Quase Ninguém Viu
Estava ali um pequeno bichinho entre tantos em uma planta de uma história. O livro anuncia: chegou “como uma gota em fim de chuva”. Ploft. Será que alguém percebeu? Ele se misturou ao grupo, aprendeu a cuidar e a ser cuidado, pulou. Entre os pulos, cresceu e notou que não era como os outros. Quase ninguém viu, mas ele, sim. Entre cores e sombras, quis saber de onde vinha. Na delicadeza da ponta de seus lápis e pincéis, a autora Aline costura à narrativa visual uma busca poética por algo que precisamos procurar para ver melhor, assim como os verdadeiros afetos
Autora Aline Abreu Jujuba Editora | R$ 49,90 | A partir de 3 anos
Hibernação, abelha, mel. Estão ali neste livrão (36 cm x 24 cm!) do autor francês os elementos de uma típica história de urso. Mas esta narrativa está cheia de coisas escondidas, pistas falsas e uma correria danada. Segure o fôlego porque é hora de acompanhar a jornada do Papai Urso atrás de seu Ursinho que, por sua vez, sai atrás de uma abelha. Imensas ilustrações cheias de detalhes nos desafiam a acompanhar a angústia e reviravoltas da história indicada pelo texto, ao mesmo tempo em que os dois personagens principais se perdem também nas imagens. Impossível não demorar em cada dupla (e inevitável não voltar a cada uma delas depois). O livro já foi traduzido em 11 línguas.
WMF Martins Fontes | R$ 64,90 | A partir de 2 anos
Tem um Tigre no Jardim A tarde está agradável, os brinquedos estão postos, há lápis e folhas suficientes para criar o que quiser, mas Nora está entediada. “Não tem nada para fazer aqui.” Quem nunca ouviu esta frase em casa? Mas a avó a surpreende: “por que não vai brincar no jardim? Acho que vi um tigre lá hoje pela manhã”. Um tigre? Ah, que brincadeira mais boba... Mas não custa dar uma olhada, não? É esse o convite ao mundo da imaginação da menina que a autora inglesa nos permite entrar. Nora vai brincando até achar o que procura. Nos detalhes do desenho, pistas para o leitor aceitar o encontro e, quem sabe, ver se é possível ou não ter um tigre no jardim.
Autora Lizzy Stewart | Tradução Sonia Pinheiro Salamandra | R$ 46 | A partir de 5 anos
É abrir o livro e ver apresentado o grande personagem: o muro. Mais uma virada, informações técnicas da obra de um lado e um rinoceronte do outro. A história “começa”: “tem um muro no meio do livro” aparece na página da esquerda, junto a um pequeno cavaleiro que carrega uma escada bem grande. Na direita, outros animais começam a surgir. O cavaleiro tem certeza de que o lado dele é muito seguro, o muro o protege. O leitor, no entanto, vê pelas imagens que o protagonista não tem todas as informações e corre perigo. Este jogo de “nem tudo é o que parece” fará o leitor repetir o livro muitas vezes. É a primeira obra de Jon Agee no Brasil.
Autor Jon Agee | Tradução Juliana Freire Pequena Zahar | R$ 54,90 | A partir de 4 anos
Um menino chega à praia, com um instrumento nas mãos. É um “puçá” ou “passaguá”, uma espécie de peneira para pegar peixe. Ele olha algumas rochas e vapt!, faz sua primeira tentativa de cima delas. Escapa uma, duas e na terceira a redinha vem cheia de coisas de mar e um problema: um caranguejo que pinça sem dó o dedo do menino. Como se não bastasse, dezenas de caranguejos começam a subir atrás do menino e, nossa, a história perde o controle! Qual o tamanho da coragem que ele vai precisar? O protagonista já apareceu em Vai e Vem (2017), outro livro do francês radicado em São Paulo, que, como este, é narrado somente com imagens.
Autor Laurent Cardon
A floresta é densa e ali, entre as árvores, o texto diz: “era um verão tedioso/até o dia em que esbarramos num curioso aviso: festa”. A bicharada aproveitou e dançou, comeu e curtiu muito até adormecerem. Quando voltaram para casa, viram uma tragédia. Da floresta inteira só se viam tocos de árvores, tudo havia sido destruído. Os animais decidem, então, ir atrás de suas casas e veem tudo cortado e procuram conversar com as “estranhas criaturas” que fizeram aquilo. Mas elas eram ferozes e, então, os bichos procuram os amigos das criaturas: cães, gatos, coelhos, passarinhos. Juntos, elaboram um plano e agora é hora de pensar junto.
