
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Aos amigos...

sábado, 20 de dezembro de 2008
Marley & eu - o filme

O studio Fox escolheu o Brasil e USA para fazer a estréia mundial porque os países têm a maiores populações de cães do mundo.
Marley & eu
Data: 25/12
Diretor:David Frankel
Ator: Owen Wilson (John)
Atriz: Jennifer Aniston (Jenny)
Poema de natal - Fred Matos
esplendida simbólica aurora
e o amor permeia o universo.
É tempo de renovar esperanças,
de rever amigos, de fazer planos.
É tempo propício a mudanças,
tempo de ser criança mesmo se já somos velhos.
É tempo de pensar na vida
e do que dela temos feito.
É tempo de prometer corrigir nossos defeitos
e mesmo não tendo jeito, de almejar a perfeição.
É quando os avaros doam
e os gulosos dividem o pão.
É quando os fortes perdoam
e os orgulhosos pedem perdão.
É quando o comércio vende em um mês por todo o ano
e o comerciante, mesmo contente, teme levar um cano
daquele pobre indigente
a quem empurrou juros de fazer corar cigano.
É quando os nossos filhos demonstram alguma ternura
e renovam suas juras de não perder outro ano.
É tempo de homens secos levarem flores pra casa
declarando amor eterno à mulher maltratada
que tratou o ano inteiro como se fosse de palha.
É quando comemoramos, fartos,
aquele singelo parto entre bichos na manjedoura.
Mas se aquela criança, que agora festejamos,
voltasse de novo à terra
para remir nossos pecados
teria destino mais triste do que ser crucificado.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Música da boa com Cláudio Almeida

O CD está à venda:
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Apagando as Pegadas - Josué Araújo
domingo, 14 de dezembro de 2008
Melhores leituras de 2008 - com. Livro Errante
Quando Nietzsche Chorou - Yalom
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
O livro que mais gostei em 2008 - indicação do internauta.

Delicado, verdadeiro, denso - Para Francisco é mais do que uma história de amor e superação. É um livro de rara beleza, em que a realidade e a poesia se entrelaçam, despertando nos leitores emoções essenciais. Um homem tem morte súbita, dois meses antes do nascimento do seu único filho. Assim nasceu o blog "para Francisco", de Cristiana Guerra, que foi transformado neste livro. Em seus textos, a publicitária mineira tenta entender e explicar dois sentimentos opostos e simultâneos vividos por ela, que ao mesmo tempo se transformou em viúva e mãe. Muitos questionamentos. Muitos raciocínios. Muito aprendizado. E a ânsia de Cris em falar para Francisco sobre seu pai, sobre o mundo e sobre si mesma. Textos delicados, ora engraçados, ora sensíveis, mas sempre envoltos pela urgência de ser feliz e superar a perda. R$23,90

Este livro conta a história de um grupo de pessoas, quase todos jovens,que se empenham em achar uma suposta obra-prima perdida do pintor Modigliani. Se descoberto, o quadro valeria uma fortuna incalculável.
R$29,00

"1984" não é apenas mais um livro sobre política, mas uma metáfora do mundo que estamos inexoravelmente construindo. Invasão de privacidade, avanços tecnológicos que propiciam o controle total dos indivíduos, destruição ou manipulação da memória histórica dos povos e guerras para assegurar a paz já fazem parte da realidade. Se essa realidade caminhar para o cenário antevisto em '1984', o indivíduo não terá qualquer defesa. Aí reside a importância de se ler Orwell, porque seus escritos são capazes de alertar as gerações presentes e futuras do perigo que correm e de mobilizá-las pela humanização do mundo.R$41,00 (edição comemorativa)

