Aos oitenta e três anos me permito, por vezes, transformar em lágrimas as sombras que acompanham minha trajetória pelos caminhos tortuosos da vida. Meus passos, por vezes lentos, errantes e despretensiosos, transportaram meu corpo e alma por muitos espaços imprevistos e outros tantos necessários. Com o tempo, aprendi a conviver com os fantasmas do meu passado e as lembranças da minha terra natal. Aprendi a entendê-los, a atender suas demandas e urgências. Aprendi que a essa dor dá-se o nome de saudade e que nomeá-la não a torna menos tangível. A dor da saudade é dor de alma, mas também é dor de carne. É enraizada e ramificada: parte do coração, dói no peito e transborda pelos olhos. É a falta do que não voltará, o pesar pela ausência dos que já se foram, o desconsolo da lembrança de todas as coisas e fatos que me moldaram. A saudade é uma certeza, como se parte de mim estivesse incompleta, aquela parte que relutou para ficar no momento da despedida. Minha...