Autores Cristóbal León e Cristina Sitja Rubio | Tradução Luciana Veit
Um leitor bem pequeno é convidado a fazer aos animais uma mesma pergunta: “Passarinho lilás, o que tem aí?”. “1 jacaré amarelo tocando flautim”, responde o livro. “Jacaré amarelo, o que tem aí?”, pergunta o leitor. “2 dinossauros azuis usando botim”. “Dinossauro azul, o que tem aí?”. “3 tigres rosa comendo pudim”. De pergunta em pergunta, saborosas respostas de ler em voz alta estão no gostoso jogo abre-e-fecha de abas, que dá muito mais que números de 1 a 10 e cores diversas, elementos bem comuns aos livros para bebês. Nonsense, surpresa e narrativa: no final, o Passarinho olha bem para a cara do leitor para responder, de vez, o que de tão especial há neste livro.
Autora Rosinha
Dois amigos de personalidades bem diferentes vivem juntos o “mesmo” cotidiano, cada um à sua maneira. Se Bia está doida para aproveitar o sol lá fora, o Elefante quer ficar dentro de casa. Se Bia gosta de leite frio, o Elefante prefere um mingau quentinho. Quando, no parque, ela balança para frente, ele balança para trás. O dia deles vai acontecendo enquanto o adulto leitor entende que é um “livro com opostos”. A criança, além de aprender as diferenças, cria um universo e muita identificação com os personagens. É o primeiro livro “para bebês” dos premiados parceiros Carolina Moreyra e Odilon Moraes, autores de Lá e Aqui e Lulu e o Urso.
Autores Carolina Moreyra e Odilon Moraes Jujuba Editora | R$ 46 | A partir de 1 ano
O narrador-menino deste livro fala sobre o pai. Não um pai qualquer, mas um pai que desenha girafas “superbem”. O menino pede uma, o pai atende, mas parece nunca ser o suficiente. Então seguem 2, 3, 4, 5, 6 e, nossa, as girafas já estão se enrolando uma no pescoço da outra e mal cabendo nas páginas do livro. E o pai começa a colorir os animais de modo tão maluco que o menino pede: apenas girafas, por favor! É ler para descobrir o que esse pai aprontou mais ainda. Jean-Claude, artista franco-brasileiro e autor de dezenas de livros, como o premiado Adélia, inspirou-se na infância com o próprio pai para contar esta história de 1 a 10.
Autor Jean-Claude
A figura é das mais conhecidas e a capa em papel kraft traz um cheirinho de madeira. O premiado autor Alexandre Rampazo, no entanto, não faz sua versão de Pinóquio, o clássico italiano de Carlos Collodi. Ele nos oferece um lugar para espiar. O protagonista está diante de seu reflexo. “Quando Pinóquio parou em frente ao espelho, o que viu refletido foi um boneco que era, na verdade, um pedaço de madeira”. E se ele fosse Gepeto? Seria paternal e justo. E Grilo Falante? Responsável e conselheiro. Mas ele poderia ser também o malandro Senhor Gato. Um belíssimo “brincar de ser” com palavras, imagens e um projeto gráfico que expande limites, cresce verdades.
Autor Alexandre Rampazo Boitatá/Boitempo | R$ 42 | A partir de 5 anos
Uma menina mora em um prédio de sete andares. Conforme entra, subimos cada andar com ela. Passando pelos apartamentos, a menina consegue narrar o que tem dentro deles, mesmo com todas as portas fechadas. De ladrões que amam tesouros a uma gigante família de músicos, passando por uma intrigante trupe de circo e até um solitário vampiro. O ritmo de cria-expectativa-e-revela percorre o livro todo até que vem a sentença final: a menina acha seu próprio apartamento um tanto sem graça. Virando a página, no entanto, algo que ela nem imagina existir. Traduzido em mais de dez idiomas, o livro venceu o Hapinkas, uma importante premiação de livros infantis de Israel.
