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Mostrando postagens de julho, 2013

Poesia Para o Depois, Janete Barros

Imagem do Google ...de preferência que seja declamada Em alto e bom tom,com platéia e tudo. Isso mesmo! Quero que cause espanto e dor, mal e bem estar, isso vai depender da consciência de cada um que fiz, do primogênito ao temporão (os que não fiz foram poupados). A morte é irremediável... E depois nem as mais doces lágrimas, nem o mais longo pranto... Não ouvirei lamentos, não verei olhos vermelhos. ...minhas mãos estarão empalmadas (na melhor das hipóteses). Nada mais tocarei. Nem o mais tenro lábio... Minha voz estridente não repercutirá mais nada. Não consolarei ninguém! E assim, na lápide fria ficará para sempre gravado (nada é para sempre) o dia que nasci e o dia que o mundo acabou para mim. Quem disse que o mundo não acaba?! E depois para completar o círculo perfeito que rege o mundo, os vermes tomarão conta de tudo, e meu corpo servirá unicamente para alimentá-los... quiçá alguma árvore frutífera... Um jambo que seja, doce e

Crônica cantada: Salve-se Quem Puder

Salve-se Quem Puder Dominguinhos e Fausto Nilo A gente faz o amor Só não desfaz o rancor Não chore se eu disser Você não quis quando eu quis Agora quer ser feliz Do jeito que o diabo quer Eu já cansei de esperar Olhando o tempo passar Não quero mais sofrer Agora já é depois Sorrimos juntos nós dois Podemos esquecer Indecisão nunca mais O tempo não satisfaz A quem não sabe o que quer Você foi tudo, meu Deus Mas seu demônio sou eu E salve-se quem puder

Uma Janela, Um Voo Para Paris, Carmem Vieira

Espero o voo para Paris e de repente o telefone toca. É minha filha a avisar que assim que chegasse iríamos fazer uma turnê. Ela, o marido, os sogros e um amigo.      -Mãe, aquele da foto que lhe mostrei, o viúvo da universidade. Lembra-se?      Imensas as janelas, permitindo o olhar curioso. Admirava-o a escrever. Sempre uma garrafa d'água, um copo. Tardes contínuas, caminho para ir e voltar da aula de inglês, da ginástica, do vôlei, esperança nutrida por anos de que aqueles olhos vissem o meu. Nada. Nunca. Mudaram-se todos. Mudamo-nos. "Essa casa é grande demais para pouca gente. Você daqui a pouco se forma, seu irmão casa,seu pai sempre na rua. Tenho que e cuidar".      A vida continuou, a roda-viva nos fez cada vez mais distantes e na lembrança o primeiro despertar daquele menino que julgava belo e a quem todos os olhos meus convergiam.      Tudo isso chegou-me quando vi minha filha subir ao altar com o rapaz que conhecera durante o curso no exterior e c

Poema 20, Pablo Neruda

Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Escultura de Abelardo da Hora. Imagem:Regina Porto Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros, ao longe". O vento da noite gira no céu e canta. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Eu a quis, e às vezes ela também me quis... Em noites como esta eu a tive entre os meus braços. A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito. Ela me quis, às vezes eu também a queria. Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi. Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela. E o verso cai na alma como na relva o orvalho. Que importa que meu amor não pudesse guardá-la. A noite está estrelada e ela não está comigo. Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. Minha alma não se contenta com tê-la perdido. Como para aproximá-la meu olhar a procura. Meu coração a procura, e ela não está c

Crônica cantada: Duas Polegadas.

Outro dia ouvindo Eduardo Dusek cantar uma marchinha de carnaval, fiquei pensando que aquelas músicas  contavam a história do país. De forma irreverente os cariocas riam da sociedade da época, da moda, e da política. Cronicava-se com notas musicais e as marchinhas, lançadas pelo radio e cinema, tomavam conta do país. Eram sucesso garantido. Nos anos 50 e 60, concursos de miss eram esperados e assistidos com a mesma alegria que jogos de futebol. Ouvi recentemente uma marchinha relativa  a um ícone: Marta Rocha. Hoje muita gente não sabe quem é essa Marta que nomeia algumas ruas no Brasil.  A  baiana, completará 77 anos em setembro. A bela miss Brasil de olhos verdes, não saiu vencedora do concurso miss universo de 1954. Foi a segunda colocada, mas voltou para o Brasil ovacionada. O jornalista brasileiro João Martins da Revista O Cruzeiro, inventou (com a coninvência da miss) que ouviu um jurado americano dizer que a bela Martha Rocha tinha 2 polegadas (aprox.5 cm) a mais nos quadris.

