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Mostrando postagens de janeiro, 2025

Helder Guastti. O Professor Brasileiro Que Pode Ser o Nobel da Educação de 2025

  Transformar a   educação   por meio do afeto é o objetivo de Helder Guastti, 37. Essa missão o levou à final do prêmio internacional Global Teacher Prize, conhecido como o "Nobel da Educação", que laureia práticas pedagógicas inovadoras e de impacto social. Filho de professora, Guastti não tinha a intenção de seguir a carreira docente, mas acabou se apaixonando pela profissão. Decidiu cursar pedagogia e, desde então, leciona nos anos iniciais do ensino fundamental em escolas públicas de João Neiva (ES), sua cidade natal, localizada a cerca de 84 km de  Vitória  (ES). Realizado em 2023 com a turma do 5º ano da Escola Municipal Pedro Nolasco, o projeto "Como diz o outro" foi selecionado entre 5.000 inscritos de 89 países. O nome faz referência a uma expressão popular da cidade. A ideia da iniciativa era resgatar tradições orais locais, por meio de pesquisa, produção de textos, rodas de leitura e discussões sobre questões sociais, como o papel da mulher na transm...

Eu Sei, Mas Não Devia - texto de Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.   A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os ...

A Cantadeira, conto de Mia Couto

     Acabei a minha sessão de canto, estou triste, flor depois das pétalas. Reponho sobre meu corpo suado o vestido de que me tinha libertado. Canto sempre assim, despida. Os homens, se calhar, só me vêm ver por causa disso: sempre me dispo quando canto. Estranha-se? Eu pergunto: a gente não se despe para amar? Porque não ficar nua para outros amores? A canção é só isso: um amor que se consome em chama entre o instante da voz e a eternidade do silêncio.      Outros cantadores, quando atuam em público, se trajam de enfeites e reluzências. Mas, em meu caso, cantar é coisa tão maior que me entrego assim pequenitinha, destamanhada. Dessa maneira, menos que mínima, me torno sombra, desenhável segundo tonalidades da música.      Cantar, dizem, é um afastamento da morte. A voz suspende o passo da morte e, em volta, tudo se torna pegada da vida. Dizem mas, para mim, a voz serve-me para outras finalidades: cantando eu convoco um certo homem. Era um a...

Fim e Começo, poema de Wislawa Szymborska (Nobel de 1996)

Depois de cada guerra alguém tem que fazer a faxina. Colocar uma certa ordem que afinal não se faz sozinha. Alguém tem que jogar o entulho para o lado da estrada para que possam passar os carros carregados de corpos. Alguém tem que se atolar no lodo e nas cinzas em molas de sofás em cacos de vidro e em trapos ensanguentados. Alguém tem que arrastar a viga para apoiar a parede, pôr a porta nos caixilhos, envidraçar a janela. A cena não rende foto e leva anos. E todas as câmeras já debandaram para outra guerra. As pontes têm que ser refeitas e também as estações. De tanto arregaçá-las, as mangas ficarão em farrapos. Alguém de vassoura na mão ainda recorda como foi. Alguém escuta meneando a cabeça que se safou. Mas ao seu redor já começam a rondar os que acham tudo muito chato. Às vezes alguém desenterra de sob um arbusto velhos argumentos enferrujados e os arrasta para o lixão. Os que sabiam o que aqui se passou devem dar lugar àqueles que pouco sabem. Ou menos que pouco. E por fim nada ...

Vamos Pensar? Texto de Fabíola Simões (17)

Estou organizando minhas prateleiras. Tirando pessoas, acontecimentos e lembranças  dos espaços principaise colocando   em outros lugares, menos acessíveis e mais coerentes com a relação que mantenho com eles. Estou limpando minha estante, esvaziando minhas gavetas e renovando minhas prioridades. A vida precisa de faxina e mudanças de prateleiras. De vez em quando é vital trocar pessoas e lembranças de setor, readequar o mérito e prioridade das coisas, variar a importância que a genta dá àqueles que não nos priorizam. É primordial atualizar os lugares para que a vida flua com mais leveza.