Autora Einat Tsarfati | Tradução (do hebraico) George Schlesinger Pequena Zahar | R$ 54,90 | A partir de 4 anos
O título do livro é um pouco maior: Álbum de Família – Aventuranças, Memórias e Efabulações da Trupe Familiar Carroça de Mamulengos. Quase uma sinopse! É um emocionante mergulho da jornalista Gabriela Romeu nas histórias de uma família de artistas que, desde os anos 1970, espalha poesia, brincadeira, teatro e circo pelo Brasil. Costurado a colagens de Catarina Bessell, a obra tem clima de biografia – narra a chegada de cada um dos oito filhos –, mas é temperada de uns “era uma vez”, naquele tom que você desconfia se não é tudo ficção. Pesquisadora das infâncias brasileiras, Gabriela aposta nas raízes da sabedoria brincante e nos dá a chance de entender um Brasil que pulsa em cultura.
Autoras Gabriela Romeu e Catarina Bessell Peirópolis | R$56 | A partir de 7 anos
A história começa com um envelope e uma carta dos autores ao leitor. A seguir, vemos o carteiro – já famoso de outros livros do casal inglês Janet e Allan Ahlberg – pronto para seu ofício. Parecia um dia comum quando um chocalho despenca do céu e o carteiro desmaia no chão. É aí que uma confusão de histórias tem início: se o chocalho pertencia a um bebê no alto de um pé de feijão, um coelho apressado faz tudo terminar em chá, uma carta de gnomos e duendes surpreende o trabalhador e, quando ele acha que ganhou uma boa companhia, eis o lobo vestido de carteiro, enquanto Dorothy e seus amigos prometem ajudá-lo. Intertextualidade divertida e cartinhas por todo o livro.
Autores Janet e Allan Ahlberg | Tradução Eduardo Brandão Companhia das Letrinhas | R$ 59,90 | A partir de 6 anos
A tradição do instrumento portátil realejo está de volta neste livro de Alexandre Rampazo. Criado há mais de 200 anos na Europa e presente no Brasil desde o início do século 20, aquela gaiola musical não faz parte do repertório de muitas crianças de hoje, mas o autor relata bem a ação com um quê de magia, quando um periquito tirava com o bico uma frase sobre o destino de quem depositasse uma moeda ao dono. No livro há uma história dentro de outra: um pai conta sobre um velho e seu pássaro dos bilhetes. Um dia, o próprio animal é induzido a pensar que um dos papéis está reservado para ele. Afinal, como será nosso amanhã?
Autor Alexandre Rampazo
Uma turma de meninos decide ir fantasiada de pirata na festa da escola. A mãe do menino-narrador tem outra ideia: preparar uma fantasia especial de Robinson Crusoé, o mais aventureiro de todos, aquele do livro de Daniel Defoe, de 1719. O garoto se empolga mas, na hora do evento, todos riem da originalidade. O menino vai triste para casa e, no quarto, se sente à deriva em meio a tantos sentimentos. Na imagem, vemos uma transformação comovente de um livro em vela de barco e o menino é conduzido até uma ilha. Nos estonteantes traços do artista tcheco, se abre um novo mundo em árvores, animais e outros seres bem diferentes.
Autor Peter Sís | Tradução Érico Assis
Em um exuberante projeto gráfico, a primeira dupla de páginas da história se passa na cozinha de uma casa. Uma mãe termina a preparação de uma sobremesa enquanto o pequeno Tomás, como sempre, está escondido em algum lugar. O leitor vê o menino embaixo da mesa com um tesouro em mãos: um livro sobre dinossauros! Sabemos onde está Tomás. Logo depois, é o menino brincando com seu unicórnio. Sabemos, de novo, onde está Tomás. E quando ele coloca um balde na cabeça e começa a pular? O livro da escritora peruana Micaela Chirif e da ilustradora espanhola Leire Salaberria venceu o Prêmio Fundación Cuatrogatos, destinado a destacar autores iberoamericanos.
