Cava,
então descansa.
Enxada; fio de corte corre o braço
de cima
e marca: mês, mês de sonda.
Cova.
Joga,
então não pensa. Semente; grão de poda larga a palma
de lado
e seca; rês, rês de malha.
Cava.
Calca
e não relembra.
Demência; mão de louco planta o vau
de perto
e talha: três, três de paus.
Cova.
Molha
e não dispensa.
Adubo; pó de esterco mancha o rego
de longo
e forma: nó, nó de resmo.
Joga.
Troca,
então condena.
Contrato; quê de paga perde o ganho
de hora
e troça: mais, mais de ano.
Calca.
Cova:
e não se espanta.
Plantio; fé e safra sofre o homem
de morte
e morre: rês, rés de fome
cava.
Sobre o autor:
Mário Chamie faleceu ontem, dia 3, aos 78 anos. Era secretário de cultura da cidade de São Paulo. Foi o criador da Pinacoteca Municipal,Museu da cidade de São Paulo e Centro Cultural São Paulo. Tem mais de uma centena de obras publicadas e traduzidas.
Nos anos 60 instaurou o "poema práxis" com o livro Lavra Lavra.
Poema práxis, é uma proposta de mostrar em poesia a prática da vida. É feito com uma apanhado de palavras dentro da semântica do tema que o autor escolhe.Os poetas práxis, achavam que a ideia do modernismo (semana de 22) havia chegado ao limite. Eles seriam o novo. O poema acima é um dos mais fáceis exemplos de poema práxis: com palavras mostra um cotidiano da vida rural. (Fontes:www.algumapoesia.com.br, wikipedia,Folha de São Paulo)
Re, leio o blog SEMPRE, mas do meu computador não consigo deixar comentários. Alguma coisa mal configurada por lá. Aproveitei esse passeio à casa da minha mãe para deixar um alô. Eu estava sentada na porta conversando com o 'povo' (coisas de interior) e um caboclo estava limpando um lote em frente. Na hora me veio à mente esse poema que eu já tinha lido aqui.
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