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Mostrando postagens de 2025

Somos a Geração Mais Desinformada da História, texto de Suzana Valença ( Apresentando novos blogs)

Consumimos muita mídia, mas lemos pouquíssimas notícias. Passamos mais tempo consumindo mídia do que qualquer outro momento da história humana. Nunca tivemos tanto acesso à informação. Entretanto, nem sempre quantidade quer dizer qualidade. Além de que, algumas vezes, excesso de dados não facilita a comunicação, dificulta. Passamos muito tempo conectados, mas estamos lendo (ouvindo, vendo) cada vez menos notícias. Esta semana, eu estava assistindo a uma aula do professor Thomas E. Patterson. Ele mostrou uma pesquisa na qual jovens foram perguntados sobre notícias do momento. Umas das questões era “quem é o atual primeiro-ministro de Israel?”. Mesmo sendo apresentados a múltiplas alternativas, a maioria dos entrevistados não acertou a resposta. No livro We the People, Patterson explica que estamos passando muito tempo consumindo mídia, mais do que nunca. Mas que a quantidade de alternativas de conteúdo é tanta que muitos acabam não lendo, ouvindo ou assistindo notícias como antes. Por q...

Mulheres da Fuvest (6) Opúsculo Humanitário: Nísia Floresta (1853)

      Enquanto pelo Velho e Novo mundo vai ressoando o brado - emancipação da mulher - nossa débil voz se levanta, na capital do império de Santa Cruz, clamando - educai as mulheres!      Povos do Brasil, que vos dizeis colonizados! Governo, que vos dizeis liberal! Onde está a doação mais importante dessa civilização, desse liberalismo?      Em todos os campos, e em todas as nações do mundo, a educação da mulher foi sempre um dos mais salientes característicos da civilização dos povos. Na Ásia, esse berço maravilhoso do gênero humano e da filosofia, a mulher foi smpre considerada como um instrumento do prazer material do homem, ou como sua mais submissa escrava: assim, os seus povos, mesmo aqueles que atingiram oa mais alto grau de glória, tais como os babilônios, ostentando aos olhos das antigas gerações suas admiráveis muralhas, seus suspensos e soberbos jardins, suas colunatas de pórfiro, seus templos de jaspe, com zimbórios de pedras prec...

O Problema é Manter Os Sonhos Cativos, Priscila Aquino

De vez em quando a gente precisa abrir as gavetas do tempo, limpar os armários da memória e arejar a alma.  Se você olhar com atenção, é bem provável que encontre, dentro de si, sonhos empoeirados, acomodados uns sobre os outros, encostados em cantos escuros de seu íntimo. Por isso, é preciso arejar.  Com o passar do tempo, algumas gavetas podem ficar emperradas pelo desuso e pelo esquecimento e acabarem aprisionando possibilidades, ou improbabilidades, que se aquietaram à espera de um momento certo que nunca chegou ou, se chegou, passou despercebido. Os pequenos sonhos são os mais fáceis de se perderem nessas gavetas, pois entram em frestas e se acomodam, esfarelam e acabam desaparecendo por completo. Se perdem com facilidade nos muitos porquês, nos severos nãos, nas amargas recusas e enferrujam, tristes, desacreditados, desesperançados.  Abrir as gavetas é olhar para dentro de si e compreender que somos mais feitos de sonhos do que imaginamos, pois são eles que nos impu...

Vamos Pensar? (27)

 

Mulheres da Fuvest (5): Júlia Lopes de Almeida (Memórias de Martha) Matéria de Isabella Andrade

Resumo do livro ‘ Memórias de Martha’ O romance Memórias de Martha, primeiro da escritora Júlia Lopes de Almeida, foi publicado inicialmente como folhetim em 1888 e compilado em livro no ano seguinte, 1889, um ano antes de O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Classificado como um romance memorialista, a obra é uma autobiografia ficcional narrada em primeira pessoa. A protagonista, Martha, narra os acontecimentos mais marcantes de sua vida, desde a infância até o momento da narrativa, que coincide com a morte de sua mãe. Cenário e contexto histórico A história se passa no final do século XIX. Quando jovem, Martha perde o pai, e sua mãe, também chamada Martha, precisa trabalhar como engomadeira para sustentar as duas. A renda escassa obriga-as a morar em um cortiço no bairro de São Cristóvão, na então capital do Império, Rio de Janeiro. Martha descreve o cortiço como um lugar úmido, fétido, devido a um matadouro próximo, e o quarto onde viviam como estreito, abafado e escuro. É de se notar que...

Mulheres da Fuvest (4) Memórias de Martha, Júlia Lopes de Almeida ( 1899)

Primeira página de Memórias de Martha      Tenho uma ideia vaga da casa em que nasci e onde morei até aos cinco anos. Um ou outro canto ficou desenhado em meu espírito; quase tudo, porém, se perde num esboço confuso.      Assim as cenas. Entre tantas coisas, tantos tipos e tantas palavras que se refletiram nas minhas pupilas de criança, ou que vibraram em meus ouvidos, que ficou?      Bem pouco!      Lembro-me, por exemplo, de um ângulo de quintal, onde havia um banco tosco e um tanquezinho redondo que servia de bebedouro às galinhas. Era ali que eu lavava as roupas das bonecass. Lembro-me também do papel de salinha de jantar, cheio de chins(1) e de quiosques; de um vão de janela, onde se armava o presépio de Natal.      Os quartos, os móveis, os criados, de tudo isso me recordo às vezes, mas numa fugacidade tal, que não me fica a sensação de saudade, mas a da dúvida.      Das cenas lembra-me a da ...