Autoras Micaela Chirif e Leire Salaberria | Tradução Daniela Padilha
A grande mestre do nonsense no Brasil nos oferece aqui, pela primeira vez, um livro de contos independentes. São 22 histórias com o humor no tom único de Eva Furnari, que vão de carneiro que troca letras até problemas de matemática com alimentos, passando por dicas para se escrever uma história e medições de uma futura cientista-filósofa. O último conto se chama “Veneno” e a autora disse que é um de seus preferidos: uma vizinha ouve a outra cantar a cantiga “Lá em cima do piano tem um copo de veneno/quem bebeu morreu/o azar foi seu”. A que ouve leva ao pé da letra e se desespera. No final do livro, Eva ainda continua brincando e desafia o leitor a saber quais são os personagens estampados na capa.
Autora Eva Furnari Moderna | R$51 | A partir de 7 anos
O cachorro Pum é conhecido já há alguns anos pelos leitores fiéis da dupla de autores Blandina Franco e José Carlos Lollo. A gente já abre o livro esperando o absurdo e ele vem: “Meu melhor amigo é o Pum. Mas meu irmão gosta mesmo é da Meleca dele”, diz o narrador, apresentando o novo morador da casa, um hamster. A chegada do pequeno animal aumenta a dinâmica já conhecida da família. “Foi a tia Clotilde quem inventou essa história de que a Meleca é melhor do que a chupeta”, explica. Jogando a brincadeira ora para o texto, ora para a ilustração, a dupla diverte página a página sem parar e ainda guarda o melhor para o final!
Autores Blandina Franco e José Carlos Lollo Companhia das Letrinhas | R$ 34,90 | A partir de 4 anos
No tempo em que as águias rodopiavam, “donas do mundo”, o rio no fundo do vale seguia seu curso em harmonia com os pássaros. Um dia, “a chuva esqueceu-se de acontecer. As nuvens passavam grávidas, mas nenhuma gota se derramava. O rio emagraceu...”, palavreia o moçambicano Mia Couto, um dos mais importantes escritores em língua portuguesa do mundo. Os pássaros começaram a morrer até que uma águia mais velha toma a decisão: devora a letra “i” de seu nome e a palavra “águia” se converte em “água”. A solução também se esgota e as sábias voadoras procuram um caminho mais próximo à “caligrafia da Vida”. As imagens são de uma ilustradora canadense residente em Lisboa já parceira do autor.
Autores Mia Couto e Danuta Wojciechowska Companhia das Letrinhas | R$ 39,90 | A partir de 6 anos
“Sem imaginação, não vai ter jeito da poção mágica fazer efeito.” Este alerta já vem na orelha do livro, fique atento. Dito isso, é só folhear as maluquices do escritor Leo Cunha e da ilustradora Mariana Massarani, dois autores fundamentais de nossa literatura infantojuvenil. Quem encontra o livro das poções é uma entendiada princesa em um quarto cheio de brinquedos. No começo da aventura, ela já encontra o Elixilique: elixir que deixa as crianças de pá virada e os pais de cabelos em pé. Mais para frente, o Milk-Shakespeare: poção gelada e cremosa que faz a imaginação voar. A indicação aqui vai até para a biografia de cada um, em primeira pessoa e bem divertidas.
Autores Leo Cunha e Mariana Massarani Editora do Brasil | R$ 49,10 | A partir de 7 anos
Ei, você, o que vê da sua janela? Otávio Júnior, escritor da vivência no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, vê uma porção de coisas. Vanina Starkoff, uma ilustradora argentina que vive no mesmo estado que ele, foi até a uma porção de favelas com o escritor e colou suas memórias às dele para, juntos, desenharem com imagens e palavras tapetes de histórias de quem olha a favela pela janela. A cada dupla, o estilo naïf de Vanina enriquece de pequenos detalhes uma imensidão de imagens disparadas por Otávio frase a frase. Arte, convivência e desafios de uma vida de luta, de reconhecimento e de justiça. Paisagens dentro de outras, todas merecedoras de serem vistas.
Autores Otávio Júnior e Vanina Starkoff
Estão nas imagens uma montanha, uma cidade e um rato derrubando um copo. “Um menino dorme. Há um copo de leite pronto para quando ele acordar. Um rato bebe o leite. O menino, sem ter o leite, chora, assim como chora a mãe.” O rato se desespera e procura se redimir. No caminho, descobre que depende de um esforço coletivo, e o leitor pensa sobre o papel de cada um numa sociedade justa. Este conto foi narrado pelo filósofo italiano Antonio Gramsci durante a ditadura de Mussolini, em carta à esposa que ele escreveu da prisão. O desejo era registrar a história para os filhos. Décadas depois, virou este livro com a ilustradora Laia Domènech e da Editorial Milrazones, da Espanha.
