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Mostrando postagens de junho, 2011

O Cunhado de São Pedro

       Era um velho que tinha uma filha e três filhos. Um dia, apareceu um rapaz que lhe pediu a filha em casamento. Assim que acabou de se casar pegou a mulher e foi-se embora com ela, sem querer que a moça levasse nada, nada, da casa do pai. Só mesmo a roupa do corpo foi o que ela levou. Porque o rapaz era São Pedro, portanto não havia de conduzir para sua casa coisa que tivessem ranço de pecado.       A moça vivia muito bem. Porém, tinha um desgosto: era que o marido não passava um dia que fosse em casa, pois sendo pastor de ovelhas não podia nunca deixar de levar os animais para o pasto. O irmão mais velho da moça indo visitá-la, ela contou-lhe isso. Então o rapaz esperou que o cunhado voltasse. Quando foi de noite, que ele chegou, disse:       - Cunhado, minha irmã se queixa de que você desde que se casou ainda não pôde parar um dia que fosse, em casa, por causa das ovelhas. Eu amanhã vou pastorar elas e o cunhado fica em casa.       São Pedro disse que sim.

Prece do Amazonense em São Paulo, Milton Hatoum

Teatro Amazonas Poema inspirado em Carlos Drummond de Andrade   Espírito do Amazonas, me ilumina, e sobre o caos desta metrópole, conserva em mim ao menos um fio do que fui na minha infância. Não quero ser pássaro em céu de cinzas nem amargar noites de medo nas marginais de um rio que não renasce. Teatro Amazonas, início da construção:1884, inauguração em 1886 O outro rio, sereno e violento, é pátria imaginária, paraíso atrofiado pelo tempo. Amazonas: Tua ânsia de infinito ainda perdura? Ou perdi precocemente toda esperança? Os que te queimam, impunes, têm olhos de cobre, mãos pesadas de ganância. Ilhas seres rios florestas: o céu projeta em mapas sombrios manchas da natureza calcinada. Tento abraçar a imagem fugidia de um barco à deriva no mormaço com os mitos que a linguagem inventa. Espírito amazonense, tímido talvez, e desconfiado para sempre, não me fujas em São Paulo, nem me deixes à mercê dos pesadelos que incendeiam o

Crônica cantada:Bolsa de Grife - Vanessa da Mata

Bolsa de Grife Vanessa da Mata Comprei uma bolsa de grife Mas ouçam que cara de pau Ela disse que ia me dar amor Acreditei que horror Ela disse que ia me curar a gripe Desconfiei mas comprei Comprei a bolsa cara pra me curar do mal Ela disse que me curava o fogo Achei que era normal Ela disse que gritava e pedia socorro Achei natural Ainda tenho a angustia e a sede A solidão, a gripe e a dor E a sensação de muita tolice Nas prestações que eu pago Pela tal bolsa de grife Nem pensei Impulso Pra sanar um momento Silenciar barulhos Me esqueci de respirar Um, dois, três Eu paro Hoje sei que tenho tudo Será? Escrevi em meu colar Dentro há o que procuro Meu amigo comprou um carro para se curar do mal

Horóscopo poético: Câncer: 21 de junho a 20 de julho,Vinicius de Moraes

Câncer Vinicius de Moraes Você nunca avance Em uma mulher de câncer. Seu planeta é a lua E a lua, é sabido, Só vive na sua. É muito apegada E quando pegada Pega da pesada. É a mulher que ama Com muito saber No tocante à cama Não sei lhe dizer... (Com o signo câncer, o blog LivroErrante encerra a publicação dos versos de Vinicius de Moraes iniciada em julho de 2010 com Leão).