Palavras podem matar. Nenhuma outra descoberta poderia ser tão terrível para um escritor em crise. Estimulado por um misterioso caderno azul comprado na papelaria de um chinês em Nova York, Sidney Orr retoma a carreira, interrompida cerca de um ano antes. Sua escrita flui com tanto ímpeto nas convidativas páginas em branco que Orr parece ser carregado por ela. Aos poucos, porém, ocorre-lhe uma suspeita: as histórias que imagina podem ter uma relação secreta e inexplicável com o futuro das pessoas que lhe são próximas, como sua esposa e seu melhor amigo. Episódios fortuitos, palavras ditas e ouvidas ao acaso, notícias de jornal - tudo, de uma hora para outra, parece se relacionar com o drama pessoal de Orr, a crise de inspiração por que passou e a fase difícil que atravessa no casamento. Composto na forma de uma história de mistério, "Noite do Oráculo" é um dos livros mais engenhosos de Paul Auster. O leitor se pergunta constantemente se o chão que pisa é ficção ou realidade, se aquilo que presencia se passa no presente, no passado ou no futuro. a última palavra cabe à imaginação: nela soa a voz do oráculo, como se a escrita fosse uma forma de prever e produzir o futuro. R$45,50

Entre 1939 e 1943, Liesel Meminger encontrou a Morte três vezes. E saiu suficientemente viva das três ocasiões para que a própria, de tão impressionada, decidisse nos contar sua história, em "A Menina que Roubava Livros", livro há mais de um ano na lista dos mais vendidos do "The New York Times".Desde o início da vida de Liesel na rua Himmel, numa área pobre de Molching, cidade desenxabida próxima a Munique, ela precisou achar formas de se convencer do sentido da sua existência. Horas depois de ver seu irmão morrer no colo da mãe, a menina foi largada para sempre aos cuidados de Hans e Rosa Hubermann, um pintor desempregado e uma dona de casa rabugenta. Ao entrar na nova casa, trazia escondido na mala um livro, "O Manual do Coveiro". Num momento de distração, o rapaz que enterrara seu irmão o deixara cair na neve. Foi o primeiro de vários livros que Liesel roubaria ao longo dos quatro anos seguintes.E foram estes livros que nortearam a vida de Liesel naquele tempo, quando a Alemanha era transformada diariamente pela guerra, dando trabalho dobrado à Morte. O gosto de rouba-los deu à menina uma alcunha e uma ocupação; a sede de conhecimento deu-lhe um propósito. E as palavras que Liesel encontrou em suas páginas e destacou delas seriam mais tarde aplicadas ao contexto a sua própria vida, sempre com a assistência de Hans, acordeonista amador e amável, e Max Vanderburg, o judeu do porão, o amigo quase invisível de quem ela prometera jamais falar.Há outros personagens fundamentais na história de Liesel, como Rudy Steiner, seu melhor amigo e o namorado que ela nunca teve, ou a mulher do prefeito, sua melhor amiga que ela demorou a perceber como tal. Mas só quem está ao seu lado sempre e testemunha a dor e a poesia da época em que Liesel Meminger teve sua vida salva diariamente pelas palavras, é a nossa narradora. Um dia todos irão conhece-la. Mas ter a sua história contada por ela é para poucos. Tem que valer a pena. R$19,50

Seria ingênuo procurar uma chave que explicasse toda a grandeza deste livro diante do qual o repertório de adjetivos torna-se espantosamente ineficaz. Porém, é razoável atribuir parte do êxito de Cem anos àquela contaminação, pelo real, do universo maravilhoso da fictícia Macondo, onde se passa o romance. Aqui pesou muito a experiência jornalística de Garcia Márquez. E também a sombra do tcheco Franz Kafka(foi depois de ler a primeira frase de A metarmofose que Garcia Márquez decidiu que seria escritor). Mas, para além desses artifícios técnicos e influências literárias, é preciso que se diga que a atordoante sensação de realidade que transborda do livro deve-se ainda ao fato de que ele foi escrito, segundo o autor, para "dar uma saída às experiências que de algum modo me afetaram durante a infância". Tome-se, por exemplo, a primeira frase de Cem anos. Quando o escritor era pequeno, seu avô, o coronel Márquez, o apresentou mesmo, maravilhoso, ao gelo, tal como José Arcadio Buendia faz com o filho Aureliano. Do mesmo modo que José Arcadio, o avô de Garcia Márquez também carregava, na vigília e nos sonhos, o peso de um morto - o homem que havia assassinado. O coronel era marido de Tranquilina, aquela avó que encheu os primeiros anos e o resto da vida do neto Gabriel de histórias bem contadas. Garcia Márquez costuma dizer que todo grande escritor está sempre escrevendo o mesmo livro. "E qual seria o seu?", perguntaram-lhe. "O livro da solidão", foi a resposta. Apesar disso, ele não considera Cem Anos sua melhor obra (gosta demais de O outono do patriarca, onde o tema também está presente). O que importa? o certo é que nenhum outro romance resume tão completamente o formidável talento deste contador de histórias de solitários - que se espalham e se espalharão por muito mais de cem anos pelas Macondos de todo o mundo.R$24,80