Autores Antonio Gramsci e Laia Domènech | Tradução Luiz Sérgio Henriques e Thaisa Burani Boitatá/Boitempo | R$ 49 | A partir de 5 anos
Celino era um menino comum que tinha o desejo de colecionar chuvas. Já tinha recipientes de todos os tamanhos, e a expectativa de cada tipo de chuva a cair exalava cheiros diferentes pelos narizes e olhos dos moradores da cidade. Cada um imaginava a sua própria. E veio! E todo mundo foi para a rua festejar. Só que André Neves, o premiado autor pernambucano, já escreveu esta história uma vez e a reinventou em poesia de texto e imagem. Colocou, então, uma porção de gente entre esta vizinhança, de Chapeuzinho Vermelho a Mary Poppins. Até Harry Potter e o Batman estão por ali. Cada um com seu tocante guarda-chuva, e o desafio de conviver ganhou outra textura.
Autor André Neves
Uma cidade imensa, cheia de luzes à noite, barulhos de vida, milhões de pessoas fechadas à chave, que assistem aos recados da televisão: “Sejam prudentes, está frio!”, “Perigo de enchente”, “Ondas de atentados”. Entre os prédios gigantes, um homem vive um dilema: sua casinha precisará ser demolida. A ordem de despejo veio dura e, por mais que resistisse, ele precisou sair. É aí que começa esta doce jornada em um mundo cruel aos oprimidos, mas que a solidariedade dá um caminho de esperança. Os imensos desenhos de Bruna Assis Brasil dialogam com o conto deste escritor francês que também é narrador de histórias e já participou de festivais no Brasil, como o Boca do Céu.
Autores Ludovic Souliman e Bruna Assis Brasil | Tradução Regina Machado
Da capa não é possível imaginar o delicado assunto que o livro aborda. Ambientado dentro do mar, o leitor vê uma baleia com traços de menina a nadar. Virando a página, um polvo toma todo o espaço: “olá, Pequena! Hoje você está mais bela! Quero um beijo de bom-dia”, diz ele. “E Leila sentiu-se esquisita.” O escritor Tino Freitas e a ilustradora Thais Beltrame alternam literal e fantasia para uma narrativa sobre abuso sexual infantil. O polvo pede segredo e a menina-baleia se esconde no fundo do mar. Os amigos vão resgatá-la e, um tempo depois, ela reencontra o abusador. Ainda com medo, decide reagir dizendo “nãos” que havia engolido. Para conversar antes, durante e depois da leitura.
Autores Tino Freitas e Thais Beltrame Abacatte | R$44 | A partir de 8 anos
O livro em mãos é tão sombrio quanto o título: um verde-farda toma conta e nada parece ter luz ali. A angústia permanece nas frases “a guerra rasga o dia como uma doença sussurrada e veloz”; “a guerra não ouve, não vê e não sente” e uma floresta sem vida se desenha à sombra de um pássaro. Os portugueses Jorge José e André Letria continuam: “a guerra nunca foi capaz de contar histórias” e vemos uma pilha de livros prestes a serem queimados. Com referências imagéticas e de texto mais ou menos diretas que outras, a dupla descorre o horror da guerra até o silêncio que, segundo eles, também a define. Seria o próprio livro um grito? Cabe ao leitor a escolha.
Autores José Jorge Letria e André Letria Amelí | R$55 | A partir de 7 anos
Nas mãos, o leitor tem um objeto quadrado de apenas 15cm x 15cm. Para ler com calma, apreciando o que Natália Gregorini está lembrando em algumas frases e muitas imagens. O laranja e o azul vêm como dois personagens que acompanham a descrição de uma avó pela voz de sua neta. O tempo de olhar a vida, o colo, o chimarrão, esticar a massa na mesa, o desafio de aprender a ler. Um tempo tão confortável em uma memória de infância que, quando menos esperamos, a menina cresce e repete os rituais. Feito em gravura, a autora conta que a matriz é uma embalagem de leite longa vida que, depois, virou cenários e foi pintada.