O Perigo de Uma História Única, Chimamanda Ngozi Adichie ( amostra do livro)

Sou uma contadora de histórias. Gostaria de contar a vocês algumas histórias pessoais sobre o que gosto de chamar "o perigo de uma história única".      Passei a infância num campus universitário no leste da Nigéria. Minha mãe diz que comecei a ler aos dois anos de idade, embora eu ache que quatro deva estar mis próximo da verdade. Eu me tornei leitora cedo, e o que lia eram livros infantis britânicos e americanos.      Também me tornei escritora cedo. Quando comecei a escrever, lá pelos sete anos de idade- textos escritos a lapis com ilustrações feitas com giz de cera que minha pobre mãe era obeigada a ler -, escrevi exatamente o tipo de história que lia: todos os meus personagens eram brancos de olhos azuis, brincavam na neve, comiam maçãs e falavam muito sobe o tempo e sobre como era bom o sol ter saído.      Escrevia sobre isso apesar de eu morar na Nigéria. Eu nunca tinha saído do meu país. Lá, não tinha neve, comíamos mangas e nunca fal...

Demétrius Araujo, o Professor Que Faz a Diferença

Oitenta e cinco alunos da Escola Estadual Anísio Teixeira, em Marabá,Região de Integração de Carajás, alcançaram notas acima de 900 na Redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), conforme resultado divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Conforme ainda o resultado, 150 alunos tiraram notas acima de 800 pontos na Redação do Enem 2024. Ano passado, 64 alunos da instituição de ensino tiraram acima de 900 pontos na Redação. O resultado expressivo da Escola Anísio Teixeira representa o maior do Pará, em segundo lugar aparece a Escola Albanízia de Oliveira Lima, em Belém, com 79 alunos com notas acima de 900 pontos. O professor de Redação e Língua Portuguesa da Escola “Anísio Teixeira”,Demétrius Araújo, realiza um projeto de Redação na escola que já colhe frutos positivos há três anos. Em 2022, foram 33 alunos com notas acima de 900, em 2023, foram 64 e em 2024 atingiu o número de 85 discentes em des...

Conto de Verão Número 2: Bandeira Branca, Luís Fernando Veríssimo

    Ele: tirolês. Ela: odalisca. Eram de culturas muito diferentes, não podia dar certo. Mas tinham só quatro anos e se entenderam. No mundo dos quatro anos todos se entendem, de um jeito ou de outro. Em vez de dançarem, pularem e entrarem no cordão, resistiram a todos os apelos desesperados das mães e ficaram sentados no chão, fazendo montinho de confete, serpentina poeira, até serem arrastados para casa, sob ameaças de jamais serem levados a outro baile de Carnaval.      Encontraram-se de novo no baile infantil do clube, no ano seguinte. Ele com o mesmo tirolês, agora apertado nos fundilhos, ela de egipcia. Tentaram recomeçar o montinho, mas dessa vez as mães reagiram e os dois foram obrigados a dançar, pular e entrar no cordão, sob ameaça de levarem uns tapas. Passaram o tempo todo de mãos dadas.      Só no terceiro carnaval se falaram.      - Como é teu nome?      - Janice. E o teu?      - Píndaro...

Vasto Mundo, conto de Maria Valéria Rezende

     A moça chegou do Rio. Logo se vê... tão alvinha! Saiu daqui miúda, não diferenciava em nada das  outras meninas da escola minicipal. Foi o padrinho que a levou. Voltou essa moçona. Veio passar o São João. No meio das outras moças, na frente da igreja, ela agora diferencia até demais. O vestido bonito, mais altura, as unhas compridas e vermelhas, movendo os braços, dando voltas e requebros enquanto fala. E fala sem parar.  As outras mais matuts ainda unto dela, são apenas molduras para o quadro. Para os olhos de Preá, nem moldura. Não existem. Não existe mais a igreja, a praça, a vila, nada. Só a moça.      Preá outro nome não tem. Quem poderia dizer era a velha, mas morreu sem que ninguém se lembrasse de perguntar. Para a maioria do povo de Farinhada, hoje parece que ele sempre esteve ali, que sempre foi assim, uma coisa de vila como a igrea, a ponte sobre o riacho, os bancos de cimento da pracinha. Mas alguém se lembra;  chegou um dia c...

Morte e Vida Severina. De que trata o poema de João Cabral de Melo Neto?

