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Mostrando postagens de março, 2019

A Moça Tecelã, Marina Colasanti

      “Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear. Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.  Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava. Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela. Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza. Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça

Negro Nascimento, Rodolfo Aureliano

De uma nação negra Nascimento do Passo Um corpo são O corpo e a mente sã De Edson Pelé Um corpo um arado na terra De uma nação negra Edson Arantes do Nascimento. De uma nação negra Um canto são A alma sã e o cantochão De Milton das Minas Das serras de milho e café A voz voz vinda do fundo da alma De uma nação negra Milton Nascimento. De uma nação negra Um jovem espírito são Não mais santo Pela indignação de toda uma nação Que lamenta nas minas E festeja nos estádios A cor negra da seleção A força do espírito negro De uma nação negra Abdias do Nascimento. De uma nação negra A mais bela América do Sul Embala todo seu povo negro Num frevo negro Num suor que alegra o chão Chão que saúda suado O pé descalço do negro A magia do frevo pernambucano A marca da luta da capoeira O compasso de uma nação negra Nascimento do Passo. (poema de 1978, publicad

MPB - Poesia: Poema dos Olhos da Amada,Vinicius de Moraes

Oh, minha amada Que os olhos teus São cais noturnos Cheios de adeus São docas mansas Trilhando luzes Que brilham longe Longe nos breus Oh, minha amada Que olhos os teus Quanto mistério Nos olhos teus Quantos saveiros Quantos navios Quantos naufrágios Nos olhos teus Oh, minha amada Que olhos os teus Se Deus houvera Fizera-os Deus Pois não os fizera Quem não soubera Que há muitas eras Nos olhos teus Ah, minha amada De olhos ateus Cria a esperança Nos olhos meus De verem um dia O olhar mendigo Da poesia Nos olhos teus. Vinicius de Moraes fez esse poema para o jogador de futebol Heleno de Freitas (Botafogo) quando de seu casamento com Hilma.  Alguns anos depois, Paulo Soledade pôs melodia no poema e Silvio Caldas gravou a música Poema dos Olhos da Amada. Fontes:  Um Sonho em Carne e Osso, Antonio Falcão (Bargaço 2002) e MPBnet Ouça a música aqui

Não Pensa Nisso, Jorge. Moacyr Scliar

      Estou ficando velho, Zilda. Velho e fraco. Sinto que não vou durar muito. - Não pensa nisto, Jorge. Pensa nas coisas boas da vida. - Estas dores no estômago. Para mim isto é câncer. O médico diz que não, mas acho que ele está me enganando. Para mim é câncer, Zilda. - Não pensa nisto, Jorge. Pensa nos momentos que vivemos juntos. - Eu sei que é câncer, Zilda. Já vi muita gente morrer dessa doença. É uma morte horrível, Zilda. A gente vai se consumindo aos poucos. - Não pensa nisto, Jorge. Pensa no teu trabalho. Pensa nos teus colegas, no chefe que gosta tanto de ti. - Primeiro a gente emagrece. Já estou emagrecendo. Perdi cinco quilos

História Infantil:Rainha da Primavera

      Numa terra muito distante chamada Florislândia, havia todos os tipos de flores, de todas as idades e de todos os estilos. As mais velhas eram mais sábias e cuidavam das mais jovens, as mais novas costumavam ser mais vaidosas e viviam enfeitando suas pétalas. As flores mães cuidavam das tarefas do lar e dos filhos, os pais saíam para trabalhar nas plantações de novas flores, os bebês brotinhos brincavam com suas folhas e tentavam tocar seus caules, as flores avós tinham suas pétalas enrugadas e seus caules tremiam sem parar, elas se apoiavam em pequenos gravetos para andar e não dispensavam seus óculos.      Uma vez por ano a cidade se enfeitava para o Baile da Primavera. Este baile escolheria a flor mais bela da cidade e a vencedora receberia o título de Miss Rainha da Primavera, ganharia uma viagem ao Jardim do Éden e ganharia muitos presentes dos patrocinadores da festa. Todas as flores jovens e bonitas se inscreviam para o desfile, preparavam suas roupas e

MPB - Poesia: O Canto das Três Raças, Paulo César Pinheiro

Ninguém ouviu um soluçar de dor No canto do Brasil. Um lamento triste sempre ecoou Desde que o índio guerreiro Foi pro cativeiro e de lá cantou. Negro entoou um canto de revolta pelos ares No Quilombo dos Palmares, onde se refugiou. Fora a luta dos inconfidentes Pela quebra das correntes. Nada adiantou. E de guerra em paz, de paz em guerra, Todo o povo dessa terra Quando pode cantar, Canta de dor. E ecoa noite e dia: é ensurdecedor. Ai, mas que agonia O canto do trabalhador... Esse canto que devia ser um canto de alegria Soa apenas como um soluçar de dor Imagem: Geografia & Cia Ouça a música com: Clara Nunes

Quarto de Despejo, Carolina Maria de Jesus

Quando infiltrei na literatura Sonhava so com a ventura Minhalma estava chêia de hianto Eu nao previa o pranto. Ao publicar o Quarto de Despejo Concretisava assim o meu desejo. Que vida. Que alegria. E agora… Casa de alvenaria. Outro livro que vae circular As tristêsas vão duplicar. Os que pedem para eu auxiliar A concretisar os teus desejos Penso: eu devia publicar… – o ‘Quarto de Despejo’. No início vêio adimiração O meu nome circulou a Nação. Surgiu uma escritora favelada. Chama: Carolina Maria de Jesus. E as obras que ela produz Deixou a humanidade habismada No início eu fiquei confusa. Parece que estava oclusa Num estôjo de marfim. Eu era solicitada Era bajulada. Como um querubim.

