Ninguém tinha feito nada parecido até então, e uns intelectuais meio loucos fizeram um jornal que não perdoava, não aliviava nada de um governo ditatorial. Tempos de censura, prisões, torturas, exílios... Tempos tão diferentes!! Gentes tão diferentes...
Colecionei O Pasquim por alguns anos. Lá conheci Jaguar, Millor, Ziraldo e Hefil com seus Frandins. Li entrevista cheia de palavrões com Leila Diniz, Madame Satã, Ibraim Sued.
Era um jornal tão maluco que misturava sarcasmo de Paulo Francis com poesia de Ferreira Gullar.
Penso que era o jornal mais bagunçado e querido daquela época.
Ficou no coração e memória de quem esperava ansiosamente por ele nas bancas. Ansiedade feliz numa época tão triste.
Um poema num jornal cheio de piadas? É como disse Paulo Mendes Campos: "Quem não tem senso de humor não pode ser um poeta; quem não tem sentido lírico não pode ser humorista." Abram alas deixem a poesia passar.
Menino no capinzal
caminha
havida
Entre capins e matapastos
vai, pisa
nas ervas mortas ontem
e vivas hoje
e revividas no clarão da lembrança
E há qualquer coisa azul que o ilumina
e que não vem do céu, e se não vem
do chão, vem
decerto do mar batendo noutra tarde
e no meu corpo agora
- um mar defunto que se acende na carna como noutras vezes se acende o sabor
de uma fruta
ou a suja luz dos perfumes da vida
ah, vida!
Ferreira Gullar
A exposição busca rememorar a irreverência da publicação por meio de materiais gráficos, além de atrações como a recriação de rotativas e a reprodução, em tamanho real, de alguns de seus colaboradores, como Millôr Fernandes, Vinicius de Moraes e Jô Soares. Sesc Ipiranga. R. Bom Pastor, 822, 3340-2000. Inauguração: 4ª (20). 9h/21h30 (sáb., 10h/21h30; dom. e fer., 10h/18h30; fecha 2ª). Grátis. Até 12/4/2020.
Poema de Ferreira Gullar:O Pasquim, antologia vol.1 -1969-1971, pág.19 - Ed.Desiderata 2006.
Imagem da primeira capa: Portal Memórias da Ditadura (imagem)
Comentários
Postar um comentário
comentários ofensivos/ vocabulário de baixo calão/ propagandas não são aprovados.