
AMAMOS sempre no que temos O que não temos quando amamos. O barco pára, largo os remos E, um a outro, as mãos nos damos. A quem dou as mãos? À Outra. Teus beijos são de mel de boca, São os que sempre pensei dar, E agora e minha boca toca A boca que eu sonhei beijar. De quem é a boca? Da Outra. Os remos já caíram na água, O barco faz o que a água quer. Meus braços vingam minha mágoa No abraço que enfim podem ter. Quem abraço? A Outra. Bem sei, és bela, és quem desejei... Não deixe a vida que eu deseje Mais que o que pode ser teu beijo E poder ser eu que te beije. Beijo, e em quem penso? Na Outra. Os remos vão perdidos já, O barco vai não sei para onde. Que fresco o teu sorriso está, Ah, meu amor, e o que ele esconde! Que é do sorriso Da Outra? Ah, talvez, mortos ambos nós, Num outro rio sem lugar Em outro barco outra vez sós Possamos nos recomeçar Que talvez sejas A Outra. Mas não, nem onde essa paisagem É sob eterna luz eterna Te acharei mais que alguém na viagem Que amei com ansiedade terna Por ser parecida Com a Outra. Ah, por ora, idos remo e rumo, Dá-me as mãos, a boca, o ter ser. Façamos desta hora um resumo Do que não poderemos ter. Nesta hora, a única, Sê a Outra. Este blog vai trazer Fernando Pessoa e seus heterônimos nas quintas-feiras dias: 16,23 e 30 de junho |
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