Na Bíblia, as mulheres ocupam um lugar à sombra, por isso ficamos provados de sua sensibilidade na descrição dos acontecimentos. Numa narrativa envolvente, Anita Diamant resgata esse olhar feminino e dá vida às personagens bíblicas, recriando o ambiente em que viveram, seu cotidiano, suas provações e suas paixões.Filha de Jacó e Lia, Dinah - cuja trajetória é apenas sugerida no Livro do Gênese - é a figura central desta trama, que começa com a historia das quatro esposas de Jacó, q quem ela chama de "mães": Lia, Raquel, Zilpah e Bilah. O amor delas e o legado que lhe transmitem servem de apoio durante a fase de trabalho duro da juventude, no ofício de parteira e na vida nova em uma terra estrangeira. R$19,90

Outras indicações:
O Mandarim - Eça de Queiroz - R$8,00 (edição de bolso)
Triângulo - Ken Follet - R$8,00*
Todos os preços da Saraiva - www.saraiva.com.br *preço de: www.estatevirtual.com.br
Livro errante agradece as indicações de: Ana Luisa;Fred Matos;Alban;Evaldo Gonçalves;Enos Mendes;João Ricardo e Victor Loback
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Melhores livros infantis de 2008 - revista Crescer


Melhores livros infantis de 2008- revista Crescer

Melhores livros infantis de 2008 - revista Crescer

Melhores livros infantis de 2008 - revista Crescer

Melhores livros infantis de 2008 - revista Crescer

Melhores livros infantis de 2008 - revista Crescer

Melhores livros infantis de 2008 - revista Crescer

Melhores livros infantis de 2008 - revista Crescer

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Num Piscar de Olhos - Roberta Maropo
Roberta Maropo
Todos os dias, como um reloginho, Toni acordava-se às seis. Não que exatamente quisesse, mas dava seis horas - “pimba!”- ele acordava. A parte mais chata era que Sérgio só acordava depois das nove e todo esse tempo sozinho, em silêncio, era extremamente maçante. A impaciência sempre o dominava e por várias vezes tentava acordar “acidentalmente” Sérgio, mas este permanecia inabalável. O jeito era esperar. Com o passar dos anos, acostumou-se com a presença do outro, e perdeu aquele velho traquejo da independência. Naquele dia, em especial, Sérgio parecia antever a sua ansiedade e demorava-se mais a levantar. Toni mal se continha, até que às dez, Sérgio, enfim, apareceu.
Se havia uma coisa que Sérgio prezava era por seu sono. Seus hábitos caseiros e temperamento retraído permitiam que dormisse bastante. Como trabalhava em casa, ordenava seu tempo de modo a produzir o bastante no menor tempo possível, a fim de retornar ao seu sono reparador. Todo ato que necessitasse de um movimento para fora de sua cama era-lhe odioso. E se não fosse por Toni, talvez não fizesse metade do que fazia. Toni havia forçado-o a manter uma rotina, que incluía algumas incursões para fora da casa. Naquela manhã, deu-se ao luxo de estender seu sono, ignorando a espera do outro. Não foi uma das suas melhores noites.
- Bom dia. – resmungou.
Podia ouvir perfeitamente os sons do tráfego na rua, mas não ouviu nada além disso.
- Sou cego, mas não sou idiota. Eu sei que você estava me esperando. Vamos tomar café e terminar logo com isso.
Sérgio sabia que precisava de Toni para muitas coisas, e essa dependência irritava-o. Tinha sido um dos motivos pelos quais nunca pensara em casar. Achava que nunca precisaria de ninguém e que morreria antes de precisar. Nunca pensou que ficaria cego antes dos 30. Nunca pensou em muitas coisas, com as quais passou a se preocupar. Como a quantidade de passos que dava para alcançar certos lugares, por exemplo. Agora já era instintivo, mas a cada novo ambiente havia sempre a possibilidade de um pequeno acidente. Toni já o havia livrado de alguns deles e, em vez de ser grato, era mais ríspido com ele.
