Na minha terra, no bulir do mato,
A juriti suspira;
E como o arrulo dos gentis amores,
São os meus cantos de secretas dores
No chorar da lira.
De tarde a pomba vem gemer sentida
À beira do caminho;
— Talvez perdida na floresta ingente —
A triste geme nessa voz plangente
Saudades do seu ninho.
Sou como a pomba e como as vozes dela
É triste o meu cantar;
— Flor dos trópicos — cá na Europa fria
Eu definho, chorando noite e dia
Saudades do meu lar.
A juriti suspira sobre as folhas secas
Seu canto de saudade;
Hino de angústia, férvido lamento,
Um poema de amor e sentimento,
Um grito d’orfandade!
Depois... o caçador chega cantando.
À pomba faz o tiro...
A bala acerta e ela cai de bruços,
E a voz lhe morre nos gentis soluços,
No final suspiro.
E como o caçador, a morte em breve
Levar-me-á consigo;
E descuidado, no sorrir da vida,
Irei sozinho, a voz desfalecida,
Dormir no meu jazigo.
E — morta — a pomba nunca mais suspira
À beira do caminho;
E como a juriti, — longe dos lares —
Nunca mais chorarei nos meus cantares
Saudades do meu ninho!
Para o amigão Luiz, com um abraço.
Cassimiro de Abreu em caricatura de André Lemes |
Cassimiro José Marques de Abreu
04 janeiro 1839, Barra de São João (RJ) - 18 outubro 1860,Friburgo (RJ)
Escola literária: romantismo
Obras mais importantes:
Primaveras (1859) - Poesias
Meus Oito Anos - Poesias
Camões e o Jau" (1856) -Teatro
Cassimiro de Abreu é o patrono da cadeira 6 da Academia Brasileira de Letras ocupada atualmente por Cícero Sandroni.
Fonte:
http://www.dominiopublico.gov.br/,
www.wikipedia.com.br
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/casimiro-de-abreu/casimiro-de-abreu.php
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