Humor. Quem manda.

 

O Que Estou Lendo? O Caminho Sem Aventura, Lêdo Ivo. Primeira página

     Durante o momento em que, tendo já apagado a luz, eu entrecerrava os olhos, aguardando um sono que  não vinha, era que me afluiam à memória todos os acontecimentos em que fôra jogado. Êsses fatos vinham em dsua maioria decepados, partidos, as imagens misturando-se à medida que o aniquilamnto do adormecer me tomava. Principalmente as lembranças da infância se transfiguravam, vestindo-se de tonalidades que eu sabia não serem reais, mas forjadas pela imaginação, surgindo dessa maneira como coisas criadas, afastando-se de suas linhas lúcidas para espalhar-se e desenvolver-se numa atmosfera de sonho. A imagem de Bárbara que flutuava em minha lembrança não era decerto a presença física de minha amiga, mas se tratava de Maria Eleonora, sua mãe, a pessoa que modificara, com sua influência e existência que eu levava, e se projetara de um modo considerával em minha vida.      Maria Eleonora era uma dessas criaturas que, mesmo desaparecidas, permanecem em no...

Mulheres da Fuvest (3): O Africano e o Poeta, poema de Narcisa Amália

Les eclaves... Est-ce qu'ils ont des dieux? Est-ce qu'ils ont des fils, eux qui n'ont point d'aieux? (Lamartine) No canto tristonho Do pobre cativo Que elevo furtivo, Da lua ao clarão; Na lágrima ardente Que escalda-me o rosto, De imenso desgosto Silente expressão;       Quem pensa? - O poeta       Que os carmes sentidos        Concerta aos gemidos        De seu coração. Deixei bem criança Meu pátrio valado, Meu  ninho embalado Da Líbia no ardor; Mas esta saudade Que em túmulo anseio Lacera-me o seio Sulcado de dor,      Que sente? - O poeta      Que o elísio descerra      Que vive na terra      De místico amor!  -Roubaram-me feros A f'ervidos braços; Em rígidos laços Sulquei vasto mar; Mas este queixume Do triste mendigo, Sem pai, sem abrigo, Quem quer escutar?...      Quem quer? O poeta      Que os térreos mistérios ...

Os Dois Amigos, conto de Lêdo Ivo

     Quando os dois amigos se encontravam, um deles sempre tinha pressa. No instante mal cabia um aperto de mão. O gesto afetuoso perdia-se no ar, inacabado.      - Precisamos nos encontrar! - exclamava o amigo vitorioso e apressado, e talvez uma fagulha de satisfação cintilasse no olhar do outro que sempre respondia, catando as migalhas da antiga estima:      - Telefone. Tenho o nome no catálogo.      O amigo sempre ocupado, não dispunha de tempo para deter-se na calçada ou no meio da rua, tirar o caderninho de notas e escrever-lje o nome e número do telefone. Mas não havia necessidade desse ritual miudo: seu nome estava no catálogo telef6onico!      Contava, à noite, à sua mulher, que encontrara o amigo de infância. "Estive hoje com o Felisberto Barrosso."dizia o nome todo, embora ambos tivessem sentado juntos nos bancos do grupo escolar. chegara mesmo a salvá-lo uma vez de morrer afogado. Felisberto ( ou Feli...

Mulheres da Fuvest (2): Narcisa Amália (1852-1924)

Aflita Per lui solo affido sull'ali dei venti Il suon lusinghiero di garruli accenti! Deh riedi, deh riedi!... mi stinge al tuo cor E giorni beati -vivremo d'amor! Il Guarany Desde a hora fatal em que partiste, Turbou-se para mim o azul do céu! Velei-me na mantilha (1) da tristeza Como Safo na espuma do escarcéu. Até então o arcanjo da procela Não enlutara o lago das quimeras, Onde minh'alma, garça langorosa(2), Brincava à luz de etéreas primaveras. Mas um dia atraindo ao vasto peito Minha pálida fronte de criança, Murmuraste tremendo: -"Parto em breve; Mas não te aflijas, voltarei, descansa!" Ai! Que epopeia túrgida de lágrimas Na comoção daquela despedida! Eu soluçava envolta em véu de prantos: "Quando voltares", já serei sem vida! Desde então, comprimindo atrás as angústias, Vou te esperar à beira do caminho; Voltam cantando ao sol as andorinhas, Só tu não volves ao deserto ninho!... Quando a tribo inquieta das falenas (3) Liba(4) filtos nas clícias(5...