Toni sempre pareceu ignorar isso. Desde a cegueira de Sérgio, sua vida girava em função do outro. Sem ele, Sérgio provavelmente se enfurnaria dentro do quarto, se possível, até morrer. Parecia destinado a cuidar dele, como uma sina. Sérgio passara a ser sua responsabilidade, quase um dever. No começo foi difícil, mas se acostumara aos modos rudes, ao praguejar, às lamúrias, às parcas expressões de gratidão... Sérgio era quase uma profissão.
Nesse dia, o mau humor de Sérgio era justificado. Dois dias antes haviam encontrado o editor. Marconi, ou “Marco”, como ele insistia em ser chamado. Sérgio achava-o um paspalhão espaçoso, que não sabia comportar-se conforme sua idade. A reunião fora como sempre, ele havia elogiado seu trabalho. Mas Sérgio não teria esboçado aquele sorriso se soubesse o que viria depois. “Sergião, tá beleza as novas apostilas de alfabetização em braile. Mas a Prefeitura quer dar uns pitacos. Vão mandar uma professora falar com você. É gente boa, a moça. Você vai gostar dela. É cega também”.
O encontro com a professora seria aquela tarde e Sérgio suava às bicas, não sabia se de ódio ou de nervoso. E por mais que Toni insistisse em ficar em casa, Sérgio praticamente o “rebocou” àquele compromisso. Era demais aquela invasão na sua privacidade e de jeito algum iria enfrentar aquilo sozinho. Toni era muito mais agradável no trato com as pessoas, e certamente contornaria as coisas antes que despejasse toda a sua insatisfação na pobre moça.
Adele, a professora, o aguardava no Café Martina, a 4 quadras dali. O ar da tarde era fresco e ela escolheu uma mesa na calçada, de frente pra praia. Não podia ver o mar, mas podia sentir seu cheiro de sargaço, de pele suada, de bronzeador solar. Enquanto sorvia aquele aroma, ouviu o som de cadeira mexendo:
- Senhora Adele?
- Só Adele, por favor. Sérgio?
-... e Toni. Algum problema se ele reunir-se conosco?
- De forma alguma – sorriu.
A conversa fluiu muito melhor do que Sérgio esperava e Toni não iria precisar salvar a noite. Adele adorava o trabalho dele e insistira em conhecer o autor da obra. Seus alunos nunca receberam um material tão coerente com suas necessidades e ela nunca ficara tão satisfeita em ensinar. Adele explicava como funcionava o programa para deficientes visuais da prefeitura, mas Sérgio apenas concordava, sem ouvir uma única palavra. Focou naquela voz alta, acelerada e cheia de exclamações com espantosa fascinação.
Completamente diferente do seu jeito metódico, Adele era espontânea e impulsiva, muito mais parecida com Toni. Por falar em Toni... ele também estava muito mais quieto do que de costume. Provavelmente também teria reparado a personalidade atrativa de Adele. Com a vantagem que podia ver suas formas, sua boca... Sérgio não se importava com o físico dela, mas a imagem de sua boca surgia de diferentes modos à sua mente. Sua mão comichava de vontade de tocá-la e acabar com sua curiosidade.
Ao fim de uma tarde tão agradável, Sérgio, a pretexto de adquirir mais conhecimento sobre “o lado prático de seu trabalho”, combinou um novo encontro com a amável professora. E dessa vez, por mais que insistisse para que Toni permanecesse em casa, por mais que tentasse dissuadi-lo a não ir, este parecia entusiasmado e quase tão ansioso quanto ele. Calou-se também, ao lembrar-se da escada que dava acesso à Prefeitura. Iria encontrar Adele lá e não queria passar vergonha tropeçando com suas pernas bambas nos degraus.
Ocorreu que, ao pé da escada, ao avistar Adele aguardando na entrada, Toni adiantou-se e subiu afoitamente ao encontro dela. Sérgio, não esperando aquele ato impulsivo, segurou firmemente com os dois braços a amurada, como uma criança aprendendo a patinar. Endireitou-se rápido e cuidadosamente continuou, sozinho, escada acima, humilhado pelos sons das saudações que outro efusivamente fazia para a moça.