Solidão No Fundo da Agulha, lançamento do livro.

     Fui para o lançamento, em Recife, do mais novo livro de   Ignácio de Loyola Brandão .       Cheguei bem mais cedo só para me dar o prazer de perambular sem ter noção alguma de onde estou dentro Shopping RioMar. Não acerto sair por onde entrei, nunca  sei  se estou no L2 ou L3! Nenhum problema: se tenho pressa olho o mapa, se não tenho me deixo perambular.      Foi  o que fiz desta vez até comprar o livro ( a livraria no mapa), daí não resisti e comecei a ler.     A quase biografia de Ignácio Loyola é uma obra de arte!!  Sabe aquela situação em que você ouve uma musica e diz: pôxa! Eu morava na R. das Algas e quando ia, na rede esticada no terraço, ninar meus filhos sempre tinha alguém ouvindo Anunciação, de Alceu Valença...?? Pois bem, todo o livro é assim um pouco de fatos da vida do autor em que uma determinada música se fez muito fortemente presente a ponto de ser lembrada anos depois.        No teatro da Livraria Cultura, Loyola Brandão conta que alguns fatos na verd

O Auto do Frade, Livro e Filme , Pai e Filha

Frei Caneca       Não conheço toda a obra de João Cabral de Melo Neto . Falar a verdade não conheço a de ninguém e vivo em débito com as leituras. A inflação de bons livros e autores sempre vai me deixar devendo. Uma pena!  Falo isso porque nem lí o livro O Auto do Frade ,do autor pernambucano, e já vem por aí o filme feito por Inez Cabral.  O Auto do Frade é uma poesia que João Cabral de Melo Neto fez contando a história dos últimos momentos de Frei Caneca . O autor dizia que o país era ingrato com o religioso e político Frei Caneca. Para ele o Brasil havia esquecido a Confederação do Equador e a Revolução Pernambucana, lideradas por Frei Caneca.  De tanto reclamar e dizer à filha que se soubesse faria um filme a respeito do frade, Inez Cabral acabou por realizar o desejo do pai.      O projeto do filme que terá distribuição gratuita  recebeu aprovação da Lei  Rouanet. Inez Cabral (imagem ao lado) conta que usará figurantes locais para as cenas de rua filmadas no Re

Auto-Retrato, Mário Quintana

Imagem: desejo de criança, sem a correção de um louco No retrato que me faço - traço a traço - Às vezes me pinto nuvem, Às vezes me pinto árvore... Às vezes me pinto coisas De que nem há mais lembrança... Ou coisas que não existem Mas que um dia existirão... E, desta lida, em que busco - pouco a pouco - Minha eterna semelhança, No final, que restará? Um desejo de criança... Corrigido por um louco!  

A Arte Virou Bobagem - Ferreira Gullar

Entrevista concedida à jornalista Luiza Maia e originalmente publicada no Diário de Pernambuco em 10.07.2013 Qual a sua opinião sobre os protestos recentes? Eu acho que é uma coisa muito importante, que o povo tenha finalmente despertado. Na crônica que escrevo (para o jornal Folha de S.Paulo), falava sobre o fato de ninguém protestar. Parece todo mundo indiferente à corrupção, às coisas mais absurdas. O Congresso é uma vergonha. A PEC 37 é uma coisa evidentemente feita para anular a ação do Ministério Público, porque é uma ameaça aos corruptos. E isso iria ser aprovado, porque é do interesse deles. Com esse movimento, eles recuaram. O que o senhor achou dos pronunciamentos de Dilma Rousseff? Um oportunismo. Primeiro, ela falou como se fizesse parte do protesto, não como se fosse um dos alvos. “Vamos fazer um plebiscito, realmente é preciso combater a corrupção”. Mas a corrupção vergonha está aí desde o mensalão e eles tomam medidas para impedir que a punição seja levada a cabo. A

Livro Errante Em Banco de Praça

      Desde 2008, faço, com um grupo de amigos leitores viciados, o abandono de livro em local público. Nossa intenção é fazer o livro ser lido por mais de uma pessoa.      Hoje deixei quatro exemplares na Praça Eça de Queiroz, no bairro da Torre no Recife. É uma pracinha, relativamente bem cuidada e muito frequentada.      Lá vi o que não vejo há muitos anos: alguém lendo sentado num banco. O busto de Eça de Queiroz, é uma obra de Abelardo da Hora   Deixei um livro de Lucila Nogueira : Refletores - são belas poesias; Ricardo Ramos , um dos filhos de Graciliano Ramos: Amantes Iluminados .    Em outro banco da praça ficaram: A Universidade do Ponte de Cem Réis (acabei de esquecer o autor)  e Moll Flanders , um romance inglês de Daniel Defoe. Embalei em papel filme os quatro exemplares, deixando visível um aviso: Pode levar, o livro é seu.   Outros livros vão ser deixados por ai.  Informo depois.   Aproveito pra fazer um convite a quem deixa livro guarda

Os Tímidos Se Anulam, Antonio Falcão.

