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Mostrando postagens de maio, 2025

Vida Besta, charge de Galvão Bertazi

 

Liberta-te! Poema de Paulina Chiziane

  I Desperta! Lava os olhos no banho da liberdade Busca as tuas pegadas nas frias cinzas da História Regressar às raízes é isto: percorrer caminhos sinuosos Até descobrir o teu brilho no espelho do mundo As campanhas coloniais colocaram-te uma venda nos olhos Resiste. Não te deixes apagar e luta com o que te ofusca Reconhece-te. Estás presente em todas as maravilhas do mundo. A maior intenção da escravatura era esta Reduzir-te. Animalizar-te. Diabolizar-te O interesse do colonialismo, racismo, era este Apagar-te para que nunca te levantes do chão Reconheça-te, africano, nas religiões que dominam o mundo Na riqueza do mundo. Nas matérias-primas de todas as tecnologias Mata os fantasmas e anula o estigma com que te descrevem Que determinava a raça de Deus e o espaço geográfico da sabedoria. II Regressa às raízes e descobre-te. estuda-te Quantos escravos foram vendidos e para onde foram? Não sabes? E por que não procuras saber? Espera que os agressores te deem informação? E como te da...

Vamos Pensar? Ngugi wa Thiong'o

  A condição das mulheres em uma nação é a verdadeira medida do seu progresso. Ngugi wa Thiong'o O recém falecido escritor queniano Ngugi wa Thiong'o diz que a forma como vivem as mulheres num pais, mostra o nível de progresso dessa nação.   e se a gente sabe que progresso não  é unicamente crescimento de indústria e comércio, dá para pensar se e o quanto o Brasil progrediu?  

Dançar, Paulina Chiziane

  "Dançar. Dançar a derrota do meu adversário. Dançar na festa do meu aniversário. Dançar sobre a coragem do inimigo. Dançar no funeral do ente querido. Dançar à volta da fogueira na véspera do grande combate. Dançar é orar. Eu também quero dançar. A vida é uma grande dança." Conheça Paulina Chiziane: Proverbio, o poder da palavra Leia Paulina Chiziane: Balada de Amor ao Vento O Alegre Canto da Perdiz Niketche Ventos do Apocalipse O Canto As Andorinhas

Uma Crônica, Uma História, Um Conto... Sebastião Salgado

 Raro talento, Sebastião Salgado contou histórias fotografando mundo a fora com olhar crítico e ao mesmo tempo poético.  Mostrou o Brasil aos brasileiros. Foi um ativista ambiental sem poder político algum e que sem, também, ser panfletário fez a sua parte. Plantou onde deveria e possívelmmente mostrou que o segredo é fazer. Sim, fazer.  Deixa um legado sem preço. Vai fazer falta.  Para quem não conhece sugiro ver qualquer exposição de Sebastião Salgado em sua cidade.   No Recife: Gold, Mina de Ouro Serra Pelada  Onde: Caixa Cultura no Recife Antigo Até quando: 29 de junho

Velhos Amigos, canção de Oswaldo Montenegro. Poemas da MPB

Velhos amigos vão sempre se encontrar Seja onde for, seja em qualquer lugar O mundo é pequeno, o tempo é invenção Que o amor desfaz na tua mão Nada passou, nada ficará Nada se perde, nada vai se achar Põe nosso nome na planta do jardim Vivo em você e você dorme em mim E quando eu olho pro imenso azul do mar Ouço teu riso e penso: onde é que está? A nossa planta o vento não desfez É nunca mais, mas é mais uma vez Velhos amigos vão sempre se encontrar Seja onde for, seja em qualquer lugar O mundo é pequeno, o tempo é invenção Que o amor desfaz na tua mão E quando eu olho pro imenso azul do mar Ouço teu riso e penso: onde é que está? A nossa planta o vento não desfez É nunca mais, mas é mais uma vez Album: De Passagem (2011)