Toni percebeu a consternação de Sérgio quando este se aproximou, e baixou a cabeça. Adele, fingindo ou não ignorar, contornou a situação, conduzindo-os ao estacionamento. Lá ela estava organizando uma exposição de arte para deficientes visuais. Tudo podia ser tocado, sentido ou escutado. Adele apresentou seus alunos ao autor das apostilas e todos ficaram agitados com a visita dele. Toni adorava crianças, fez muito sucesso entre elas. Aproveitando sua distração, Sérgio aproveitou pra estar a sós com Adele.
Pararam em frente a uma escultura e ela insistiu para que ele tocasse a obra. Diante de sua hesitação, Adele arrebatou as mãos de Sérgio a as depositou delicadamente sobre a escultura, mantendo as suas sobre as dele. Deslizou suavemente, fazendo com que Sérgio percebesse as curvas de um rosto ao encontro de outro rosto, unidos através dos lábios. “Chama-se O BEIJO”, ela sussurrou.
Nesse momento, várias crianças aproximam-se, fazendo zoada, trazidas por Toni, que vinha com a língua quase de fora de tão cansado. Colocou-se entre Sérgio e Adele, que ria alto de suas palhaçadas. Sérgio se manteve silenciosamente contrariado. Toni sempre roubava a cena e nada havia o que se fazer. Agora Adele era-lhe só sorrisos, e ouvia, deliciada, os relatos animados das crianças sobre seu novo amigo. Toni realmente era um sucesso.
Enquanto a afinidade entre a professora e o escritor crescia, a convivência dentro de casa se tornava insuportável, fazendo Toni sentir saudades da usual rispidez com que era tratado. Ela se transformara numa indiferença quase mórbida. Sérgio raramente lhe dirigia a palavra e deixou o velho hábito de fazerem as refeições juntos. Encontrava-se furtivamente com Adele, inventando desculpas pela ausência de Toni. Antes descuidado e taciturno, agora Sérgio arrumava-se com esmero, e, quando sozinho, chegava a assobiar sucessos do rádio. Aprendera a andar para novos lugares desacompanhado e nunca o telefone fora tão usado. Até Marco era melhor tratado.
Foi difícil para Toni processar tudo isso. Quanto mais que insistia em agir como se nada tivesse acontecido, mais Sérgio o destratava. Até que ele entendeu que as coisas não voltariam a ser como antes. Sua aparência mudou, tornando-se fraca e doentia. Perdeu o gosto pela rua. Dormia demais. Encolhia-se na presença do outro. Perder a companhia de Adele não era nada comparado a perder a de Sérgio.
Uma noite, enquanto Sérgio se arrumava, ouviu o outro aproximando-se da porta. Sentia que Toni observava-o e isso o perturbou. “Jante logo. Está esfriando”, foi tudo o que disse antes de sair, apressado, deixando a porta entreaberta. Toni caminhou até ela para vê-lo partir, mas, ao olhar pra fora, distraiu-se com os sons que vinham da rua. Ficou ali a acompanhar as pessoas que passavam, os carros velozes, as cores e luzes. Tudo tão vivo, tão distante dele agora... Foi fechando os olhos lentamente, lentamente... até que, de súbito, os abriu. Ergueu-se olhando firme como já não fazia há muito tempo. Avançou dois passos pra fora... mais dois passos... e, num piscar de olhos se foi, sumindo na escuridão.
Três dias depois, Adele aguarda, aflita, a chegada de Sérgio. Ao ouvir seus passos se aproximando, dirigiu-se ao encontro dele e procurou sua mão.
- E então?
- Nada. Fugiu mesmo. Diabo de cachorro!
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
E Já que Estamos Perto do Natal- Ronaldo C de Brito
Ronaldo Correia de Brito
Do Recife (PE)
