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O Meu Brinquedo Preferido,Cleômenes Campos

Cada um de nós, teve, na infância,
O seu brinquedo preferido.

Eu nunca me apartei, sequer, por um momento,
De um grande papagaio ágil e colorido,
Amigo do alto como o pensamento.

O meu maior prazer era vê-lo a distância,
Balouçando-se todo, ao capricho do vento...


De manhã, quando o sol diàfanamente louro
Como um etranho papagaio de ouro
Ruborecendo o céu aparecia,
Meu coração pulava de alegria,
E eu pulava no chão, como êle no meu peito,
Da mesma forma satisfeito,
Pois ia ter um belo dia.
Sobraçava-o depressa e ao fazê-lo
Corria:
O vento despenteando-me o cabelo
Penteava-o como bem lhe parecia...

Empinava-o então: esgotava o novêlo
(O meu novêlo enorme), e esquecia-me a vê-lo

Ora calmo, ora aflito,
Quase roçando as nuvens silenciosas,
Feitas das painas vaporosas,
Destas paineiras que há por detrás do infinito.

Sendo muito mais longo que meu braço,
E mais largo talvez do que minha jaqueta,
Várias vêzes subia a tal ponto no espaço,
Que dava a idéia de ums simples borboleta,
Que se imobilizasse de cansaço...

E eu perguntava, olhando-o além das serra,
E das árvores altas admirado:
"Quantas terras, meu Deus! assim tão fastado
Não deve ver meu papagaio agora?
Quando verei essa porção de terras?
Devem ser lindas!...
E quedava-me calado.

Hoje se reproduz perfeitamente
A mesma cena, sempre que me abstraio:
Meu espírito sobe indefinidamente,
Sobe bem mais do que o meu papagaio.
E eu pergunto depois, quando êle me procura:

"Que terras viu meu espírito na altura?
Quando as verei? Devem ser lindas!..."
E me abstraio
De nôvo, e êle demanda o além tão suavemente,
Que penso ter nas mãos um outro papagaio...

Vamos aprender?
Este poema está com acentuação original. À época em que foi escrito as palavras novo, ele, vezes e novelo, usadas no texto levavam acento circunflexo. 
Palavras que originalmente tivessem acento agudo, quando flexionadas passariam a ter crase. No poema: diàfanamente - diáfano.  Outros exemplos: Café - cafèzinho; Só - sòzinho.

Vamos conhecer o autor?
Cleômenes Campos: nasceu em Sergipe em 1897.  É autor de: Coração Encantado; De Mãos Postas; Humildade e Zabelê.

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