Pular para o conteúdo principal

O Olho da Rua, Eliane Brum


     Terminei ontem um dos mais belos livros que já pude ler:  Olho da Rua, uma repórter em  busca da literatura da vida real.
     Não  conhecia a autora, posto  que desde há algum tempo não leio a revista Época onde Eliane Brum publicou as matérias que pôs no livro. Agora que li admito  que minha ignorância sobre ela é imperdoável.
O Olho da Rua, traz matérias feitas do cotidiano mais esquecido, diverso em  assunto  e localização, mais pungentemente brasileiro.  A autora diz que  não  sai a mesma de nenhum daqueles momentos e talvez não saiba que o leitor também não fica imune a seu livro. 
O Olho da Rua conta histórias, como  a de Hustene, migrante nordestino em  São Paulo cuja dignidade entristece por ser minoritária mas, ao mesmo tempo, dá esperança a quem, como  eu, supunha já não haver mais quem  tivesse vergonha de não produzir.  Hustene envergonha-se de não poder pagar dívidas num país onde essa atitude já é considerada bobagem. Hustene também se recusa a receber bolsa-família  já que, não produzindo nada para o país,  estaria esmolando.  
Imigrante nordestino  em São Paulo existem aos milhões, claro. A Terra do Meio , no  estado  do Pará, já  foi alvo  de reportagens; As mães de  meninos do tráfico também  já estiveram  até  sob lentes de cinegrafistas.  A diferença está no olho que Eliane Brum pos n'O Olho da Rua, seu último livro  editado pela Ed.Globo.  Uma aula bem  dada de belíssimo  jornalismo. O livro é, de capa a capa, um  show completo. A escolha das matérias, o apuro com  que foram feitas, as fotografias-obras-de-arte, os comentários sinceros e contundentes da autora sobre cada situação, incluindo seus erros. Tudo, escrito maravilhosamente bem.
É um livro imperdível.  Não  tendo a oportunidade de conhecê-la pessoalmente, parabenizo, daqui, Eliane Brum, por livro  tão necessário. Formidável de ponta a ponta.

Serviço:
Páginas: 424, brochura.

Outros livros da autora:
Coluna Prestes, o avesso da lenda (1994 - Artes e ofícios) Esgotado na Editora
A Vida Que Ninguém Vê (2006 -Arquipélago  editorial)
Uma,Duas ( 2011 - Leya Brasil)

Comentários

  1. Boa dica! Vou comprar assim que terminar de ler "Caim" de Jose Saramago.

    ResponderExcluir
  2. Bom dia caro Rodrigues,
    É realmente um livro comovente. Ainda não lí Caim, mas está na minha fila.
    Obrigada pela participação,
    abraço
    Regina

    ResponderExcluir

Postar um comentário

comentários ofensivos/ vocabulário de baixo calão/ propagandas não são aprovados.

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di...

Vamos pensar? (18)

Será que às vezes o melhor não é se deixar molhar?  

Até Breve!!

  Volto no dia 10/1