Juriti, Cassimiro de Abreu

Na minha terra, no bulir do mato, A juriti suspira; E como o arrulo dos gentis amores, São os meus cantos de secretas dores No chorar da lira. De tarde a pomba vem gemer sentida À beira do caminho; — Talvez perdida na floresta ingente — A triste geme nessa voz plangente Saudades do seu ninho. Sou como a pomba e como as vozes dela É triste o meu cantar; — Flor dos trópicos — cá na Europa fria Eu definho, chorando noite e dia Saudades do meu lar. A juriti suspira sobre as folhas secas Seu canto de saudade; Hino de angústia, férvido lamento, Um poema de amor e sentimento, Um grito d’orfandade! Depois... o caçador chega cantando. À pomba faz o tiro... A bala acerta e ela cai de bruços, E a voz lhe morre nos gentis soluços, No final suspiro. E como o caçador, a morte em breve Levar-me-á consigo; E descuidado, no sorrir da vida, Irei sozinho, a voz desfalecida, Dormir no meu jazigo. E — morta — a pomba nunca mais suspira À beira do caminho; E como a

Crônica cantada: História de Lily Braun, Chico Buarque e Edu Lobo.

A história de Lily Braun Chico Buarque e Edu Lobo Como num romance O homem dos meus sonhos Me apareceu no dancing Era mais um Só que num relance Os seus olhos me chuparam Feito um zoom Ele me comia Com aqueles olhos De comer fotografia Eu disse cheese E de pose em pose Fui perdendo a pose Até sorrir feliz E voltou Me ofereceu um drinque Me chamou de anjo azul Minha visão foi desde então Ficando flou Como no cinema Me levava as vezes Uma rosa e um poema Foco de luz Eu feito uma gema Me desmilinguindo toda Ao som do blues Abusou do scotch Disse que meu corpo Era só dele aquela noite Eu disse please Xale no decote Disparei com as faces Rubras e febris E voltou No derradeiro show Com dez poemas e um buque Eu disse adeus Já vou com os meus Numa turne Como amar esposa Disse ele que agora Só me amava como esposa Não como star Me amassou as rosas Me queimou as fotos Me beijou no altar Nunca mais romance Nunca mais cinema Nunca mais drinque no dancing

Fernando António Pessoa Nogueira - Por ele mesmo

Nome completo : Fernando António Nogueira Pessoa,  nasceu em Lisboa em 13 de Junho de 1888. Filho de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Ascendência geral: misto de fidalgos e judeus.(resumido pelo blog) Estado civil : Solteiro. Profissão : A designação mais própria será "tradutor", a mais exacta a de "correspondente estrangeiro" em casas comerciais. O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação. Morada : Rua Coelho da Rocha, 16, 1º. Dto. Lisboa. (Endereço postal - Caixa Postal 147, Lisboa). Funções sociais que tem desempenhado : Se por isso se entende cargos públicos, ou funções de destaque, nenhumas. Obras que tem publicado : A obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e publicações ocasionais. É o seguinte o que, de livros ou folhetos, considera como válido: "35 Sonnets" (em inglês), 1918; "English Poems I-II" e "English Poems III" (em inglês também), 1922;

O Rio da Minha Aldeia - Tom Jobim e Fernando Pessoa

Clique na imagem para ouvir a música O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. O Tejo tem grandes navios E navega nele ainda, Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, A memória das naus. O Tejo desce de Espanha E o Tejo entra no mar em Portugal. Toda a gente sabe isso. Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E para onde ele vai E donde ele vem. E por isso porque pertence a menos gente, É mais livre e maior o rio da minha aldeia. Pelo Tejo vai-se para o Mundo. Para além do Tejo há a América E a fortuna daqueles que a encontram. Ninguém nunca pensou no que há para além Do rio da minha aldeia. O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele. http://som13.com.br/antonio-carlos-jobim/albums/perfil-vol2/o-rio-da-minha-aldeia

