Em Março, Esta Semana
Carlos Drummond de AndradeSegunda-feira a gente ficou presa
não no distrito: em casa, ante o combate
de Cassius Clay e Frazier... Que tristeza
ver Muhammad Ali tatibitati,
hesitando, caindo, prolongando
por 15 rounds nossa aflição
inglória:
Vai resistir? Virar a luta?
Quandoacaba a cruenta e lenta história?
Sem apostar um dólar ou cruzeiro
pois nutro por tabefes sacro
enjoo),lamento haver perdido: o palradeiro
tem minha simpatia no seu voo
rumo à ideia de paz,num mundo de
guerra.
Até um boxeador acusa o víciode nos entretermos sobre a terra,
este açougue instalado num hospício.
Lá se foi Harold Lloyd, um velho
chapa
do tempo em que o cinema era
caladoe a gente é que falava... Eis que à socapa
voltam risos e sombras do passado.
- Viu Carlito no Circo? - Não
quis ver,
pois já não sou broto carlitiano,e procurando nele o antigo ser,
não mais o encontro ... Deve haver engano.
Mudaria Carlito ou mudei eu?
(Sempre me perseguindo o eterno
Assis,como se a vida não me houvesse assaz
revelado o segredo de uma noz
escondida num papo de avestruz.)
A rima neste ponto se perdeu,
mas que importa? Se a Light não me apagaa luz, visitarei com Geyse Bôscoli
(oh abram alas!) Chiquuinha Gonzaga
no livro que através o tempo fosco lhe
recorda o humano e musical perfil.
Que mulher e que mina de talento
Em polca, xote, valsa, tango, mil
Composições, arte lançada ao vento!
Mas que é isso, no Parque de
Iguaçu?
Que diz o Frisch? Por manhas de
posseirosvejo as fontes secando e o solo nu?
Roubam nossos tesouros derradeiros?
Orlando Vilas-boas, por seu lado,
no Parque do Xingu, pede magoado:- Mudem-me, por favor, esse traçado
de rodovia, que desmantelado
deixa o viver de índio na
floresta
e nada lhe oferece além da
tristeintegração, essa ilusória festa
a que ele, sem defesa, não resiste.
Falar em índio, grande livro
este,
novinho, de Darcy Ribeiro. Leste?Uma serena avaliação de dados
a serem fundamente meditados
enquanto não se extingue a velha
raça
de teto errante e de ventura
escassa.Já não mais tranço as rimas, e daí?
Parelhas são, mas contam que li,
o que vi ( ou não vi)
prestando ouvido
na direção do terceiro partido.Quem é que vai fundar, que pioneiro,
um que falta; o primeiro e verdadeiro?
Havia de ser bom. Mas como? Onde?
o eco anda maroto, não
responde.E vem-me a tentação, mais uma vez,
de romper estruturas... Um, dois, três:
Sugiro a audição do poema Morte No Avião, que o(a) internauta do Diário Caçadorense informa ser a página 111 do livro A Rosa do Povo.
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