Numa noite de um mês de dezembro fui levado para ver a Lapinha pela empregada de nossa casa. Maria Luiza me puxava pela mão, enquanto subíamos a Ladeira do Seminário, assim chamada porque lá no alto ficava o seminário dos padres, um edifício imenso, pintado de amarelo e cercado de pés de eucalipto.
No final da tarde, os urubus se recolhiam aos galhos mais altos das árvores. Eram tantos que formavam uma mancha preta contra o céu. Quando os padres sentavam na calçada para a leitura dos breviários, as aves faziam cocô nas páginas abertas dos livros. A anedota corria solta pela cidade do Crato, lá no sul do Ceará, e era uma nota profana e engraçada naquele mundo sombrio de procissões e missas rezadas em latim.
O dono da brincadeira de lapinha, que eu assisti deslumbrado, era o pai de Maria Luiza, um cabo de polícia moreno e gordo. Mesmo sendo criança, eu estranhava um homem armado de revólver e cassetete se ocupar de um teatrinho feminino e delicado. Apenas as meninas representavam o auto da lapinha, com suas cantigas medievais portuguesas, adaptadas pelos padres à catequese dos pobres brasileiros.
As pastoras formavam dois cordões, um vermelho e um azul, representativos de mouros e cristãos. Esmaecidas pela singeleza da brincadeira, as cores ficaram na minha lembrança como rosa e azul claro. Havia muitos personagens: sol, lua, estrela, anjo, borboleta, beija-flor, menina da cesta, ciganas, Maria, José, Reis Magos e, o mais maravilhoso de tudo, caboclinhos de aldeia. Esses indiozinhos de presépio foram certamente botados na cena da adoração por jesuítas como o Padre Anchieta, na intenção de converter ao cristianismo os primeiros habitantes do Brasil.
Os caboclinhos cantavam os versos mais surpreendentes desse auto em louvor ao Menino Deus. Numa estrofe de quatro versos eles explicavam como se deu a Encarnação, aquele mistério da Igreja Católica segundo o qual Maria concebeu sendo virgem.
Passa o sol pela vidraçaJá passou sem tocar nelaAssim foi a Virgem PuraLevou luz ficou donzela.
Quem terá sido o poeta anônimo a criar esses versos? Ele quis nos dizer que assim como o sol atravessa a vidraça sem parti-la, a Virgem Maria, igualmente, recebeu uma luz e concebeu sem perder a virgindade. Ah, esses gênios populares!Tudo isso acabou em pouco tempo. De cultura viva se transformou em folclore ou espetáculo para turistas.
Eu desejava brincar na lapinha, mas era brinquedo de meninas e de gente pobre, de uma condição social diferente da minha. O máximo que consegui foi que Maria Luiza me desse as asas do anjo e as da borboleta. Mesmo esse presente foi proibido por meu pai e eu tive de escondê-las num quarto dos fundos de nossa casa, penduradas nos caibros do telhado. De vez em quando eu olhava aquelas invenções aladas e sonhava meus vôos. Até que o tempo cobriu-as de poeira e fuligem e ficaram esquecidas.
A mesma Maria Luiza me levou para ver um preso enforcado no porão da penitenciária do Crato. Uma cena horrível, que ainda me assombra. Não lembro se ao subir a ladeira do Seminário eu segurava a mão direita ou a mão esquerda dessa mulher que me apresentou o mundo. Sei que o mundo está cheio de alegrias e tristezas, tanto à direita como à esquerda. E que viver é a difícil arte de escolher caminhos.
Do autor:
Galiléia - Ed.Objetiva - R$34,00 ( 2008)
Livro dos Homens - Cosac Naify -R$45,00
Faca -Casac Naify -R$36,00
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Chá de Letrinhas

Terminamos agradecidos e absolutamente certos de que cada uma daquelas crianças e professoras nos deu muito, muito mais.
Poços de Caldas ficou no nosso coração!Esperamos publicar aqui o nome de algum outro grupo de pessoas que esteja ajudando outra escola pública.
Livro errante.
Vidas Secas - Edição comemorativa

Esta edição especial lançada pela Record traz texto integral e fotografias de Evandro Teixeira.