     A bibliotecária conheceu o jornalista estrangeiro na internet. Mas só bem depois, em conta-gotas, soube que ele era aposentado e viúvo. Com indizível acanhamento, o tal também quis conhecê-la. “Sou divorciada, tenho filhos que me deram netos e me aposentarei o ano que vem para visitar o mundo, inclusive seu país”, disse a fórceps a retraída. Decorrido uns meses, os dois trocaram fotos e o viúvo, mais à vontade, revelou que publicara um romance e um livro de ensaios. As obras foram remetidas ao acervo da biblioteca onde a divorciada trabalha. E ela, sem dificuldade para ler em espanhol, devorou os livros de um fôlego e com enorme prazer.       Mais adiante, o estrangeiro disse que escrevera alguns contos para em breve editá-los. E como exemplo enviou um deles por e-mail, pedindo que ela opinasse sobre a qualidade literária. O texto narra que um homem e uma mulher se conhecem jogando cartas e que, surrealmente insuflados por valetes, damas e reis do baralho, tornam-se

Identidade, Mia Couto

  Preciso ser um outro para ser eu mesmo o auto-diálogo Sou grão de rocha sou o vento que a desgasta e areia sustentando o heterodiálogo o sexo das árvores Existo, assim, onde me desconheço aguardando pelo meu passado receando a esperança do futuro No mundo que combato o diá do logos morro no mundo porque luto nasço.

Mia Couto Aniversaria Hoje.

Mia Couto. Imagem de:Luna Markman      Tive a felicidade de conhecer Mia Couto , numa palestra na UFPE e ainda neste mês vou ler seu ultimo livro A Confissão da Leoa (Cia das letras). Sobre ele já se escreveu bastante, vim aqui apenas parabeniza-lo. Mesmo sabendo que quem deve ser parabenizado são seus leitores pela sorte de ter seus livros, deixo meu abraço ao embaixador de Moçambique.      Estou torcendo que Mia Couto venha para a Fliporto deste ano. As primeiras luzes do dia começavam a despertar: não tardava que se pudesse circular dentro de casa sem ajuda de lamparina. Por cima do armário, o candeeiro a petróleo, o xipefo, ainda tremeluzia. De repente, Hanifa voltou a sentir a doce ilusão de ter uma lua na cozinha. Já que não lhe coubera o sol, restava-lhe um teto enluarado.( A Confissão da leoa - pagina 23)

A Passeata do Endireita Já, José Teles

Eu fui à passeata do "Endireita Já". Quer dizer, enquanto ela ia, eu vinha. Sei que tá confuso, minha senhora. Tipo assim. O pessoal voltava de onde terminou a passeata, enquanto eu ia, no sentido contrário, à caça de um táxi ou busão. Ainda procurei abrigo na Mamede Simões, mas parte dos bares fechou e os outros ficaram entupidos de manifestantes. Parafraseando Drummond, quando nasci um anjo torto, destes que vivem na praia, levando o maior sol disse: "Vai, Zé, ser gauche na vida". Pra que os que querem um Brasil melhor não considerassem que eu, por trafegar no sentido inverso ao deles, estivesse a fim de um Brasil pior, afastei-me da turba. Arrisquei um táxi ali perto da Praça Maciel Pinheiro.      Não tinha táxi. Talvez porque a Praça Maciel Pinheiro seja muito famosa entre o pessoal do Facebook. Clarice Lispector morou ali perto. Clarice é um dos nomes mais citados, comentados e transcritos no Facebook. Tem perdido ultimamente pra aquele deputado que

Viagem, Lucila Nogueira

Imagem Wikipedia   Não há caminho que divida a sua origem. Nem há parada, se a viagem é pelo sangue. Essa raiz a cada gesto não reprime a chama alada em meus olhos se desdobra Sempre é mais forte que horizontes um destino Sempre selvagem a dor da vida, a dor da morte Esse rochedo a cada onda não define a espera infinda de um farol dentro da noite. (Em: Bastidores ,Ed.Bagaço 2002)