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Mostrando postagens de outubro, 2024

A Corrida da Vida, poema de Braulio Bessa

Na corrida dessa vida é preciso entender  que você vai rastejar,  que vai cair, vai sofrer  e a vida vai lhe ensinar que se aprende a caminhar e só depois a correr. A vida é uma corrida  que não se corre sozinho.  E vencer não é chegar,  é aproveitar o caminho sentindo o cheiro das flores e aprendendo com as dores causadas por cada espinho. Aprenda com cada dor, com cada decepção, com cada vez que alguém lhe partir o coração. O futuro é obscuro  e às vezes é no escuro que se enxerga a direção. Aprenda quando chorar  e quando sentir saudade, aprenda até quando alguém lhe faltar com a verdade. Aprender é um grande dom. Aprenda que até o bom  vai aprender com a maldade. Aprender a desviar  das pedras da ingratidão, dos buracos da inveja,  das curvas da solidão, expandindo o pensamento fazendo do sofrimento  a sua maior lição. Sem parar de aprender, aproveite cada flor, cada cheiro no cangote, cada gesto de amor, cada música dançada e também cada risada, silenciando o rancor. Experimente

Gato na Noite, poema de Alceu Valença

Sou como um gato na noite. Ah, meus olhos de vigia! Se choram de madrugada, Deságuam no meio dia E o coração se incendeia, No leito das minhas veias, Chuva de olho é sangria. Se eu cruzasse a madrugada Sem pensar no outro dia, Sem fazer acrobacias Pra me equilibrar no tempo... Se girasse um cata-vento Eu mudava a geografia, Meus olhos de vigia Enxergam não podem nada E o coração seca em água Chuva de olho é sangria Em: O Poeta da Madrugada, Alceu Valença, Chiado Editora, 2015, pág.35

Nobel de Literatura de 2024: Han Kang

      Han Kang, sul coreana da cidade de Gwahgju é a mais nova ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura.             A autora dos livros A Vegetariana , Atos Humanos e O Livro Branco , foi agraciada  por sua "intensa prosa poética que confronta traumas históricos eexpõe a fragilidade da vida humana", segundo a academia sueca. Han Kang é a décima oitava mulher ganhadora do Nobel de Literatura.  Leia aqui   quem são as mulheres que receberam o Prêmio Nobel de Literatura até hoje.

Valter Hugo Mãe Não Voltaria Inteiro a Portugal Se Fosse Impedido de Entrar No Brasil

     Valter Hugo Lemos, mais conhecido como Valter Hugo Mãe (1971, Saurimo, Angola) cresceu acreditando que jamais chegaria aos 18 anos de idade. Filho único de uma família pobre —nasceu depois de que o irmão Casimiro morresse com um ano e meio—, em uma cidade periférica, Hugo Mãe foi "resistindo" vida afora, em suas próprias palavras. Ao chegar à idade adulta (frustrando as próprias expectativas) e tornar-se escritor, acreditava que jamais venderia livros suficientes para pagar as contas. “Sempre quis trabalhar perto da cultura. Achei que poderia trabalhar numa livraria ou como porteiro de um teatro e isso estaria bem para mim, porque eu escreveria sempre, mas pensava que talvez seria um poeta pouco lido, como são normalmente os poetas, lutando para conseguir editar os meus livros e seguindo assim, escondido”, diz. Nada mais longe da realidade.      Hoje, com mais de 30 livros publicados, entre romances, poesia e literatura infantil, e detentor do Prêmio Saramago de Literat

Me Alugo Para Sonhar, Prefácio de Doc Comparato

 Em latim as palavras "inventar" e "descobrir"são sinônimas. Aliás, segundo Aristóteles a multiplicação destes dois verbos teria como resultado o ato de recordar.      Se não existem invenções ou descobertas, só recordações, o criar torna-se com efeito um admirável exercício de memória. Um incansável esforço do lembrar.      Esta hipótese seria apenas curiosa se não fosse também verdadeira. pois um dos efeitos mais perturbadores do ato de criar é aquele que nos dá a sensação de que não estamos descobrindo nada novo, somente resgatando algo esquecido.      O talento da crianção portanto na maneira que utilizamos para revelar aos outros esta algo, esta história, uma vida, saga ou percepção, que sempre existiu mas que de alguma forma oculta foi esquecida pela humanidade.  ficou adormecida sem emocionar ninguém.      E é exatamente o que você encontrará neste livro: uma jornada cuja missão é o ressuscitar da verdadeira estória de uma enigmática mulher, Alma.\      A in

Música e Literatura, depoimento de Gabriel García Márquez

“No México, enquanto escrevia «Cem Anos de Solidão» — entre 1965 e 1966 —, só tive dois discos que se gastaram de tanto serem ouvidos: os Prelúdios de Debussy e «A hard day's night» dos Beatles. Mais tarde, quando por fim tive em Barcelona quase tantos como sempre quis, pareceu-me demasiado convencional a classificação alfabética e adoptei para minha comodidade privada a ordem por instrumentos: o violoncelo, que é o meu favorito, de Vivaldi a Brahms; o violino, desde Corelli até Schõnberg; o cravo e o piano, de Bach a Bartók. Até descobrir o milagre de que tudo o que soa é música, incluídos os pratos e os talheres no lava-loiças, sempre que criem a ilusão de nos indicar por onde vai a vida. . A minha limitação era que não podia escrever com música porque prestava mais atenção ao que ouvia do que ao que escrevia, e ainda hoje assisto a muito poucos concertos porque sinto que na cadeira se estabelece uma espécie de intimidade um pouco impudica com vizinhos estranhos. No ent

Além da Lógica, A Bruxa de Copacabana texto de Marcelo Gleiser

     Durante minha adolescência, meus pais adoravam oferecer jantares. Tínhamos em torno de um porsemana, com convidados  diversos. Um dia no almoço, quando eu tinha 17 anos, meu pai anunciou que na semana seguinte teríamos um convidado muito especial para jantar, o senhor João Rosas, ex-ministro da Justiça de Portugal, acompanhado de vários amigos. Léa, minha madrasta, que gostava mais ainda de festas do que meu pai, lambeu os beiços e começou a pensar no menu. Após muitos preparos e ansiedade, chegou o dia do famoso jantar. A casa estava linda, cheia de rosas, que era o tema da noite. Os convidados chegaram em torno das 20 horas e ficaram conversando animadamente na sala de visitas. Dentre eles o senhor Rosas, como era conhecido, um homem diminuto de nariz aquilino e porte nobre, com um lenço amarelo de seda elegantemente dobrado no bolso de seu blazer azul-marinho. Meu pai, anfitrião exemplar, aproximou-se do convidado de honra.  João, o que posso lhe oferecer para beber? - Uísque e