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Mostrando postagens de julho, 2011

Crônica cantada: Márcio Faraco

Na Casa de Seu Humberto Márcio Faraco Na casa do meu avô Seu Humberto Faraco Eu subia no telhado Pra roubar goiaba do seu Paco Minha avó atrapalhada Confundia o nome da gente Chamava o Nélson de Jova E eu de um nome diferente Desce daí Néquinho Sérgio, Flavinho, Mário, Darcy Até acertar o meu nome Eu já nem «tava» mais ali Nós éramos três meninos Numa confusão de gurias Eu, o Nélson e o Jova Filho de Beatriz, minha tia E aí veio Giulianna Logo depois a Caroline Thaís chegou há pouco Na família das meninas Antes era Lulu and Lili, Gica, Bribri, Gyssia e Cristina Ah, quanta guria solta A atazanar a Constantina Eu me lembro desse tempo Guilherme não tinha nascido Na cristaleira, todos os doces Antes do almoço era proibido Eu vou contar agora O que ninguém nunca revelou A chave da cristaleira Ficava em cima do armário do vô

Aniversariante do dia: Mário Quintana

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade. Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como WinstonChurchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altu

Quintana cantado.

A imagem perdida Mário Quinta na Como essas coisas que não valem nada E parecem guardadas sem motivo Alguma folha seca... uma taça quebrada Eu só tenho um valor estimativo... Nos olhos que me querem é que eu vivo Esta existencia efêmera e encantada... Um dia hão de extinguir-se, então, mais nada Mais nada Refletirá meu vulto vago e esquivo... E cerraram-se os olhos das amadas, O meu nome fugiu de seus lábios vermelhos, Nunca mais, de um amigo, o caloroso abraço... E, no entretanto, em meio desta longa viagem, Muitas vezes parei... e, nos espelhos, Procuro em vão, minha perdida imagem! (Hoje, Mário Quintana faria  105 anos. Por causa do aniversário de um dos maiores poetas brasileiros o blog deixará a postagem de Crônica cantada, para amanhã dia 31.) Veja também: http://livroerrante.blogspot.com/2011/07/aniversariante-do-dia-mario-quintana.html

História bonita: Bicicloteca

Imagem: Alessandro Shinoda/FSP  O sr.Robson Mendonça é de Alegrete -RS, tem 60 anos e mora em São Paulo. Contou à Folha de São Paulo que gosta de ler mas sem ter endereço não pode pegar livro em biblioteca. Sonhos nascem de e apesar de adversidades. Com esse gaucho que se impressinou com A Revolução dos Bichos de George Orwell as adversidades levaram ao sonho de ter uma biblioteca para pessoas da rua como ele. Criou a Bicicloteca . Leva no bau da bicicleta livros que consegue por doações privadas e que ele empresta para quem quer e deixa o nome num caderno.  Quem pega emprestado devolve ou passa adiante para outro leitor, conforme explicou Sr. Robson, na Praça da Sé ao jornal Folha de São Paulo. Depois de ter perdido a mulher e a filha em um acidente, morou na rua por vários anos. Além disso foi ludibriado e perdeu direitos trabalhistas. Atualmente dirige uma ONG que atende pessoas da rua. Na Bicicloteca, vão Graciliano Ramos,Truman Capote e Lima Barreto e, mais que tudo, a dis

Quarta-feira é dia de conto: Heroismo

Heroismo Leonardo Schabbach Ele usava um colete à prova de balas. Não importava que dia da semana, que dia do mês ou que dia do ano: ele sempre usava o seu colete à prova de balas. Era precavido, ele dizia. A cidade anda muito violenta; nunca se sabe o que pode acontecer. Isso é uma verdade! Um belo dia, quando estava no banco, ocorreu um assalto. Três bandidos, armados de pistolas e metralhadoras, ameaçavam matar os reféns se o dinheiro não lhes fosse entregue com velocidade. Ele, muito seguro de si, sabendo da vantagem que levava sobre os assaltantes, afinal, seu colete estava bem escondido sob a camisa, disparou na direção de um deles para desarmá-lo. Um segundo depois, caiu morto. Ataque cardíaco fulminante, disseram os legistas quando chegaram na cena do crime.

