- Mas o que é que você está fazendo?
- Eu? Pedindo uma cerveja, oras.
- Mas como é que você pode pedir cerveja numa hora dessas?
- E o que é que você queria que eu pedisse? Cianureto?
- Bem, não deixa de ser uma idéia...
Mas esses torcedores assim, a gente até que consegue entender. Eles estão lá,
querendo o bem de uma agremiação que eles conhecem desde crianças. É uma coisa
bastante parecida com o patriotismo. Todos nós queremos o bem do nosso país.
Lutamos por ele. Torcemos por ele.
Agora, o que não dá pra entender são esses caras que torcem CONTRA os outros
times. Às vezes, eles torcem mais contra um time do que a favor do time deles
mesmos. Têm uns palmeirenses vizinhos meus que a coisa chega a ser até meio
doentia. No dia em que o Santos perdeu para o Boca Juniors, na decisão da Taça
Libertadores da América, os caras soltaram até rojão. Eu, que não estava
assistindo ao jogo, teve uma hora que achei que o Santos estava dando uma
sonora goleada no Boca. Era um rojão atrás do outro. Gritos de gol. Fiquei
curioso. Fui ligar a televisão e o Santos perdia de três a um. Logo depois, o
jogo acabou, e os vizinhos saíram para a rua aos berros. Eu não me lembro de
eles terem feito tamanha festa nem quando o Brasil foi pentacampeão. E neste
último domingo a coisa se repetiu. Desta vez a vítima foi o Corinthians, que
perdeu pelos mesmos três a um do Atlético do Paraná. A maior festa. Até mesmo
as crianças da casa saíram para a rua, e balançavam bandeiras para os carros
que passavam. Bandeiras do Palmeiras, evidentemente.
A reação dos meus vizinhos mostra bem o que é que essa
sociedade competitiva está fazendo com a gente. Ninguém mais se importa
realmente com sua própria situação, contanto que seus vizinhos estejam em
situação pior. O lance não é ter um carro zero. Se o vizinho tiver um carro 99,
basta ter um carro 2.000. Ninguém coloca o filho na melhor escola para garantir
o futuro das crianças, mas porque o primo matriculou os filhos deles lá, e a
gente vai colocar os nossos numa escola pública? Mas de jeito nenhum!
Uma vez eu precisei fazer uma reforminha na minha casa. Nada muito
significativo, uma pinturinha aqui, um murinho ali, um jardinzinho acolá, mas,
depois de terminada, ficou até que bastante apresentável. Bem, estava eu
chegando numa tarde, e encontrei o carro de um colega de serviço estacionado na
frente de casa. Eu nem tinha parado direito e ele já estava descendo do carro.
Parecia furioso.
- Como é que você foi fazer uma coisa dessas sem me consultar?
- Mas fazer o quê?
- Reformar a sua casa, oras!
- Mas para quê eu teria que consultar VOCÊ para reformar a MINHA casa?
- Porque agora a minha mulher quer que eu reforme a nossa também, será que você
não entende?!
Tem coisas que eu não entendo mesmo. E, sinceramente, acho que prefiro ficar
sem entender.
Fonte: Carta Maior
Nota: o blog manteve grafia original.
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