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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

Para Entender ( mas não apoiar) O Conflito Com a Ucrânia

  A Nova Política da Europa , Luuk Van Middelaan Há tempos a União Europeia vem sendo atormentada por crises constantes: o caos financeiro, a dívida soberana da Grécia, os conflitos com a Rússia devido a suas relações com a Ucrânia e à invasão da Crimeia, o número sem precedentes de refugiados que migram pelo Mediterrâneo, a confusão causada pelo Brexit e também a guerra comercial travada pelo Governo Trump. Originalmente projetada para criar e aplicar regras sobre pesca, cotas de trigo ou padrões de produtos, a União Europeia foi lançada no cenário global, sem nenhum planejamento, para lidar com problemas complexos como os de identidade, de soberania e de solidariedade diante dos refugiados que não param de chegar. De Paris a Berlim, de Londres a Atenas, os líderes europeus tiveram de fazer improvisos para tratar dessas questões que ameaçam engolir a sua entidade política, além de ser preciso encarar uma opinião pública cada vez mais desencantada e dissonante. Luuk van Middelaar elabo

Lista de Supermercado Com As Coisas Que Acabaram, Paulo Cândido

Lista de supermercado com as coisas que acabaram  (Põe na lista o refil disto aí que acabou) margarina, sexo, pão, milho, ervilha, tesão, veneno de barata e um maço de  compaixão. cebola, carinho, cuidado, batata, aventura  e mamão. alguma novidade, molho  de macarrão, uma urgência de fim de  tarde, um pacote de feijão, um dente afiado de alho, um gosto  por confusão. cerveja,  vodka ,  whisky , um bom pau de amarração, um pedaço de alegria, fralda de montão, filé sem melancolia e um extrato de paixão.   o detergente de mágoa, o papel que absorve dor,  uma água com aquele cheiro  de um sentimento  anterior. sabão de lavar a alma,  alvejante de coração, o chá de manter a calma,  o shampoo antidepressão. leite de longa vida, balinhas de erudição, spray  de curar ferida, azeite, disposição. se não for estourar o cartão  faz um gesto de sedução por fim o mais importante  procure em toda seção se não tiver dá um jeito  pergunte em outro mercado  no camelô, no interior vai catar no meio do m

Livros No Oscar Deste Ano

  DUNA,  Frank Herbert -  De maneira geral, a ordem dos livros Duna fala sobre poder, religião e política dentro de um mundo alternativo. A humanidade alcançou diversos planetas, e agora se organiza sob uma monarquia. Dentro desse sistema de governo, Frank Herbert insere elementos importantes sobre como a crença popular afeta os poderes.  Além disso, também existem as questões de tomar e perpetuar esse poder, que sempre voltam ao foco principal da trama. Então, as famílias sobem e caem sempre buscando  poder através das articulações políticas. Enquanto isso, um messias fala sobre buscar novas formas mais éticas de governar O primeiro livro de uma série de  6 foi, lançado em 1965.  A série completa e na  ordem de lançamento é: Duna; O Messias de Duna; Os Filhos de Duna; Imperador-Deus de Duna; Os Hereges de Duna e Os Herdeiros de Duna (Fonte: Os Melhores Livros )  DUNA - o filme é uma adaptação de Denis Villeneuve e concorre em 10 categorias, incluindo Melhor Filme, Melhor roteiro adapt

Segue Teu Destino, Ricardo Reis

Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade Sempre é mais ou menos Do que nos queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós-proprios. Suave é viver só. Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses. Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração. Os deuses são deuses Porque não se pensam. Fonte: Rádio Cultura FM

O Amor Atrapalha o Sexo, Arnaldo Jabor

     Sábado, fui andar na praia em busca de inspiração para meu artigo de jornal. Encontro duas amigas no calçadão doLeblon. “Teu artigo sobre  amor   deu o maior auê...” – me diz uma delas. “Aquele das mulheres raspadinhas também... Aliás, que que você tem contra as mulheres que  barbeiam’ as partes?” – questiona a outra. “Nada... – respondo – acho lindo, mas não consigo deixar de ver ali nas ‘partes’ dessas moças um bigodinho sexy... não consigo evitar... Penso no bigodinho do Hitler, do Sarney – lembram um sarneyzinho vertical nas modelos nuas... Por isso, acho que vou escrever ainda sobre  sexo ...” Uma delas (solteira e lírica) me diz: “Sexo e amor são a mesma coisa...” A outra (casada e prática) retruca: “Não são a mesma coisa não...” “Sim, não, sim, não” – nasceu a doce polêmica ali à beira-mar. Continuei meu cooper e deixei as duas lindas discutindo e bebendo água-de-coco. E resolvi escrever sobre essa antiga dualidade: sexo e amor. Comecei perguntando a amigos e amigas sua opi

Melhor Idade É A Puta Que Te Pariu, Ruy Castro

Melhor idade é a puta que te pariu – a melhor idade é de 18 aos 40 anos… A voz em Congonhas anunciou: "Clientes com necessidades especiais, crianças de colo, melhor idade, gestantes e portadores do cartão tal terão preferência etc.". Num rápido exercício intelectual, concluí que, não tendo necessidades especiais, nem sendo criança de colo, gestante ou portador do dito cartão, só me restava a "melhor idade" – algo entre os 60 anos e a proximidade da morte. Para os que ainda não chegaram a ela, "melhor idade" é quando você pensa duas vezes antes de se abaixar para pegar o lápis que deixou cair e, se ninguém estiver olhando, chuta-o para debaixo da mesa. Ou, tendo atravessado a rua fora da faixa, arrepende-se no meio do caminho porque o sinal abriu e agora terá de correr para salvar a vida. Ou quando o singelo ato de dar o laço no pé esquerdo do sapato equivale, segundo o João Ubaldo Ribeiro, a uma modalidade olímpica. Privilégios da "melhor idade"

