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Mostrando postagens de setembro, 2024

Vamos Pensar?

      "Olhar para trás após uma longa caminhada pode fazer perder a noção da distância que percorremos,  mas se nos detivermos em nossa imagem, quando a iniciamos e o término, certamente lembraremos o quanto nos custou chegar ao ponto final, e hoje temos a impressão de que tudo começou ontem.      Não somos os mesmos, mas sabemos mais uns dos outros. E é por esse motivo que dizer adeus é tão complicado! Digamos então que nada se perderá.   Pelo menos dentro da gente..." Guimarães Rosa

Participação, poema de Alcy Araújo Cavalcante

Estou convosco. Participo dos vossos anseios coletivos. Vim unir meu grito de protesto ao suor dos que suaram nos campos e nas fábricas. Aqui estou para juntar minha boca às vossas bocas no clamor pelo pão sancionar com este rumor que vai crescendo a petição de liberdade. Estou convosco. Para unir meu sangue ao sangue dos que tombaram na luta contra a fome e a injustiça foram vilipendiados em sua glória de mártires de heróis. Vim de longe percorrendo desesperos. Das docas agitadas de Hamburgo das plantações de banana da Guatemala dos seringais quentes do Haiti. Vim do cais angustiado de Belém dos poços de petróleo do Kuwait das minas de salitre do Chile Passei fome nos arrozais da China nos canaviais de Cuba entre as vacas sagradas da Índia ouvindo música de jazz no Harlem. Afundei nas geladas estepes russas. morri ontem no Canal da Mancha e hoje no de Suez. Tombei nas margens do Reno e nas areias do Saara lutando pela vossa liberdade pelo vosso direito de dizer e de amar. Estou convos

Alma Penada, poema de Ladyce West

Alma penada Não cobri espelhos, não acendi velas Não recolhi fotos, não fiz orações, nem vigília ou velório. Não encaminhei sua alma Não chamei padre, rabino, pastor ou mulá. Não queimei incenso: pois você detestava; mas li para você uma poesia de adeus, de partida e voltei para casa, amortecida. Metade de mim, você levou. Impostora, a que ficou, vagou por aí. Davam-me por viva, imagine... Alma penada que sou. Em: Vozes do Luto: a dor de quem fica . Organização e Ediçao: Monique Machado, Rio de Janeiro, Do livro não me livro, 2024, pág. 132

Lua Crescente Em Amsterdã, conto de Lygia Fagundes Telles

     O jovem casal parou diante do jardim e ali ficou, sem palavra ou gesto, apenas olhando. A noite cálida, sem vento. Uma menina loura surgiu na alameda de areia branco-azulada e veio correndo. Ficou a uma certa distância dos forasteiros, observando-os com curiosidade enquanto comia a fatia de bolo que tirou do bolso do avental.      – Vai me dar um pedaço deste bolo? — pediu a jovem estendendo a mão. — Me dá um pedaço, hem, menininha?      – Ela não entende — ele disse. A jovem levou a mão até a boca.      – Comer, comer! Estou com fome — insistiu na mímica que se acelerou, exasperada. — Quero comer!      – Aqui é a Holanda, querida. Ninguém entende.      A menina foi se afastando de costas. E desatou a correr pelo mesmo caminho por onde viera. Ele adiantou-se para chamar a menina e notou então que a estreita alameda se bifurcava em dois longos braços curvos que deviam se dar as mãos lá no fim, abarcando o pequeno jardim redondo.      – Um abraço tão apertado — ele disse. — Acho que

Verão do Lenço Vermelho, romance de Elena Malíssova e Katerina Silvánova

     Dois jovens, Iura de 16 anos e Volódia de 19 anos vivem um romance em um acampamento em 1986. Vinte anos depois, Iura volta ao lugar para relembrar seu primeiro amor.        Isso é o que está em Verão do Lenço Vermelho. Nada de mais. Parece um livro perigoso? Acintoso?  Não?  Pois é.  Em julho deste ano o livro foi editado no Brasil e até está no Tik Tok.  No país de origem, a Rússia, ele foi banido sob alegação de que faz propaganda ocidental e LGBT. Ah, sim! O romance é entre dois rapazes o que é proibido pela lei russa.       O escritor e ex-membro da Duma Federal da Rússia, Zakhar Prilepim, chefou a sugerir que a editora fosse incendiada. Elena Malíssova, saiu do país em 2013 e desde então vive na Alemanha. Katerina Silvánova vive em seu país: Ucrânia. Fonte: Estadão

Velhinhos de Tacna, memórias de Maria Julieta Drummond de Andrade

     Fui assistir a La Señorita de Tacna e achei que, mais do que uma obra teatral, essa primeira peça de Mario Vargas Llosa é um conto intimista transposto para o palco. em vez de ler, o espectador vê a história de Elvira, de apelido Mamaê, sorte de Dona Rosita peruana, que por orgulho desfez o noivado na véspera do casamento e passou a vida cuidando dos filhos da prima com quem morava. Não há propriamente enredo e o que (não) acontece se desenvolve sobretudo dentro das personagens, incidências secretas de amor frustrado, humilhações, cóleras mudas, ímpetos contidos, sonhos inconfessos. Não obstante a montagem e direção, ambas excelentes, não obstante o cuidao, a precisão com que Norma Aleandro compõe o papel principal, falando e gesticulando quase simultaneamente  ( porque a ação vai e volta no tempo e no espaço) como a jovem saltitante e ingênua do começo do século e a anciã semiparalítica, irritada e nebulosa, em que se transformou - não obstante tudo isso, o espetáculo não me s

Bandolim, a nova livraria de rua de São Paulo

     Em São Paulo, uma livraria de rua que nem abriu ainda já está chamando a atenção e simpatia dos moradores por causa de seu banner bem humorado: " Ufa! Não é outro Oxxo".    É que na cidade  está havendo uma grande e rápida expansão de um mercado de nome Oxxo ( pronúncia:ó-qui-sô). Um internauta viu o aviso da livraria, e pôs a imagem nas redes com a explicação:    "Agora em SP, quando você abrir algo em uma esquina, você avisa que não é um Oxxo". Funcionou muito bem. A imagem da futura Livraria Bandolim viralizou. O Oxxo, entrou no clima e inteligentemente respondeu:  “Já passa no Oxxo e pega um cafezinho para acompanhar a leitura.” Gostei da ideia e quando for a São Paulo vou tomar o cafezinho no Oxxo e procurar a Livraria Badolim. Tenho simpatia por livrarias de rua e sebos.  Essa fica no bairro de Santa Cecília.  

Vamos Pensar?