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Mostrando postagens de setembro, 2015

O Menino Azul, Cecília Meireles

O menino quer um burrinho para passear. Um burrinho manso, que não corra nem pule, mas que saiba conversar. O menino quer um burrinho que saiba dizer o nome dos rios, das montanhas, das flores, — de tudo o que aparecer. O menino quer um burrinho que saiba inventar histórias bonitas com pessoas e bichos e com barquinhos no mar. E os dois sairão pelo mundo que é como um jardim apenas mais largo e talvez mais comprido e que não tenha fim. (Quem souber de um burrinho desses, pode escrever para a Ruas das Casas, Número das Portas, ao Menino Azul que não sabe ler.)  

Esperando a Bienal 2015

Saiu o que creio ser a lista  das atrações da edição 2015 da Bienal de Pernambuco.  Não tem nenhum dos escritores que eu gostaria de ver, mas é importante conhecer gente nova. Me interessei pela escritora argentina.     Vamos ao que temos:    Ana Martins Marques, Contardo Calligaris, Edyr Augusto, Eliane Robert Moraes. Jeanne Marie Gagnebin, Leonardo Padura, (Cuba) Lourenço Mutarelli, Muniz Sodré, Paulo Bezerra, Regina Dalcastagnè, Selva Almada (Argentina) Autores locais: Ronaldo Correia de Brito, Samarone Lima, Fernando Monteiro, Pedro Américo de Farias e Lourival Holanda.  Homenageados da X Bienal Internacional do Livro de Pernambuco - 2015:   Miró da Muribeca   (Recife - PE) Seus livros: Que descobriu azul anil Ilusão de ética Entrando pra fora e saindo pra dentro Quebra a direita segue a esquerda e vai em frente  São Paulo eu te amo mesmo andando de ônibus Poemas pra sentir tesão ou não Pra não dizer que não falei de flúor.

Para Adoecer, Vá ao Médico, Raquel Brabec

     Taquicardia, suor frio, ansiedade e princípio de gagueira. Esses seriam sintomas suficientes para levar você a procurar um médico, mas nem sempre é assim que acontece. Em uma lógica invertida, pode ser que esses sintomas apareçam justamente porque você está procurando um profissional de saúde. Não vou fazer aqui comparações entre atendimento privado e público, porque isso não seria jogar limpo. Se em um a situação está ruim, no outro, ela beira a calamidade pública. Considerando que você é um cidadão que gasta seu suado dinheiro em um plano de saúde e planeja fazer o check-up anual, então se prepare, pois está prestes a enfrentar a Via Crúcis do sistema de saúde.      Chargista: Amarildo O começo de tudo: agendamento de consulta. O que deveria ser um momento prático e rápido pode levar toda sua preciosa manhã. Se alguma alma santa atender ao telefone, considere-se uma pessoa de sorte, pois na maior parte das vezes te esquecem no abismo de “tu-tu-tu” dos cabos

Árvore da Vida, Igor Westphalen

Pensamentos que irrigam, Baobá - Pça da República, Recife Os galhos do corpo, Neurônios que inflam, As veias do tronco. Flores e olhares, Atraem a feminina, Folhas e narinas, Respiram novos ares. Pólen copulando o óvulo, Espermatozoide estuprando o néctar, Ser mil e um sem rótulos, Ser árvore liberta. Terra viva de onde vem e pra onde vai, Onde a ciência ou a fé se desmistifica, A História em espiral se faz e refaz, No solo fértil da árvore da vida. (Em: Janela e Paisagem, pág. 17)

O Relógio, Raquel Brabec

     Últimos preparativos antes de sair. No corredor para a porta de sua casa, Jorge deu uma última olhada no espelho. Vai ser um encontro tranquilo , pensou pela nonagésima vez. Apenas mais uma ocasião para jogar conversa pro ar e relembrar bons momentos . Sua mente trabalhava para pensar desse jeito, mas o suor em suas mãos indicava um alerta biológico mais antigo, incompatível com o pensamento. Encurralado , foi a palavra que surgiu em alguma zona primitiva e instintiva da sua mente, longe do olhar acusador da razão.      Após olhar mais uma vez para o relógio, a terceira em um curto espaço de tempo, a ficha caiu e o cérebro de Jorge, esgotado pelo dilema, se deu por vencido. Não, não seria um momento saudosista, de troca de amenidades.Seria o encontro de turma do colégio.      Passaram-se anos após o fim dos estudos. Cada um seguiu seu caminho, ocasionalmente cruzado por um evento de maior significado, como aniversário, carnaval ou casamento. Os te

História bonita (14): Ismael, primeiro da família a ter curso superior.