A história começa com a apresentação do protagonista, cujo nome é Severino. É um retirante. Ele é mais um entre tantos Severinos nordestinos. No seu ato migratório, encontra dois homens que levam um defunto em uma rede. O defunto é Severino Lavrador. Depois, o protagonista segue viagem. O retirante Severino pretendia seguir o rio Capibaribe, que o guiaria em sua jornada. Porém, o rio desapareceu devido à seca. Ainda assim, Severino segue seu caminho por várias vilas da região. Chega a uma casa onde está ocorrendo o velório de mais um Severino. Em seguida, cansado de tanto andar, decide parar e buscar um emprego. Avista uma mulher em uma janela e lhe pergunta sobre um possível emprego. Ela responde que trabalho tem, mas não de lavrador, devido à seca. Ele então vai em direção à Zona da Mata, onde assiste ao enterro de um “trabalhador de eito”. Em seguida, ele caminha rumo a Recife. Em Recife, quando para com o objetivo de descansar, perto do muro de um cemitério, acaba ouvindo a convers...

Vamos pensar? (18)

Será que às vezes o melhor não é se deixar molhar?  

Assim Começa o Livro Que Comecei

Ele veio silenciosamente. Inclinou-se sobre a minha cama. Seus dedos transparentes quase tocaram no meu ombro: "Raíza, Raíza!" Tinha uma rosa no lugar do rosto, mas o hálito adocicado era de hortelã. Papai você bebeu outra vez! Tive vontade de dizer-lhe. Foi quando senti um perfume moribundo de rosas e lembrei-me então de que ele tinha morrido. Quis abraçá-lo, paizinho, que saudade, que saudade!...      Quando ergui os braços ele já tinha desaparecido. Senti o travesseiro úmido de lágrimas. Contudo, fora um bom sonho. Aúnica coisa estranha era aquela rosa em lugar do rosto, mas assim mesmo cheguei a achar natural vê-lo com a cara desabrochada em pétalas.      Voltei-me para a porta por onde ele entrara. Estava fechada. Na escuridão do quarto, só a porta tinha o contorno marcado pela frincha de luz que se filtrava por baixo: era como a tampa do enorme caixão de um enterrado vivo, acordado com a noite ao redor. E vendo pelas frestas o sol a brilhar lá fora. ...

Érico Veríssimo e John Lennon Dois Sonhadores da Paz.

      Com enorme surpresa vi que no livro A Volta do Gato Preto (Ed. Globo, 1961, págs 154-155), ' a ideia de Érico Veríssimo é cantada por  com John Lennon.  Vejam o trecho do livro de Érico, cuja primeira edição é de 1946:      " Li num prefácio de Julien Green que os homens são palavras de uma frase cujo sentido só Deus conhece. Olhando as gentes que povoam o campus do Mills, pergunto a mim mesmo qual será o sentido desta tão estranha e variada combinação de palavras... Será apenas uma legenda ociosa escrita na superfície dum lago? Uma frase fútil atirada ao vento? Não creio. Esta sociedade heterogênea em que misturam chineses, franceses, brasileiros, guaremaltecos, salvadorenhos, mexicanos, alemães, judeus, filipinos, peruanos, chilenos, pode bem ser o símbolo do mundo do futuro,um mundo de fronteiras apagadas, sem barreiras alfandegárias, sem passaportes e sem nacionalismos agressivos - um mundo de cordialidade e compreensão. Sonho? Que outra...

Clube de Leitura Livro Errante: Primeiro Livro de 2024

Fui morar na livraria Morisaki no início do verão e fiquei até o comecinho da primavera do ano passado.      Instalei-me num quartinho vazio do andar de cima, um espaço úmido e mal iluminado, rodeado pelo permanente cheiro de mofo dos livros velhos. Passav meus dias como que soterrada em livros.      Mas acho que nunca vou esquecer dos dias que passei ali.      É que foi aquele sebo de livros que me mostrou como começar a viver de verdade. Sem os dias que passei ali, minha vida não seria repleta de cores, de sabores, das mais diversas sensações; teria sido insípida, monótona e solitária.      É um lugar que eu nunca esquecerei, um lugar muito importante para mim.      Esta é a livraria Morisaki. As lembrançs dos dias que passei ali vivem, intensas, em minhas retinas, quando fecho os olhos. ***      Tudo começou com uma trovoada repentina.      Foi tudo tão de repente que uma chuva de...

Até Breve!!

  Volto no dia 10/1