Segunda-feira poética: História passional....Vinícius de Moraes

História passional, Hollywood, Califórnia Imagem Agência Estado Vinicius de Moraes Preliminarmente, telegrafar-te-ei uma dúzia de rosas Depois te levarei a comer um shop-suey Se a tarde também for loura abriremos a capota Teus cabelos ao vento marcarão oitenta milhas. Dar-me-ás um beijo com batom marca indelével E eu pegarei tua coxa rija como a madeira Sorrirás para mim e eu porei óculos escuros Ante o brilho de teus dois mil dentes de esmalte. Mascaremos cada um uma caixa de goma E iremos ao Chinese cheirando a hortelã-pimenta A cabeça no meu ombro sonharás duas horas Enquanto eu me divirto no teu seio de arame. De novo no automóvel perguntarei se queres Me dirás que tem tempo e me darás um abraço Tua fome reclama uma salada mista Verei teu rosto através do suco de tomate. Te ajudarei cavalheiro com o abrigo de chinchila Na saída constatarei tuas nylon 57 Ao andares, algo em ti range em dó sustenido Pelo andar em que vais sei que queres dança

Crônica cantada:Balada para Giorgio Armani - Zeca Baleiro

    Balada para Giorgio Armani Zeca Baleiro Giorgio Eu tive um sonho risonho e terno Sonhei que eu era um anjo elegante no inferno Giorgio Eu sinto medo na longa estrada O medo é a moda desta triste temporada Giorgio Tá tudo assim nem sei tá tão estranho A cor dessa estação é cinza como o céu de estanho Giorgio Tá tudo assim nem sei tá tão estranho A cor dessa estação é cinza como o céu de estanho Quando um dia enfim findar Este outono eterno Quero que você me aqueça Com a sua coleção de inverno Giorgio Pobre de quem não tem Será que eu estou bem Na capa da revista

720 dias sob censura

O jornal está sob censura há 720 dias

Quarta-feira é dia de conto:Estória De Traição, Em Que O Marido,Que Vai Matar, Morre.

Estória De Traição, Em Que O Marido,Que Vai Matar, Morre.      Crsipim tinha ido matar zico, cismado de que Zico estava desaquietando Francisquinha mulher dele,Crispim.      Crispim era má caça, pra começo. Junto com Zico, costumava atuar na praça, trapaceado a humanidade durante o dia e gastando à noite, na fuzarca, o apurado. Zico, lá pra ele, se achava de melhor pano. Dizia pro Crispim, ô Crispim, eu ando junto com tu, bebo, prego lorota, faço essas coisas todas, mas gostar, sabe, eu não gosto. Qualquer dia eu me ajeito e vou é ser bispo. Pensei que tu is dizer Jesus Cristo. Aí, não. O que tu é, é baitola, Crispim disse. Tu não viu nada ainda, emendou o outro.      Crispim era casado. Zico, não. A mulher de Crispim, Francisquinha, Crispim se mordia de ciúmes dela. Talvez razão nenhuma tivesse. Francisquinha tinha o corpo flexível, umas ancas arredondadas, peitos fogosos. Segundo alguns, era um fogréu difícil de apagar. Opiniões safadas. No fundo era uma mulher da casa dela

Lésbia - Cruz e Souza

Lésbia. John Reinhard Weguelin Cróton selvagem, tinhorão lascivo, Planta mortal, carnívora, sangrenta, Da tua carne báquica rebenta A vermelha explosão de um sangue vivo. Nesse lábio mordente e convulsivo, Ri, ri risadas de expressão violenta O Amor, trágico e triste, e passe, lenta, A morte, o espasmo gélido, aflitivo... Lésbia nervosa, fascinante e doente, Cruel e demoníaca serpente Das flamejantes atrações do gozo. Dos teus seios acídulos, amargos, Fluem capros aromas e os letargos, Os ópios de um luar tuberculoso... _______________________________________________________________________ João da Cruz e Sousa : Florianópolis 24.11.1861 — Minas Gerais,19.03.1898. Era filho de escravos alforriados e foi criado por seus ex-patrões. Aprendeu Francês, Latim e Grego. Pertence à escola simbolista assim como Alphosus Guimarães. O simbolismo tem como característica: métrica definida, desrespeito à gramática para não limitar o autor, linguagem