Assim Começa o Livro Que Eu Comecei: Ojiichan, Oscar Nakasato

Sem olhar para o pai, disse, viu, tóchan?, eu mandei cortar o pé da jabuticaba.      Um homem está velho quando não consideram mais a sua opinião. Satoshi compreendeu de vez que envelhecera quando cortaram a jabuticabeira. Retornava de uma viagem de alguns dias a São Paulo, onde visitara a irmã Miyuki, que enviuvara há três semanas. Ao contrário do que ocorria antigamente, quando dormia a viagem inteira, ele deu apenas umas cochiladas, embora a poltrona do ônibus fosse bastante confortável, reclinando-se quanse cento e cinquenta graus. Satoshi esticou as pernas, pousando os pés sobre os apoios debaixo      do assento dianteiro, pôs nacabeceira do encosto a pequena almofada - que a filha insistira para ele levar na viagem - e, posicionou a poltrona em sua reclinação máxima. O motorista apagou as lizes internas, e ele fechou os olhos. Satoshi estava cansado, embora tivesse passado quase o dia inteiro somente conversando coma irmã. Depois do almoço, ela fora ...

Vamos Pensar? (26) Exemplos

 

Pedro, O Homem da Flor - crônica de Sérgio Porto

     Se você se enquadra entre aqueles que se dizem boêmios ou, pelo menos, entre aqueles que costumam ir, de vez em quando, a um desses muitos barzinhos elegantes de Copacabana, é provavel que já tenha visto alguma vez Pedro - o homem da flor. Se, ao contrário, você é de dormir cedo, então, não. Então, você nunca viu Pedro - o homem da flor - porque jamais ele circulou de dia e não ser lá, na sua favela do Esqueleto.      Quando anoitece Pedro pega a sua clássica cestinha, enche de flores, cujas hastes teve o cuidado de enrolar em papel prateado, e sai do barraco rumo a Copacabana, onde fica até alta madrugad, entrando nos bares, porque Pedro conhece todos - vendendo rosas. Quando a cesta fica vazia, Pedro conta a féria e vai comer qualquer coisa no botequim mais próximo. Depois volta para casa como qualquer funcionário público que tivesse cumprido zelosamente sua tarefa, na repartiçào a que serve.      Conversei uma vez com Pedro - o hom...

Motivo, poema de Guimarães Rosa

O menino foi andando entrou num elevador a casa virou montanha o luar partiu-a em três o menino saiu de selvas montado no gurupés adormeceu sobre neve despertou noutro cantar mas deu-se que envelhecera bem antes de despertar então ele veio andando só podia regressar ao porquê, ao onde, ao quando — a causa, tempo e lugar. – João Guimarães Rosa, do livro “Ave, palavra”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 6ª ed., 2009. Imagem: Menino com cachorro, Portinari 1959

Dia das Mães, Vinicius de Moraes e Laerte

Minha Mãe Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo Tenho medo da vida, minha mãe. Canta a doce cantiga que cantavas Quando eu corria doido ao teu regaço Com medo dos fantasmas do telhado. Nina o meu sono cheio de inquietude Batendo de levinho no meu braço Que estou com muito medo, minha mãe. Repousa a luz amiga dos teus olhos Nos meus olhos sem luz e sem repouso Dize à dor que me espera eternamente Para ir embora. Expulsa a angústia imensa Do meu ser que não quer e que não pode Dá-me um beijo na fronte dolorida Que ela arde de febre, minha mãe. Aninha-me em teu colo como outrora Dize-me bem baixo assim: — Filho, não temas Dorme em sossego, que tua mãe não dorme. Dorme. Os que de há muito te esperavam Cansados já se foram para longe. Perto de ti está tua mãezinha Teu irmão, que o estudo adormeceu Tuas irmãs pisando de levinho Para não despertar o sono teu. Dorme, meu filho, dorme no meu peito Sonha a felicidade. Velo eu. Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo Me apavora a renúncia. Dize que eu ...

