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Mostrando postagens de 2025

23 Melhores Livros do Século 21, pela Folha de São Paulo

1. Um Defeito de Cor , Ana Maria Gonçalves Ano:2006, Ed. Record, 952 páginas Livro que inspirou o samba enredo da Portela, no carnaval de 2024. A fascinante história de uma africana em busca do filho perdido que se tornou um clássico da literatura contemporânea.  Um defeito de cor , de Ana Maria Gonçalves, é narrado de uma maneira original e pungente que prende a atenção da primeira à última página.  2. Torto Arado, Itamar Vieira Júnior Ano:2019, Ed. Todavia, 264 páginas Um texto épico e lírico, realista e mágico que revela, para além de sua trama, um poderoso elemento de insubordinação social. Nas profundezas do sertão baiano, as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente. E para sempre suas vidas estarão ligadas ― a ponto de uma precisar ser a voz da outra 3. O Avesso da Pele,  Jeferson Tenório Ano:2020,Ed. Cia das Letras,192 páginas Um romance sobre identidade e as complex...

Poemas da M.P.B: Foto de Família, Lenine e Maria Bethania

Feito um cheiro que destrava uma lembrança boa Tem coisa assim que não se ensina A foto que tem cheiro de tão nítida Ressoa tudo que a memória descortina E vira inundação por dentro Que só cresce, cresce, cresce Contamina no dilúvio bem-vindo da humanidade O amor é uma espécie de vacina Ouça aqui Poema de João Cavalcanti de Almeida

Mulheres da Fuvest: Conceição Evaristo. Canção Para Ninar Menino Grande ( Portal do Enem)

Resumo do livro: Lançado em 2018, o livro mergulha nas experiências da população negra e aborda questões como racismo, machismo, amor e os desafios enfrentados pelo protagonista, Fio Jasmim, e pelas mulheres que também desempenham papéis centrais na história. A obra nos apresenta a jornada de autodescoberta de Fio Jasmim, marcada por suas relações amorosas e os conflitos pessoais, enquanto ele lida com questões sociais e culturais que refletem a realidade de muitos brasileiros. Ao longo do livro, somos convidados a refletir sobre as dificuldades e os desafios que ainda afetam a vida de grande parte da sociedade brasileira, especialmente dos negros e das mulheres. No livro “Canção para Ninar Menino Grande”, conhecemos Fio Jasmim, um homem negro, bonito e sedutor, mas marcado por traumas do passado. Quando era criança, ele viveu uma experiência dolorosa que o afetou profundamente: na escola, durante a escolha para o papel de príncipe em uma peça de teatro, Fio Jasmim foi rejeitado. Em se...

Amor à Última Vista, conto de Mia Couto

     Enquanto vestia o morto, seu obituado marido, Dona Faulinha mantinha uma conveniente lágrima. Era sempre a mesma lágrima, a única que ela derramara depois que Ananias Xavier se decidira defuntar-se. Se a lágrima merecia desconfiança, o falecimento não era menos fiável. A mulher deitava dúvida em Ananias, mesmo no trespasse fatal. O homem invocara uma suspeitosa doença. Pouco contava, agora, a verdade do motivo. Certo é que a suspeita ruminava em seu peito. Na penumbra da sala, Faulinha recebia as condolências. Para efeito das visitas, ela exibia a lágrima, prova de sua tristeza, rebrilhando no fundo negro do rosto.      Quando ficou sozinha com o cadáver, Faulinha chorou de verdade. Não por pena do falecido. Mas com desgosto de não ter sido ela a levada. Com inveja de o dedo de Deus não ter revirado sua página no livro dos viventes. Que lhe restava, agora? Ser uma réstia, sobra do nada que fora sua vida? Durante o casamento nunca fora feliz. Mas ao...

Poema em Linha Recta, Álvaro de Campos

Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo, Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado, Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala c...

Errar, poema de Mia Couto

Na escolinha, a menina, propícia a equívocos, disse: - Masculino de noiva é navio. Repreenderam, riscaram, descontaram. Mas ela estava certa. Noivados são mares de barcos pares. Em: Mia Couto (poemas escolhidos) Cia das Letras, 2016, pág. 42

Uma Novela Fora da TV, crônica de José Paulo Cavalcanti

     Cristina procurou um amigo advogado. Não era consulta. Fora só comunicar que iria se suicidar. "Que é isso?, mulher." A escolha de um advogado, para essa comunicação, deu-se apenas por confiar nele.E Não ser alguém da família. Passaram a conversar. Decidira morrer por conta de um telefonema. O doutor estava perplexo. Já vira muitos que desistiram da vida, quase todos em razão de problemas financeiros; ou alguma doença incurável; ou, apenas, por compulsão de alguma neurose. Coisas assim. Não era o caso de agora em que uma mulher estava tranquila e bem. O doutor pediu que contasse o que acontecera, no tal telefonema, para a levar a uma decisão tão drástica. Foi assim.      Cristina estava em frente à TV. Como sempre. Na novela das oito, mulheres iguais a ele viviam amores impossíveis. Paixões ardentes que jamais Cristina seria capaz de sentir. Distantes de sua vida, que nessas horas lhe parecia banal. Sem nenhuma promessa de futuro. O marido, como em tod...