Os 10 mais vendidos da Flip 2011

 valter hugo mãe , na flip 2011 Por causa de provas seguidas de uma forte gripe limitei minhas postagens e não cheguei a mencionar a FLIP - A Feira de Literatura de Paraty - 2011. Agora, sobrevivente de virus e de f érias, vejo que uma Autor angolano ( a África apoderou-se da literatura lusa ) praticamente desconhecido no Brasil foi o dono da festa. E quem é este angolano que engrossa a fila africanos tão aplaudidos aqui?  valter hugo mãe.   Pensa que escrevi errado? nada! O autor escreve seu nome com letras minusculas. Façamos, então como ele e vamos saber porque valter foi o dono da festa.   O escritor arrebatou a plateia. Não parou por aí e foi o mais vendido...  O blog, vai resumir pra explicar porque eu preciso conhecer esse cara. Os mais vendidos da Flip - 2011 A máquina de fazer espanhois, Ed.Cosac Naify RS39,00 1 - A Máquina de Fazer Espanhóis - valter hugo mãe ( Angola) 2 - O Remorso de Baltazar Serapião - valter hugo mãe (Angola) 3 - Muito Além do Nosso Eu

Aniversariante da semana: Pablo Neruda

Pablo Neruda: Parral 12.06.1904-Santiago 23.09.1973 Meu primeiro poema      Agora vou contar-lhes uma história de pássaros. No lago Budi, os cisnes eram perseguidos com ferocidade. Aproximavam-se deles sorrateiramente nos botes e, em seguida, rápido rapido, remavam... Os cisnes, como o albstroz, devem correr patinando sobre a água,empreendendo dificilmente o vôo e levantando com dificuldade as grandes asas. Alcançados, eram exterminados a pauladas.      Trouxeram-me um cisne meio morto. Era uma dessas aves maravilhosas que não voltei a ver no mundo: o cisne de pescoço negro,uma nave de neve com o pescoço esbelto como que metido em uma estreita meia de seda negra, o bico alaranjado e os olhos vermelhos.      Isto foi perto do mar, em Porto Saavedra, Imperial do Sul.      Entregaram-no a mim quase morto. Lavei suas feridas e lhe empurrei pedacinhos de pão e peixe pela garganta. Devolvia tudo.No entanto, foi se refazendo de seus ferimentos, começou a perceber que eu era seu ami

Segunda-feira poética: Solidão, Mia Couto

Solidão Mia Couto Aproximo-me da noite o silêncio abre os seus panos escuros e as coisas escorrem por óleo frio e espesso Esta deveria ser a hora em que me recolheria como um poente no bater do teu peito mas a solidão entra pelos meus vidros e nas suas enlutadas mãos solto o meu delírio É então que surges com teus passos de menina os teus sonhos arrumados como duas tranças nas tuas costas guiando-me por corredores infinitos e regressando aos espelhos onde a vida te encarou Mas os ruídos da noite trazem a sua esponja silenciosa e sem luz e sem tinta o meu sonho resigna Longe os homens afundam-se com o caju que fermenta e a onda da madrugada demora-se de encontro às rochas do tempo Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas

Crônica cantada:Um Trem Para As Estrelas,Cazuza e Gilberto Gil

 Um Trem Para As Estrelas Cazuza e Gilberto Gil São sete horas da manhã Vejo o Cristo, da janela O sol apagou sua luz E o povo lá embaixo espera Nas filas dos pontos de ônibus Procurando aonde ir São todos seus cicerones Correm pra não desistir Dos seus salários de fome É a esperança que eles têm Nesse filme como extras Todos querem se dar bem Num trem pras estrelas Depois dos navios negreiros Outras correntezas Meu nego Num trem pras estrelas Depois dos navios negreiros Outras correntezas Meu nego Estranho, teu Cristo, Rio Que olha tão longe, além Tem os braços sempre abertos Mas sem proteger ninguém Eu vou forrar as paredes Do meu quarto de miséria Com manchetes de jornal Pra ver que não é nada sério Eu vou dar o meu desprezo Pra você que me ensinou Que a tristeza é uma maneira Da gente se salvar depois Num trem pras estrelas Depois dos navios negreiros Outras correntezas Meu nego Num trem pras estrelas Depois dos navios negreiros O

Quarta-feira é dia de conto: Lixo lixado, Mia Couto

Lixo, Lixado Mia Couto Orolando Mapanga não tinha onde cair vivo? É a impura verdade. Dele se fica sabendo que não existe pobreza de espírito. O que há é miséria sem espírito. O caso sendo universátil merece as tantas linhas. Pois o que importa não é o acontecimento mas a gente que há no não.acontecer da vida. Lugar de viver de Orolando era na lixeira, lá no interior, primeira transversal, à direita. Com boas vistas para o mar, mesmo na vertente de um monte de desperdicio. Apanhando boa brisa, mau grado os péssimos odores. Ali ele despachava os seus afazeres. Ao fim da tarde, saía a procurar restos de comida, gordurazinhas, singelas putrefacções. Raspava o fundo das latas, auscultava o ventre dos sacos. Ao ler seu constante sorriso, dir-se-ia que a felicidade é coisa encontrável mesmo na imundície. Orolando bem que defendia as vantagens do lugar: - Aqui não chega nenhum bandido. Lugar seguro de viver, isso ele garantia. Sossegado, também. Só no fim da madrugada o si

Mia Couto, o Biólogo Escritor.

     Mia Couto, um represente do realismo mágico na literatura  lusitana, nasceu na cidade de Beira em Moçambique em 5 julho.        Iniciou-se na literatura publicando alguns poemas  no jornal Notícias da Beira. Por breve tempo foi estudante de medicina, abandonando o curso e trabalhando como jornalista na Tribuna da cidade de Maputo, capital de Moçambique. Ficou no jornal até ele ser destruído. Trabalhou também nos jornais O Tempo e Notícias . Em 1983 publicou o primeiro livro: Raiz de Orvalho (poesias).           Mia Couto, por formação biólogo, é um dos mais importantes escritores de seu país e também o mais traduzido.       Tem narrativa peculiar e costuma tornar bem africana a língua portuguesa. Pessoalmente encontro toques de Guimarães Rosa no moçambicano Mia. Poesia: Raizes de orvalho (reeditado em 2001) Contos: Vozes Anoitecidas (1986) Cada Homem é uma Raça ( 1990 ) Estórias Abensonhadas ( 1994 ) Contos do Nascer da Terra ( 1997 ) Na Berma de Nenhuma

Plantio, Mário Chamie

Cava, então descansa. Enxada; fio de corte corre o braço de cima e marca: mês, mês de sonda. Cova. Joga, então não pensa. Semente; grão de poda larga a palma de lado e seca; rês, rês de malha. Cava. Calca e não relembra. Demência; mão de louco planta o vau de perto e talha: três, três de paus. Cova. Molha e não dispensa. Adubo; pó de esterco mancha o rego de longo e forma: nó, nó de resmo. Joga. Troca, então condena. Contrato; quê de paga perde o ganho de hora e troça: mais, mais de ano. Calca. Cova: e não se espanta. Plantio; fé e safra sofre o homem de morte e morre: rês, rés de fome cava. Sobre o autor: Mário Chamie faleceu ontem, dia 3, aos 78 anos. Era secretário de cultura da cidade de São Paulo. Foi o criador da Pinacoteca Municipal,Museu da cidade de São Paulo e Centro Cultural São Paulo. Tem mais de uma centena de obras publicadas e traduzidas. Nos anos 60 instaurou o "poema práxis" com o livro Lavra Lav