Gibis Agradam os Leitores do País.

Desde 1984, em 30 de janeiro se comemora o Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos, um dos gêneros preferidos dos brasileiros. De acordo com a 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura do Instituto Pró-Livro, os gibis agradam entre 13% e 29% dos leitores da país. A nona arte, como é conhecida, ganhou esta data no Brasil por conta do cartunista Ângelo Agostini, italiano radicado no Brasil. O cartunista publicou, em 30 de janeiro de 1869, a primeira história em quadrinhos brasileira As aventuras de Nhô-Quim, ou Impressões de uma viagem à corte, publicada na revista Vida Fluminense.  O quadrinho mostra a história de Nhô Quim, caipira que vai para o Rio de Janeiro e se espanta com a civilização que era um mistura da vida rural com a vida urbana. O sucesso dos quadrinhos no Brasil é tamanha, que a Turma da Mônica, criada em 1959 por Mauricio de Sousa, é uma das maiores marcas brasileiras tendo se expandido para além dos gibis, como em livros, brinquedos, jogo

Corporiedade Feminina, Janete Barros

     Ainda assim, mesmo sem atingir a marca de um dia, capaz de delinear o valor de uma única mulher; a sensibilidade me aguça, por tabela. Cada aperreio, grito de dor e injustiça, nos quatro cantos do mundo... arraiga e aflora . Bendigo, pelos olhos da minha filha, da pele enrugada e costa arqueada da minha mãe, por todas as primas, sobrinhas, netas que tenho e ainda virão, tias estelares que já se foram (paternas e maternas). Noras, Irmã sanguínea e irmãs de coração (são tantas), professoras amadas, mestras, doutoras, amigas discentes e docentes, escritoras, pedaleiras, rosas meninas (todo grão de mulher). Das albinas, negras, índias... do dedo do pé até a raiz do cabelo, em nuances de cores; do preto retinto ao perolado dos fios. Das usuárias de burcas às carecas abrilhantadas. Com lenços, tiaras, joias, turbantes milenares, penas, adereços diversos. Mil anos luz de distância percorre os fios arredios dos teus saberes, do eu pensante, do pulsar de cada

Sobre Mulheres Feministas do Passado... Você sabia Que...

...O mais valioso quadro brasileiro foi pintado por uma mulher? TARSILA DO AMARAL - Ela é autora da pintura brasileira mais valorizada da história, o Abaporu. Tarsila é um dos nomes centrais da primeira fase do modernismo artístico no Brasil e foi uma das responsáveis pela organização da revolucionária Semana da Arte Moderna de 1922, realizada em São Paulo. ABAPORU - criado por Tarsila do Amaral em 1928, encontra-se no Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires (MALBA) e está avaliado em US$40 milhões. O nome da tela foi dado por Oswald de Andrade (para quem a obra foi pintada) e Raul Bopp.  Segundo eles: Aba (homem) - Pora ( gente) - Ú (comer) da língua Tupi. Homem que come gente, tinha relação com o movimento antropofágico da época: Movimento Modernista. ...O primeiro livro feminista do país foi escrito lá em 1832? NISIA FLORESTA BRASILEIRA AUGUSTA- Outra precursora do feminismo no Brasil, ela é autora do mítico livro “ Direitos das Mulheres

8 Mulheres Que Brilharam e Não Podem Ser Esquecidas

Maria Firmina dos Reis (1825-1917) -Maranhense e negra, é considerada a primeira romancista brasileira. Em 1859 , publicou o incrível Úrsula , tido pela crítica como o primeiro romance abolicionista e feminista escrito no Brasil, inaugurando a vertente da literatura afro-brasileira. Também era professora e figura ativa na imprensa local, publicando poemas, contos, crônicas e artigos em jornais da época. Além disso, na década de 1880, fundou a primeira escola mista (misturando meninas e meninos) do estado do Maranhão, ousadia que provocou muito rebuliço e incômodo. Eu não te ordeno, te peço, Não é querer, é desejo; São estes meus votos – sim. Nem outra cousa eu almejo. E que mais posso eu querer? Ver-te Camões, Dante ou Milton, Ver-te poeta – e morrer. Nísia Floresta (1810-1885) Considerada a primeira feminista brasileira, publicou em 1832 o manifesto “Direitos das mulheres e injustiças dos homens”. Também educadora e presença constante em periódicos da impr

O Último Bloco, Antonio Falcão

     A fome pra quem come, a cama e o amor, a liberdade do homem, o peso diário do corpo a corpo com a palavra escrita. O frio da ci ência, o universo, a correnteza e o rio, o movimento, a cor, o som, a forma, as artes... Eu digitava este texto e Áu rea, min ha mul her, pôs uma fita pra tocar. Foi quando a voz mansa da compositora Lêda Valença entoou: Um novo amigo abriu as cortinas do tempo / que o sopro do vento se encar regou de esgarçar .. .        Em matéria de inédito, o melhor que há por estas bandas de frevo- canção.      Mas me levou a um outro fevereiro...      De catapora, aos 12 anos, de bruços na janela suburbana, minha rua empoeirada de acanhados papangus e la ursas, tão pobres - nós todos e o bairro, uma miséria só. A alma, palco e palhaço de perdida ilusão. E o bloco "Sou eu o teu amor", de Cacho de Côco, arregaçou a esquina, esparrento e amostrado. A orque

Recomendo: Blog Suzana Valença

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