Cada irmão é diferente. Sozinho acoplado a outros sozinhos. A linguagem sobe escadas, do mais moço, ao mais velho e seu castelo de importância. A linguagem desce escadas, do mais velho ao mísero caçula. São seis ou são seiscentas distâncias que se cruzam, se dilatam no gesto, no calar, no pensamento? Que léguas de um a outro irmão. Entretanto, o campo aberto, os mesmos copos, o mesmo vinhático das camas iguais. A casa é a mesma. Igual, vista por olhos diferentes? São estranhos próximos, atentos à área de domínio, indevassáveis. Guardar o seu segredo, sua alma, seus objectos de toalete. Ninguém ouse indevida cópia de outra vida. Ser irmão é ser o quê? Uma presença a decifrar mais tarde, com saudade? Com saudade de quê? De uma pueril vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre. A Diogo, meu irmão e um pouco meu pai, homem do bem, que plantou o bem e se foi deixando, como excelente pessoa que foi, "uma pueril vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre".