CADERNO DE TELEFONES
Nicole lembra que o pequeno volume com as entrevistas a acompanhou, como se indicasse a possibilidade de se tornar algo importante em sua vida. “O livro sempre esteve por perto. Lembro que o peguei por causa do Tarcísio Meira: queria ler a entrevista que ele tinha dado para minha tia. Eu era muito fã dele por causa das novelas”, conta. Anos mais tarde, depois da morte da tia Elisa Lispector, “que era a arquivista da família”, a caderneta de telefones de Clarice passou para as mãos de Nicole. “Esse caderno de telefones foi a minha inspiração, porque lá estavam os nomes e telefones de muitos amigos da Clarice. Tinha o telefone do Ziembinski, da Bethânia, da Maria Bonomi, da Tônia Carrero e de muitos outros. Ele me acompanhou durante toda a produção do filme”, relata a diretora.
Nicole Algranti destaca que sua empresa, a Taboca Filmes, não faz só cinema. Trabalha desde 1994 com populações indígenas do Acre, gravando discos de povos da floresta. A diretora ministra aulas de cinema para as populações da região e organiza com sua produtora projeto ligado à Universidade de Oxford, levando literatura, música e cinema brasileiro para a Inglaterra. Atualmente, está em fase de produção de espetáculo inédito de Ferreira Gullar, Romance nordestino, que fará parte das comemorações dos 80 anos do poeta. “O projeto nasceu exatamente no dia em que fomos entrevistar o Ferreira Gullar para o De corpo inteiro”, conta Nicole Algranti.
Sobre a recente biografia de Clarice Lispector, de autoria do norte-americano Benjamin Moser, lançada no Brasil pela Editora Cosac & Naify, Nicole é diplomática: “O Benjamin fez um trabalho muito árduo, foi fundo na história dos judeus na Rússia, mas deu uns sustos na minha família também. Falou coisas que a gente nunca tinha ouvido e nem tudo eu concordo, mas deixo para os leitores a avaliação”, conclui.
TRÊS PERGUNTAS PARA NICOLE ALGRANTI
Por que a escolha pelas entrevistas e pelo trabalho jornalístico de Clarice Lispector, em vez de buscar algum texto mais confessional ou de ficção?
Conhecei, numa tarde na Confeitaria Colombo, a doutora Claire Williams, da Universidade de Liverpool, que veio ao Brasil pesquisar as entrevistas inéditas da escritora, como a da Elke Maravilha. E ela organizou o livro Entrevistas, lançado pela Rocco. Com o livro nas mãos, enxerguei o roteiro na hora. Aí fui buscar a primeira edição do De corpo inteiro, que tinha ao lado do caderno de telefones. O filme já escorria pelas minhas mãos. Aí resolvi fazer dele imagem, som, música, cor, preto e branco, enfim, várias possibilidades que o livro me trouxe. Acho superconfessional, só que a Clarice fala de si mesma de forma homeopática. Em cada entrevista ela vai se revelando um pouquinho.
Você é sobrinha-neta da escritora. Como a memória de Clarice habita sua vida e a de sua família?
Clarice para mim faz parte da história da minha família, irmã da minha avô Tania – que foi a pessoa mais importante da minha vida –, irmã da minha tia Elisa, que me falou histórias tão importantes sobre a Rússia e da nossa família que vivia lá. Clarice faz parte da minha infância, do meu nascimento. Nasci antes do tempo, porque minha mãe foi ficar com Clarice no hospital. Ela havia se queimado e já estava na sétima operação, a anestesia nem fazia mais efeito, ela morria de dores. Mamãe estava de oito meses. Quando mamãe deixou o hospital, impressionada com as dores da tia Clarice, ela desmaiou na Rua Figueiredo de Magalhães e eu nasci no dia seguinte, antes do tempo.
Que lições Clarice tem a oferecer para o jornalismo atual, muito marcado pela superficialidade?
Clarice buscava respostas maiores do que o cotidiano das pessoas apresentava. Porque as respostas nem sempre estavam nos entrevistados, às vezes estava dentro da própria Clarice. Até os jornalistas hoje precisam buscar dentro de si mesmos as respostas que perguntam aos outros. As lições são de ser humano, não havia técnica, apenas Clarice mantinha uma verdadeira ternura para com seus entrevistados.
DE CORPO INTEIRO – ENTREVISTAS
Direção, roteiro e produção de Nicole Algranti
Taboca Filmes, 67 minutos. Extras (18 minutos): Making of e curta-metragem O ovo, com narração de Maria Bethânia
(Do jornal UAI, Belo Horizonte - MG)
Nicole lembra que o pequeno volume com as entrevistas a acompanhou, como se indicasse a possibilidade de se tornar algo importante em sua vida. “O livro sempre esteve por perto. Lembro que o peguei por causa do Tarcísio Meira: queria ler a entrevista que ele tinha dado para minha tia. Eu era muito fã dele por causa das novelas”, conta. Anos mais tarde, depois da morte da tia Elisa Lispector, “que era a arquivista da família”, a caderneta de telefones de Clarice passou para as mãos de Nicole. “Esse caderno de telefones foi a minha inspiração, porque lá estavam os nomes e telefones de muitos amigos da Clarice. Tinha o telefone do Ziembinski, da Bethânia, da Maria Bonomi, da Tônia Carrero e de muitos outros. Ele me acompanhou durante toda a produção do filme”, relata a diretora.
Nicole Algranti destaca que sua empresa, a Taboca Filmes, não faz só cinema. Trabalha desde 1994 com populações indígenas do Acre, gravando discos de povos da floresta. A diretora ministra aulas de cinema para as populações da região e organiza com sua produtora projeto ligado à Universidade de Oxford, levando literatura, música e cinema brasileiro para a Inglaterra. Atualmente, está em fase de produção de espetáculo inédito de Ferreira Gullar, Romance nordestino, que fará parte das comemorações dos 80 anos do poeta. “O projeto nasceu exatamente no dia em que fomos entrevistar o Ferreira Gullar para o De corpo inteiro”, conta Nicole Algranti.
Sobre a recente biografia de Clarice Lispector, de autoria do norte-americano Benjamin Moser, lançada no Brasil pela Editora Cosac & Naify, Nicole é diplomática: “O Benjamin fez um trabalho muito árduo, foi fundo na história dos judeus na Rússia, mas deu uns sustos na minha família também. Falou coisas que a gente nunca tinha ouvido e nem tudo eu concordo, mas deixo para os leitores a avaliação”, conclui.
TRÊS PERGUNTAS PARA NICOLE ALGRANTI
Por que a escolha pelas entrevistas e pelo trabalho jornalístico de Clarice Lispector, em vez de buscar algum texto mais confessional ou de ficção?
Conhecei, numa tarde na Confeitaria Colombo, a doutora Claire Williams, da Universidade de Liverpool, que veio ao Brasil pesquisar as entrevistas inéditas da escritora, como a da Elke Maravilha. E ela organizou o livro Entrevistas, lançado pela Rocco. Com o livro nas mãos, enxerguei o roteiro na hora. Aí fui buscar a primeira edição do De corpo inteiro, que tinha ao lado do caderno de telefones. O filme já escorria pelas minhas mãos. Aí resolvi fazer dele imagem, som, música, cor, preto e branco, enfim, várias possibilidades que o livro me trouxe. Acho superconfessional, só que a Clarice fala de si mesma de forma homeopática. Em cada entrevista ela vai se revelando um pouquinho.
Você é sobrinha-neta da escritora. Como a memória de Clarice habita sua vida e a de sua família?
Clarice para mim faz parte da história da minha família, irmã da minha avô Tania – que foi a pessoa mais importante da minha vida –, irmã da minha tia Elisa, que me falou histórias tão importantes sobre a Rússia e da nossa família que vivia lá. Clarice faz parte da minha infância, do meu nascimento. Nasci antes do tempo, porque minha mãe foi ficar com Clarice no hospital. Ela havia se queimado e já estava na sétima operação, a anestesia nem fazia mais efeito, ela morria de dores. Mamãe estava de oito meses. Quando mamãe deixou o hospital, impressionada com as dores da tia Clarice, ela desmaiou na Rua Figueiredo de Magalhães e eu nasci no dia seguinte, antes do tempo.
Que lições Clarice tem a oferecer para o jornalismo atual, muito marcado pela superficialidade?
Clarice buscava respostas maiores do que o cotidiano das pessoas apresentava. Porque as respostas nem sempre estavam nos entrevistados, às vezes estava dentro da própria Clarice. Até os jornalistas hoje precisam buscar dentro de si mesmos as respostas que perguntam aos outros. As lições são de ser humano, não havia técnica, apenas Clarice mantinha uma verdadeira ternura para com seus entrevistados.
DE CORPO INTEIRO – ENTREVISTAS
Direção, roteiro e produção de Nicole Algranti
Taboca Filmes, 67 minutos. Extras (18 minutos): Making of e curta-metragem O ovo, com narração de Maria Bethânia
(Do jornal UAI, Belo Horizonte - MG)
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