Todo Apoio Aos Jornalistas

 

As Mulheres da Fuvest (1)

     A Fuvest, responsável pelo maior vestibular do país, informou que nos anos de 2026, 2027 e 2028, vai exigir a leitura de livros unicamente de mulheres. Até agora a fuvest pedia majoritariamente livros escritos por homens.   Em 2026 os livros indicados são : Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta Nebulosa s (1872) – Narcisa Amália Memórias de Martha (1899) – Julia Lopes de Almeida Caminho de Pedras (1937) – Rachel de Queiroz O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen As Meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles Balada de amor ao vento  (1990) – Paulina Chiziane Canção Para Ninar Menino Grande (2018) – Conceição Evaristo A Visão das Plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida Trata-se de uma reparação que já devia ter sido feita há muito tempo. Nunca houve razão nenhum para que Raquel de Queiroz, por exemplo, ser esquecida.  A presença de talentos femininos não invalida nenhum outro talento.  As três primeiras escrito...

Lira dos Vinte Anos, música de Belchior e Francisco Casaverde

O s filhos de Bob Dylan Clientes da Coca-cola Os que fugimos da escola Voltamos todos pra casa Um queria mandar brasa O outro ser pedra que rola Daí o money entra em cena e arrasa E adeus, caras bons de bola Mamãe, como pôde acontecer? Ah meu coração-lobo mau não aguenta E andarmos apressados Deu em chegar atrasados Ao fim dos anos cinquenta Meu pai não aprova o que eu faço Tampouco eu aprovo o filho que ele fez Sem sangue nas veias, com nervos de aço Rejeito o abraço que me dá por mês Álbum: Elogio da Loucura - 1988 Imagem: Thyagão

Lágrima de Um Caeté,poema de Nísia Floresta ( sem)

 (...) página 2  Lá, quando no ocidente o sol havia  Seus raios mergulhado, e a noite triste  Denso-ébanico véu já começava  Vagarosa a estender por sobre a terra;  Pelas margens do fresco Beberibe,  Em seus mais melancólicos lugares,  Azados para a dor de quem se apraz  Sobre a dor meditar que a pátria enluta!  Vagava solitário um vulto de homem,  De quando em quando ao céu levando os olhos,  Sobre a terra depois triste os volvendo...  (...)  (...) página 18  Não chores, ó Caeté, o amigo teu:  Que caiu, não morreu, porque o bravo  Constante defensor da pátria sua,  Para a pátria não morre.  (...)  (...) página 21  O bravo selvagem atônito ficou...  - Quem és; lhe pergunta, infernal deidade?  - Uma tal visão de inferno não sou:  Sou cá deste mundo, a realidade.  Volta às selvas tuas, vai lá procurar  Alguns desses bens, que aqui te hão tirado:  Não creia...

História da Cachaça Volúpia, Marcelo Piancó (título provisório)

Foi no século dezenove onde no peito e naraça Antonio lemos levantou a sua primeira taça para brindar seu empenho e o sucesso do engenho veio em forma de cachaça. O lugar era o Gregório o de baixo e o de cima o maquinário simplório mas era perfeito o clima e a terra roxa paraibana para a plantação de cana a qualidade é lá em cima. E vejo Manuel Lemos a segunda geração na rapadura e na cachaça ele manteve a tradição e quanto mais o tempo passa mais a fama da caçhaça vai ganhando amplidão. Mas foi Otávio Lemos que todo o espírito criou comprou Lagoa Verde e da cana que herdou inspirado num lampejo por um profundo desejo de Volúpia a batizou O nome gerou polêmica foi uma coisa espantosa a tradicional sociedade achava Volúpia perigosa mas esta palavra sensual era o nome mais normal pr'uma coisa tão gostosa A polêmica e o sucesso caminham na mesma estrada a cana ganhou progresso ficou bem apresentada virou cachaça de griffe o rótulo feito em Recife onde era engarrafada. Tanto tempo se ...

É Ela! É Ela! É Ela! É Ela! poema de Álvares de Azevedo ( Lira dos Vinte Anos)

É ela! é ela! — murmurei tremendo, E o eco ao longe murmurou — é ela! Eu a vi — minha fada aérea e pura— A minha lavadeira na janela! Dessas águas-furtadas onde eu moro Eu a vejo estendendo no telhado Os vestidos de chita, as saias brancas; Eu a vejo e suspiro enamorado! Esta noite eu ousei mais atrevido Nas telhas que estalavam nos meus passos Ir espiar seu venturoso sono, Vê-la mais bela de Morfeu nos braços! Como dormia! que profundo sono! . . . Tinha na mão o ferro do engomado. . . Como roncava maviosa e pura! Quase caí na rua desmaiado! Afastei a janela, entrei medroso: Palpitava-lhe o seio adormecido... Fui beijá-la. . . roubei do seio dela Um bilhete que estava ali metido. . . Oh! de certo. . . (pensei) é doce página Onde a alma derramou gentis amores; São versos dela. . . que amanhã de certo Ela me enviará cheios de flores. Tremi de febre! Venturosa folha! Quem pousasse contigo neste seio! Como Otelo beijando a sua esposa, Eu beijei-a a tremer de devaneio. É ela! é ela! — rep...