O Apagão em Portugal E Espanha Teve Um Mérito Inesperado: Acendeu As Pessoas, texto de José Eduardo Agualusa

A longa interrupção de energia elétrica, que, na segunda-feira passada, atingiu a Península Ibérica, trouxe o caos e a inquietação para as grandes cidades — crianças presas em elevadores, escolas fechadas, dezenas de voos cancelados, boatos terríveis, e muita gente assustada, fazendo fila diante das mercearias de bairro para comprar água, vinho tinto, comida enlatada e papel higiênico.      Ao entardecer, porém, o ambiente distendeu-se. Em Lisboa, de onde escrevo esta coluna, vi vizinhos, que nunca antes se haviam cumprimentado, conversando uns com os outros, sentados na calçada. Vi desconhecidos partilhando velas e lanternas; outros oferecendo água e alimentos aos menos prevenidos.      Embora os semáforos tivessem deixado de funcionar não testemunhei nenhum sinal de nervosismo. Os motoristas respeitavam-se uns aos outros. Respeitavam até mesmo os pedestres, até mesmo os ciclistas, numa cortesia rara para os padrões locais. Cheguei a me sentir em Berlim. ...

Assim Termina o Livro Que eu Terminei

      Eu, Joana Camelo, uma alma brasileira, emprego travessia por baixo do mar, furo  terra e sou liberta, vejo os mortos e adivinho dos vivos, tenho a companhia das princesas do mar e dos lagos, ando por onde quiser sem medo, com a flecha certeira de fogo que clareia a floresta mais escura. sou livre neste mundo e posso abrir qualuer caminho, mas escolho, porque quero, toda vereda que me leve ao estado de amor. O amor, o fogo mais antigo. A única força que dissolve e recria o tempo. Oração Para Desaparecer , Socorro Acioli Cia da Letras 2023 - 208 páginas. 

Bruxinhas de Pano - Nordeste do Brasil, Janete Saraiva

Não vendo, não troco, não dou... pois o valor é inestimável. E fará parte das andanças e plantações do Pé de Livros. As tradicionais bonecas de pano, fizeram parte do imaginário infantil de muitas crianças, de forma singular. Entre os anos secos e tórridos do Nordeste do Brasil. A criatividade, única, inigualável. Os brinquedos não estruturados, nos alpendres e terreiros, de uma infância alegre e dura, mas de uma riqueza que ainda aguça as lembranças. Através delas homenageio cada bisavó/avó nordestina, cada cria... tem cheiro, sim. Basta fechar os olhos e sentir. É a terra molhada, é o café torrado e pilado, a panela de barro, tinindo na chapa quente. O pote com água sempre fresca... o pão de ló no forno artesanal, o queijo coalho saindo da prensa. A festa da farinhada, as ladainhas da procissão, os quintais do meu universo infanto/juvenil. “As bonecas de pano, ‘bruxas’, brinquedos de criança pobre, indústria doméstica precária e tradicional no Brasil são documentos expressiv...

Tempo Morto, conto de Gilvan Lemos

     Um poço fundo, lama revolvida. Borbulhas de calda grossa, abulição de doce no ponto. Passos solitários na calçada, os pés de não se sabe quem recompondo sombras. Lamentos de criança em noite alta. Um velho fitando a torre da igreja. Não sei por que me vêm essas imagens. A secretária tinha dito: Mencionou apenas o nome, disse que o senhor sabia de quem se tratava. Pedi-lhe tempo: aviso quando puder recebê-la. Preparava-me? tomava fôlego?      Denise. Nossas casas confrontes na rua estreita, a dela assombrada. Da minha, através da vidraça, eu a via chegando à varanda, quando um ruído qualquer despertava-lhe a curiosidade, ou no vagar dum cigarro nostálgico. Por que nostálgico? Pela conotação do termo desusado ( por isso mesmo ingenuamente romântico), pela necessidade que eu lhe emprestava de superar-se do tédio, satisfazer-se do amor que eu lhe daria. Pensamos sempre que quem amamos é que precisa de nós.      Momentaneamente os carros pas...

Vamos Pensar? (26) Clarice Lispector

    Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que somando as compreensões eu amava.       Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama de verdade. Clarice Lispector

Palavras A Um General, poema de Bertold Brecht

O Vosso tanque, general, é um carro forte Derruba uma floresta esmaga cem Homens, Mas tem um defeito - Precisa de um motorista O vosso bombardeiro, general É poderoso: Voa mais depressa que a tempestade E transporta mais carga que um elefante Mas tem um defeito - Precisa de um piloto. O homem, meu general, é muito útil: Sabe voar, e sabe matar Mas tem um defeito - Sabe pensar