agora está comigo vindo de João Pessoa.




Saiu de minha casa, com um bilhetinho  e voltou com vários. Janete, que recebeu de Neto, leu o livro em abril. Diz que V.H.M é apaixonante. Acrescenta que não acredita na libertação do autor em relação a seu mentor, Saramago. No próximo ano vou na casa de Janete. A Tânia, em Maio, diz que a leitura flui verdades com delicadeza. Suzie acha que o autor consegue ser duro e triste sem ser cruel, ressalta que o amor, sob a ótica de Valter Hugo Mãe, não olha diferenças, escreveu num bilhetinho em junho; Marilda diz ter gostado muito e me convida a conhecer a cidade onde mora, escreveu essa declaração num belo cartão no mês de novembro. Por fim, já no mês de dezembro Amanda diz ter gostado do livro e me manda um cartãozinho de natal junto com o livro que terminou a trajeto.

Ah, ainda dentro do livro alguém esqueceu um papel que nada tem a ver com Valter Hugo.   Enfim, no postal de POA e no convite para conhecer Goiânia vieram o
orgulho de ser gaucha e o carinho por Cora Coralina, retratado no cartão; No cartãozinho de Natal com letrinha caprichada veio a delicadeza da paraibana minha vizinha, no bilhetinho cearense o amor declarado à cidade do Recife e na folhinha amarela com enfeite clássico veio a sobriedade e delicadeza paulista. Cada um pôs um pouco  de si pra trazer de volta o gato angolano Valter Hugo Mãe à minha estante. Estou feliz. 


Beijo bem frevado em cada uma de vocês. Até a próxima.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di

Mãe É Quem Fica, Bruna Estrela

           Mãe é quem fica. Depois que todos vão. Depois que a luz apaga. Depois que todos dormem. Mãe fica.      Às vezes não fica em presença física. Mas mãe sempre fica. Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. Uma parte sempre fica.      Fica neles. Se eles comeram. Se dormiram na hora certa. Se brincaram como deveriam. Se a professora da escola é gentil. Se o amiguinho parou de bater. Se o pai lembrou de dar o remédio.      Mãe fica. Fica entalada no escorregador do espaço kids, pra brincar com a cria. Fica espremida no canto da cama de madrugada pra se certificar que a tosse melhorou. Fica com o resto da comida do filho, pra não perder mais tempo cozinhando.      É quando a gente fica que nasce a mãe. Na presença inteira. No olhar atento. Nos braços que embalam. No colo que acolhe.      Mãe é quem fica. Quando o chão some sob os pés. Quando todo mundo vai embora.      Quando as certezas se desfazem. Mãe

Aprenda a Chamar a Polícia, Luis Fernando Veríssimo

          Eu tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa. Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro.                   Como minha casa era muito segura, com  grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali,espiando tranquilamente. Liguei baixinho para a polícia, informei a situação e o meu endereço. Perguntaram- me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa.            Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível. Um minuto depois liguei de novo e disse com a voz calma: - Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro da escopeta calibre 12, que tenho guard