A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di...
Regina, Millôr vai fazer muita falta, com sua inteligência e humor pivilegiados.
ResponderExcluirSe já o admirava pelo seus múltiplos talentos, passei a admirá-lo ainda mais quando recusou-se a receber a bolsa-ditadura. Ao saber que Ziraldo e Jaguar, seus companheiros de "O Pasquim" receberiam a bolsa, disse:
“Não era ideologia, era investimento”. Uma frase do Millôr sempre diz tudo.
Acabo de ver, infelizmente em parte,entrevista que concedeu a Maria Beltrão, da Globo News em 1975. Ele disse nunca ter tido ideologia. Por que ideologia é uma coisa limitante.
ResponderExcluir"Eu sou um pensador marxista. Não é pensador coisa nenhuma. Ninguém pode ficar limitado pra pensar." Descobrimos, então vc e eu, que Millor era exceção também nisso: não era um oportunista, como demonstraram ser vários de seus contemporâneos...
Abraço,
Regina