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Aniversariantes de maio (3) Ascenso Ferreira




              Trem de Alagoas
      O sino bate,
      o condutor apita o apito,
      solta o trem de ferro um grito,
      põe-se logo a caminhar...

      — Vou danado pra Catende,
      vou danado pra Catende,
      vou danado pra Catende
      com vontade de chegar...

      Mergulham mocambos
      nos mangues molhados ,
      moleques mulatos,
      vem vê-lo passar.

      — Adeus!
      — Adeus!

      Mangueiras, coqueiros,
      cajueiros em flor,
      cajueiros com frutos
      já bons de chupar...

      — Adeus, morena do cabelo cacheado!
      — Vou danado pra Catende,
      vou danado pra Catende,
      vou danado pra Catende
      com vontade de chegar...

      Na boca da mata
      há furnas incríveis
      que em coisas terríveis
      nos fazem pensar:

      — Ali mora o Pai-da-Mata!
      — Ali é a casa das caiporas!

      — Vou danado pra Catende,
      vou danado pra Catende,
      vou danado pra Catende
      com vontade de chegar...

      Meu Deus! Já deixamos
      a praia tão longe...
      No entanto avistamos
      bem perto outro mar...

      Danou-se! Se move,
      parece uma onda...
      Que nada! É um partido
      já bom de cortar...

      — Vou danado pra Catende,
      vou danado pra Catende,
      vou danado pra Catende
      com vontade de chegar...

      Cana-caiana
      cana-roxa
      cana-fita
      cada qual a mais bonita,
      todas boas de chupar...

      — Adeus, morena do cabelo cacheado!
      — Ali dorme o Pai-da-Mata!
      — Ali é a casa das caiporas!

      — Vou danado pra Catende,
      vou danado pra Catende,
      vou danado pra Catende
      com vontade de chegar...



      In:Poemas de Ascenço Ferreira, Nordestal Editora, 1995, PE 

      Nessa postagem : Vou Danado Pra Catende, com Alceu Valença e Zé Ramalho. Música inspirada no poema de Ascenço Ferreira
      Este poema foi musicado por Inezita Barroso e pode ser pode ser visto em Cantiga Teatral 

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