Aniversariante do dia: Fernando Pessoa

A Outra Amamos Sempre no Que Temos   <>  <> AMAMOS sempre no que temos O que não temos quando amamos. O barco pára, largo os remos E, um a outro, as mãos nos damos. A quem dou as mãos? À Outra. Teus beijos são de mel de boca, São os que sempre pensei dar, E agora e minha boca toca A boca que eu sonhei beijar. De quem é a boca? Da Outra. Os remos já caíram na água, O barco faz o que a água quer. Meus braços vingam minha mágoa No abraço que enfim podem ter. Quem abraço? A Outra. Bem sei, és bela, és quem desejei... Não deixe a vida que eu deseje Mais que o que pode ser teu beijo E poder ser eu que te beije. Beijo, e em quem penso? Na Outra. Os remos vão perdidos já, O barco vai não sei para onde. Que fresco o teu sorriso está, Ah, meu amor, e o que ele esconde! Que é do sorriso Da Outra? Ah, talvez, mortos ambos nós, Num outro rio sem lugar Em outro barco outra vez sós Possamos nos recome

Crônica cantada:A Carta - Renato Russo e Erasmo Carlos

A Carta  Benil Santos e Raul Sampaio Escrevo-te estas mal traçadas linhas Meu amor Porque veio a saudade visitar meu coração Espero que desculpes os meus erros por favor Nas frases desta carta que é uma prova de afeição Talvez tu não a leias, mas quem sabe até dará Resposta imediata me chamando de meu bem Porém o que me importa é confessar-te uma vez mais Não sei amar na vida mais ninguém Tanto tempo faz Que li no teu olhar A vida cor de rosa que eu sonhava E guardo a impressão De que já vi passar Um ano sem te ver Um ano sem te amar Ao me apaixonar por ti não reparei Que tu tivestes só entusiasmo E para terminar amor assinarei Do sempre sempre teu

A Criança e o Adolescente Brasileiros Estão Lendo Mais.

     Segundo informa a Câmara Brasileira do Livro, as vendas de livro infanto-juvenis cresceram 9,6% em relação ao ano anterior. Ednilson Xavier, presidente da Associação Nacional de Livrarias informou que crianças e adolescentes são responsáveis por 15% do faturamento das lojas .Estas informações foram dadas ontem, dia 08.06 durante o 2º Encontro Nacional do Varejo do Livro Infantil e Juvenil, realizado dentro do 13ª Salão Nacional do Livro Infantil e Juvenil, no Rio de Janeiro.      A Câmara Brasileira do Livro diz ,ainda, que aproximadamente 2,5 mil livros do total de 12.000 novos títulos lançados em 2010, foram de literatura para crianças e adolescentes. O que ratifica o que diz a diretora da fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Ísis Valéria Gomes, para quem a maior produção é resultado do maior interesse desse público.      Outro dado que deixa este blog feliz é o de que é das crianças e adolescentes a liderança no ranking de crescimento de leitura.      

O Bilhete de Loteria, Anton Tchekhov

                                                                       Ilustração da Poty      I van Dimítritch, homem de classe média gastando com a família 1200 rublos por ano e muito satisfeito com a sua sorte, certo dia, depois do jantar, sentou-se no sofá e começou a ler o jornal. - Esqueci de dar uma olhada no jornal de hoje – disse sua mulher tirando os pratos da mesa. –  Espia se não saiu a tabela das tiragens. - Saiu,sim– respondeu Ivan Dmítritch -, mas você não foi o teu bilhete que sumiu no penhor? - Não, eu fui levar os juros na terça-feira e o encontrei. - Que número? - Série 9499, bilhete 26. - Humm... vamos ver...… 9499 e 26. Ivan Dimítritch não acreditava em sorte de loteria e, em outra ocasião, jamais coferiria a tabela das tiragens, mas agora, por falta  de assunto  e porque o estava mesmo diante dele, passou o dedo de cima para baixo pela coluna dos números de série. E no mesmo instante, como que zombando de sua falta de fé, logo na segund