Autora Natália Gregorini
Há mães que olhamos e não enxergamos limites. Parecem ter o maior colo do mundo, o abraço mais gigante ou a palavra irretocável. Diante dos filhos, a imensidão de amor às vezes causa dúvidas. Como falar sobre isso com as crianças? O casal suíço encontrou uma forma tão delicada quanto o tema. Todo em papel pólen e apenas riscos pretos em palavras e imagens, vemos crescer aos olhos (como um flipbook, livros que, quando folheamos, parecem uma animação) o amor de uma mãe e de um filho e suas relações. Premiado na Feira de Livros Infantis de Bolonha, em 2016. Albertine, aliás, ganhou o Prêmio Hans Christian Andersen em 2020, o mais importante do mundo.
Autores Germano Zullo e Albertine | Tradução Rosely Dolcimasculo Jannarelli Amelí | R$50 | A partir de 5 anos
Do belíssimo prefácio da poeta Mariana Ianelli, uma espécie de profecia: “quem entra neste livro entra numa dança. Cada momento é uma vontade de brincar junto, ser um de muitos”, ela diz, narrando ao leitor de primeira viagem quem foi Gabriela Mistral, a poeta chilena de origem humilde, do campo, e que ganhou em 1945 o Prêmio Nobel de Literatura, a primeira latino-americana a ser agraciada. Os poemas que compõem o livro foram selecionados pelo escritor mineiro Leo Cunha, que é o tradutor. Quem abraça o tom maternal dos textos é a ilustradora Leonor Pérez, também chlena, fã de Mistral. É tudo música.
Autores Gabriela Mistral e Leonor Pére Seleção | Tradução Leo Cunha
Na capa, o menino olha bem no olho do leitor. Na primeira página, ele e seu carrinho, ambos de perfil, parecem nos convidar a entrar no livro. De cara ele já expõe o tipo de conversa, mas com quem ele está falando? “Há bastante espaço para explorar”, diz o motivo 1. Sol, mergulho e diversão estão no motivo 2. “Alguém tem que reconhecer a minha arte” está no motivo 3, com o menino se esbaldando em cores na parede. Os motivos e as ilustrações se movem como uma ansiedade reconhecível, mas certeza mesmo, só se o leitor for até o final. Que chegada mais demorada esta! Dos mesmos autores de O Passeio.
Autores Pablo Lugones e Alexandre Rampazo Gato Leitor | R$46 | A partir de 4 anos
Eu estava justamente agora, primeiro dia de férias escolares após o difícil evento da escola à distância dos meus filhos, pensando em como tirá-los da frente da tv e do celular e do computador, o que pode se tornar uma batalha quando todo o interesse das crianças está na internet. O homeschooling teve um inesperado efeito colateral aqui em casa, fez grudar ainda mais os meninos às telas e me deixou assustada com a perspectiva de um futuro longe das pessoa que amamos e cheio de pessoas que sequer conhecemos invadindo nossas casas através dos canais do youtube. Como fazer as crianças se descolarem do mundo virtual? Foi quando me lembrei desse espaço e dando uma fuçada, cheguei até aqui. Vou me sentar com eles dois, 13 e 8 anos, e fazer cada um escolher um livro e vamos pedir pelo correio e esperar ansiosamente pelo dia da entrega. Eles já têm uma biblioteca no quarto. Falta a reconexão com o papel e as férias podem ajudar nisso. Valeu pelas dicas! Obrigada.
ResponderExcluirNatascha Duarte
Realmente é um momento difícil, até porque ninguém teve tempo de planejar nada. E aí o mundo virtual que neste momento quebra o galho é justamente o que a gente não queria antes e não espera ser o cotidiano depois. Que bom que a postagem foi útil. A lista não contempla a faixa de 13 anos, infelizmente. Nessa faixam Pedro Bandeira e mais ainda Moacyr Scliar são boas pedidas. Outra coisa, se algum dos seus filhos quiser, fazer comentários sobre qualquer livro mesmo que não da lista citada, pode enviar para o blog que eu publico. Aceito felicíssima colaboração de esudantes. Grande abraço.
ExcluirAh, que legal, vou falar para os meninos sobre os possíveis comentários, quem sabe assim eles queiram ler mais. Risos.... O de 13 anos conhece Pedro Bandeira mas não ainda Moacyr Scliar. Vamos procurá-lo nas livrarias online. Um abraço e obrigada!
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