Ode ao Burguês, Mário de Andrade

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel, o burguês-burguês! A digestão bem-feita de São Paulo! O homem-curva! o homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! Eu insulto as aristocracias cautelosas! Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros! que vivem dentro de muros sem pulos; e gemem sangues de alguns mil-réis fracos para dizerem que as filhas da senhora falam o francês e tocam os “Printemps” com as unhas! Eu insulto o burguês-funesto! O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições! Fora os que algarismam os amanhãs! Olha a vida dos nossos setembros! Fará Sol? Choverá? Arlequinal! Mas à chuva dos rosais o èxtase fará sempre Sol! Morte à gordura! Morte às adiposidades cerebrais! Morte ao burguês-mensal! ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi! Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano! “- Ai, filha, que te darei pelos teus anos? – Um colar… – Conto e quinhentos!!! Mas nós morremos de fome!” Come! Come-te a ti mesmo, oh ge

A Fé E As Obras, Leandro Karnal

  J esus salvou todos. Para acessar a assembleia dos eleitos, a fé é o ticket. Solo fide, apenas a fé, proclamaram muitos reformadores religiosos do século 16. Lutero buscou a base em  Hebreus 10,38 : o justo viverá pela fé (também na  Epístola aos Romanos  e em outros trechos).        Os católicos valorizam a fé. Porém, a salvação passa pelas obras boas que evidenciem sua crença. A epístola do apóstolo Tiago enfatiza no capítulo segundo: a fé sem obras é morta. Lutero desconfiava desse trecho (epístola de palha, ele dizia). Chegou a querer afastar a carta do cânone do Novo Testamento. Tiago está próximo de uma concepção religiosa judaica: a prática correta da vida e de ações éticas. O princípio se chama ortopraxia. A  Bíblia  apresenta muitas concepções ao longo dos séculos em que foi redigida, com disputas entre grupos e diversas elaborações teológicas. Para um historiador, isso é a riqueza do texto.         Encerro a teologia aqui. Quero ir para outra direção. Uso o binômio

Lápide, Ariano Suassuna

Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo nas pedras do meu Pasto incendiado: fustiguem-lhe seu Dorso alardeado, com a Espora de ouro, até matá-lo. Um dos meus filhos deve cavalgá-lo numa Sela de couro esverdeado, que arraste pelo Chão pedroso e pardo chapas de Cobre, sinos e badalos. Assim, com o Raio e o cobre percutido, tropel de cascos, sangue do Castanho, talvez se finja o som de Ouro fundido que, em vão – Sangue insensato e vagabundo — tentei forjar, no meu Cantar estranho,  à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo! Imagem: Toda matéria

Arrasando Na Terceira Idade: Parabéns Pra Você

      A música mais simples que conheço é a segunda colocada em execução nos últimos 20 anos, secundo o Ecad, Escritório Central de Arrecadação. É o Ecad quem cuida de pagar direitos autorais das músicas.              Parabéns Pra Você, sim essa mesma,  vem abaixo de Michel Teló (Ai se te pego) e acima de Get Lucky (Daft Punk) em execução no Brasil. Essa canção completa hoje 80 anos.  Nosso aplauso para ela!!  Mas vamos saber da história?  Começando do começo lá em 1875...      As irmãs Mildred e Patrícia Smith compuseram uma musiquinha com uma saudação simples para seus alunos da escola de Louisville no Kentucky (USA).   Era apenas: Good morning to all/ good morning to all/good morning to all/ good morning to all.  Anos depois...      Em 1924 a musiquinha foi colocada no livro de partituras Celebrations Songs de Robert Coleman, mas com outra letra: Happy birthday to you/happy birthday to you/ happy birthday dear friend/ happy birthday to you!  Coleman não deu o devido crédito. Foi pr

Vincent, Marina Colasanti

Ciprestes de Van Gogh imóveis labaredas verdes incêndios sobre a tela verdes mulheres nuas em seus cabelos. Ciprestes de Van Gogh bizantinas colunas da paisagem vórtice remoinho erguido como o grito o fallus o arremesso de gozo do pintor. Em: Rota de Colisão, Rio de Janeiro, Ed.Rocco 1993 Imagem: Cypresses, Van Gogh Saint-Rémy - FR 1889 Museu Metropolitano de N.Y

O Punhal, Manoel de Barros e Adriana Lafer

Eu vi uma cigarra atravessada pelo sol - como se um punhal atravessasse o corpo. Um menino foi, chegou perto da cigarra, e disse que ela nem gemia. Verifiquei com meus olhos que o punhal estava atolado no corpo da cigarra E que ela nem gemia! Fotografei essa metáfora. Ao fundo da foto aparece o punhal em brasa. Em: Arquitetura do silêncio Manoel de Barros e Adriana Lafer Edições de Janeiro