Oração para Marilyn Monroe, Ernesto Cardenal

01.06.1926 - 05.08.1962 Senhor, recebe esta moça conhecida em toda a terra pelo nome de Marilyn Monroe ainda que este não seja o seu nome verdadeiro (mas Tu conheces o seu nome verdadeiro, o da pequena orfã). violentada aos 9 anos, a empregadinha de loja que quis se matar aos 16 e agora se apresenta diante de Ti sem nenhuma maquilagem Sem seu Agente de Imprensa Sem fotógrafos e sem assinar autógrafos sozinha como um astronauta diante da noite espacial. Ela sonhou quando menina que estava nua em uma igreja (de acordo com a Time) diante de uma multidão prostrada, com as cabeças no chão e tinha que caminhar na ponta dos pés para não pisar nas cabeças. Tu conheces nossos sonhos melhor que os psiquiatras. Igreja, casa, cova, são a segurança do seio materno mas também é mais que isso.

Texto musical:"Quando o sono não chegar, Cordel do Fogo Encantado

Quando O Sono Não Chegar  Cordel do Fogo Encantado Neste quarto de fogo solitário No telhado um letreiro esfumaçado Candeeiro no peito iluminado O cigarro no dedo incendiário O cinzeiro esperando o comentário Da palavra carvão fogo de vela Meus dois olhos pregados na janela Vendo a hora ela entrar nessa cidade Tô fumando o cigarro da saudade E a fumaça escrevendo o nome dela O prazer de quem tem saudade é saudade todo dia O prazer de quem tem saudade é saudade todo dia Ela é maltratadeira Além de ser matadeira ô saudade companheira De quem não tem companhia Eu vou casar com a saudade Numa madrugada fria Na saúde e na doença Na tristeza e na alegria Quando o sono não chegar No mais distante luga No deserto beira mar Dia e noite noite e dia 

Tem Coisa Mais Linda?

     Um integrante, o Rick, da comunidade Livro Errante , nos trouxe como proposta de comemoração de aniversário de 4 anos, colaborar com a garotinha Laura, de Sorocaba-SP. Por que vamos colaborar com a Laurinha? Ora, porque para viciados em livros que somos, tem coisa mais fofa que uma mensagem destas?     Olá pessoal!! Meu nome é Laura. Tenho 7 anos, sou uma menina muito simpática, e tenho muita energia e vontade de descobrir tudo. Meu sonho, é ter uma biblioteca, primeiro, quero ajudar meus amiguinhos e quem sabe, até mais e mais crianças!!! Eu gosto muito de ler. Tive essa curiosidade despertada quando tinha 4 aninhos, e comecei a frequentar a escolinha,o maternal. Minha professora, Tia Cris, nos ensinou um grande bem que podemos ter para a vida toda. Ela montou pra gente uma casinha(com materiais reciclaveis), a casinha da história e da poesia. Nossa... eu e meus amigos não víamos a hora de chegar para conhecermos mais uma super história. Era uma viajem muuuito legal. (eu

Aniversariante do dia: Zuenir Ventura

Recado de Primavera. Zuenir Ventura   Meu caro Rubem Braga:      Escrevo-lhe aqui de Ipanema para lhe dar uma notícia grave: a primavera chegou. Na véspera da chegada, não sei se lhe contaram, você virou placa de bronze, que pregaram na entrada do seu prédio. O próximo a ser homenageado é seu amigo Vinicius de Moraes, e é essa lembrança que me faz parodiar o “Recado de primavera”, que você mandou ao poeta quando ele se tornou nome de rua.      Sua crônica foi lida na inauguração da placa, durante uma cerimônia rápida e simples, para você não ficar irritado. A idéia foi da Confraria do Copo Furado, um alegre clube de degustadores de cachaça que não existia no seu tempo. Antes que alguém dissesse “mas como, se Rubem só tomava uísque!”, o presidente da confraria, Marcelo Câmara, se apressou em lembrar que Paulo Mendes Campos uma vez revelou que o maior “orgasmo gustativo” do velho Braga, na verdade, foi bebendo uma boa pinga num boteco do Acre. Paulinho, que deve estar aí a