O Retrato da Santa Ficou Na Parede da Sala, crônica de Marcos Cirano

     Certo dia ele acordou e notou que ela não estava mais em casa. Também não deixou um bilhete, nem de uma só palavra: simplesmente sumiu. E fez questão de levar tudo o que era dela, coisas poucas é verdade: roupas, alguns pares de sapatos, um estojo de maquiagem, a coleção de cartas que ele lhe enviara enquanto ainda eram namorados muitos anos atrás e uma pulseira de ouro que ela ganhou no dia em que os dois casaram. O quadro com a imagem de Nossa Senhora de Fátima que ficava na parede da sala, esse ela deixou no mesmo lugar: até porque, embora comprado por ela, aquele objeto sagrado a ninguém pertencia e era preciso que ele continuasse ali, protegendo a casa onde os dois viveram uma bonita e intensa vida por quase seis décadas.      Ele não chorou naquele dia, nem resmungou como de costume quando algo lhe contrariava. Apenas ficou sem entender por que ela partiu em completo silêncio e, justo, num tempo em que a vida seguia sem qualquer desgosto... Fosse...

Gustavo Santos, Professor Nota 10 (Edição 2025)

Foi na cidade de Carnaíba, no Sertão de Pernambuco, que nasceu o projeto que seria reconhecido, no último dia 28 de outubro, como o melhor da educação básica no Brasil, no Prêmio Educador Nota 10. O professor de química Gustavo Santos Bezerra, de 32 anos, foi o idealizador de uma iniciativa que fez os alunos da   Escola Técnica Estadual (ETE) Professor Paulo Freire   integrarem ciência e sustentabilidade com a comunidade onde vivem. Natural de Flores, também no Sertão Pajeú, Gustavo é um exemplo vivo de resistência e inovação na educação pública brasileira. Professor há oito anos, ele abraçou a missão de ir além das quatro paredes da sala de aula. Ele conta que o compromisso diário da profissão é enfrentar os desafios crescentes, trabalhando não só conteúdos, mas também outros aspectos importantes para os alunos. Para ele, educar é preparar jovens para uma realidade em constante evolução. “Ser professor é a cada dia enfrentar desafios em busca de contribuir de alguma forma par...

Flores, poema de Adélia Prado

A boa-noite floriu suas flores grandes, parecendo saia branca. Se eu tocasse um piano elas dançavam. Fica tão bom o mundo assim com elas, que nem me desprezo por querer marido. Perfumam a noite. A gaita de um menino que nunca morre toca erradinho e doce. Eu cumpro alegremente minhas obrigações paroquiais e não canso de esperar; mais hoje; mais amanhã, qualquer coisa esplêndida acontece: as cinco chagas, o disco voador,o poeta com seu cavalo relinchando na minha porta. Desejava tanto tomar bênção de pai e mãe, juntr uns pios, umas nesgas de tarde, um balançando de tudi que balança no vento e tocar na flauta. É tão bom que nem ligo que Deus não me conceda ser bonita e jovem ( um dos desejos mais fundos da minha alma) "O Espírito de Deus pairava sobre as águas..." Sobre o meu, pairam estas flores e sou mais forte que o tempo. Em: O coração disparado, Ed. Salamandra 1984, pág.23

Isso dá um filme: A Cabeça do Santo, Socorro Acioli,

Caminho      Ele não tinha mais sapatos e seus, pés, àquela altura, já eram outra coisa: um par de bichos disformes.Dois animais dentados e imundos. Duas bestas, presas aos tornozelos, incansáveis, avante, um depois do outro, avante, conduzindo Samuel por dezesseis longos e dolorosos dias sob o sol.      Nos primeiros dias o sangue e a água que minavam das bolhas arrebentadas ns seus pés chiavam em contato com o asfalto em brasa, inclemente. De tão secos, fizeram silêncio. Surgiu uma pele nova, quase um couro de cobra, esturricado, admirável engenho da natureza para os que não podem contar com nenhum lapso de piedade do inimigo. As pernas, gêmeos paradoxos: quanto mais magras, mais fortes. Os músculos cresceram, até nas canelas sujas que sustentavam as coxas de pouca carne. Ele, sujo como um desterrado, andando sempre em linha reta.     Dezesseis dias. Por vezes olhava para baixo e temia que o ventre colasse de vez nas costelas, como na histó...