" O filho do pedreiro com a catadora de castanhas também venceu" , foi com essa faixa que Ismael se apresentou no palco quando foi chamado para receber seu diploma de bacharel em Direito. Assim,(ao lado) Ismael do Nascimento Silva homenageou os pais: D. Maria do Socorro catadora de castanhas e que só estudou até o 3º ano do ensino fundamental  e Sr.Antônio que ficou no primeiro ano do ensino médio e é pedreiro. #MeusPaisMeusHeróis. Diferente do usual nas solenidades quando o aluno entra com um dos pais, Ismael entrou com o pai e a mãe e explicou: “Os dois entraram na colação de grau comigo porque são meus maiores exemplos de humildade, honestidade, dedicação e amor. Apesar de não terem condições, me deram assistência financeira para me manter no curso”, contou Ismael, que foi bolsista do Programa Universidade para Todos no Instituto Camilo Filho, em Teresina (PI). O jovem piauiense de 25 anos já tem carteira da OAB. Conseguiu aprovação no rigoro

O Punhal, Manoel de Barros

Imagem de Adriana Lafer Eu vi a cigarra atravessada pelo sol - como se um punhal atravessasse o corpo. Um menino foi, chegou perto da cigarra, e disse que ela nem gemia. verifiquei com meus olhos que o punhal estava atolado no corpo da cigarra. E que ela nem gemia! Fotografei essa metáfora. Ao fundo da foto aparece o punhal em brasa.  Arquitetura do Silêncio Manoel de Barros - Adriana Lafer Edições de janeiro - 2015

E Se Eu Comprar Um Kindle? Regina Porto

     Já me imagino lendo livro digital. Ops, livro digitalizado!!   Como seria?  Me sentiria o máximo, claro, mas concluiria que teria de viver no mundo do Kindle e no de papel.        São décadas de treinamento nos rituais dos viciados em livros.   Aposto que continuaria entrando nas livrarias, perambulando por todos os setores, prestando atenção nas capas. Sim, elas são atraentes. Cheirando o(s) livro(s) escolhido e, se resistisse,  compraria o produto digital.      Pensa que é fácil sair sem carregar uma sacola com pelo menos 1 exemplar? A sacola faz parte do ritual dos deuses das traças.        E presentear?  Aliás, receber de presente um livro digitalizado? Cadê o pacote? E a sensação prévia de qual livro será?  Ver a felicidade no rosto do doador, já não é um presente em si?       Estava em São Paulo no dia do meu aniversário e foi meu netinho fofo, o Theo, quem me entregou um pacote azul bem cuidado. Vó e neto iguais na mesma curiosidade e pressa em abrir o

A Viagem, Maurício Pons

                             Partiu às dezenove horas e meia o ônibus que deveria ter saído sessenta minutos antes, o que geralmente acontece com esses pinga-pinga de sexta-feira. Quando tomei meu lugar na poltrona 27 o veículo já estava bastante ocupado. O ar em seu interior sustentava partículas diversas: perfume barato,salgadinho de queijo e pés suados. O compartimento de água mineral estava vazio,e meu desejo de que o reabastecessem  novamente não foi satisfeito. Por sorte logo iríamos fazer uma parada de meia hora para troca de motorista e jantar. Não que eu estivesse com fome - não estava, mas vou precisar da água.      Gosto de viagens longas em ônibus. É quando consigo pensar. Pensar em quê? Em respostas! Não em respostas que eu procuro, mas nas que procuram em mim. Não nas certas, mas nas erradas, nas que falei sem ao menos pensar por cinco segundos. Essa é a ironia. Falo sem pensar, e depois não penso em outra coisa, nas possibilidades, oportunidades perdida