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Mostrando postagens de 2024

Vambora, música de Adriana Calcanhoto

  Adriana Calcanhoto incluiu as angustias de Ferreira Gullar e Manuel Bandeira na sua bela música Vambora. Entre por essa porta agora E diga que me adora Você tem meia hora Pra mudar a minha vida Vem, vambora Que o que você demora É o que o tempo leva Ainda tem o seu perfume pela casa Ainda tem você na sala Porque meu coração dispara Quando tem o seu cheiro Dentro de um livro Dentro da noite veloz Ainda tem o seu perfume pela casa Ainda tem você na sala Porque meu coração dispara Quando tem o seu cheiro Dentro de um livro Na cinza das horas Entre por essa porta agora E diga que me adora Você tem meia hora Pra mudar a minha vida Vem, vambora Que o que você demora É o que o tempo leva Ainda tem o seu perfume pela casa Ainda tem você na sala Porque meu coração dispara Quando tem o seu cheiro Dentro de um livro Dentro da noite veloz Ainda tem o seu perfume pela casa Ainda tem você na sala Porque meu coração dispara Quando tem o seu cheiro Dentro de um livro Na cinza das horas Album: Maríti

O Que É Dissonância Cognitiva ( ou porque não brigamos sobre pepinos), texto de Suzana Valença

  No livro Utopia para Realistas, que eu amo, o economista holandês Rutger Bregman dá uma ótima explicação sobre o que é “dissonância cognitiva”. O termo foi cunhado por Leon Festinger em 1957, mas está incrivelmente atual hoje em dia. No exemplo de Bregman, a dissonância é o que faz a gente brigar por política, mas… Suzana Valença outubro 11, 2024      No livro Utopia para Realistas , que eu amo, o economista holandês Rutger Bregman dá uma ótima explicação sobre o que é “dissonância cognitiva”.      O termo foi cunhado por Leon Festinger em 1957, mas está incrivelmente atual hoje em dia.      No exemplo de Bregman, a dissonância é o que faz a gente brigar por política, mas não por pepinos. É também o que faz pessoas muito inteligentes ficarem, de repente, muito “burras” para defenderem ideias equivocadas. Bregman explica:      Nenhum de nós é imune ao fenômeno que Festinger descreve: “dissonância cognitiva” é o termo que ele cunhou para o problema. Quando a realidade se choca com noss

Vamos Pensar? O Que Fazemos Com Eles?

  Falsiene Vaza. Tradução:Lunarbaboon Brasil

Esperança, poema de Álvaro de Campos

  Dá-me lírios, lírios, E rosas também. Mas se não tens lírios Nem rosas a dar-me, Tem vontade ao menos De me dar os lírios E também as rosas. Basta-me a vontade, Que tens, se a tiveres, De me dar os lírios E as rosas também, E terei os lírios — Os melhores lírios — E as melhores rosas Sem receber nada. A não ser a prenda Da tua vontade De me dares lírios E rosas também. (Poema sem atribuição e com data) Poema de canção sobre a esperança   I. Em ‘Poemas de Álvaro de Campos: Heterônimo de  Fernando Pessoa . Texto Integral’. Visite o blog: Suzanavalenca.com

Era Um Pacato Cidadão de Roupa Clara, poema de Torquato Neto

era um pacato cidadão de roupa clara seu terno, sua gravata lhe caíam bem seu nome, que eu me lembre, era ezequias casado, vacinado e sem ninguém. brasileiro e eleitor, seu ezequias reservista de terceira e com família três filhos, prestações e alguns livros (enciclopédias e biografias). era um pacato cidadão de roupa clara era um homem de bem que eu conhecia cumpria seus deveres, trabalhava chegava cedo em casa de madrugava lutando pelo pão de cada dia. era um pacato cidadão de roupa clara e todo dia passava e me dizia que o mundo estava andando muito mal eu perguntava por que, eu perguntava seu ezequias nunca me explicava apenas repetia lá dentro do seu puro tropical este mundo vai seguindo muito mal este mundo, meu filho, vai seguindo muito mal. ah, seu ezequias! que pena, que desastre, que tragédia que coisa aconteceu naquele dia seu ezequias, ah, seu ezequias saiu do emprego e foi tomar cachaça e apenas de manhã voltou pra casa batendo na mulher, xingando os filhos seu ezequias, a

O Lugar da Resposta Certa, crônica de Marcílio Godoi

     "Pai, a mãe não resistiu", "Pai, ela acaba de partir em definitivo, "Papai, a mamãe morreu", na cabeça, cada um dos oito filhos ensaiava uma forma possível para se dizer o indizível ao velho: que nossa mãe, sua companheira, estava morta.      Enquanto preparavam o corpo dela para o enterro, os irmãos se entreolharam e decidiram ir todos pra casa dos pais, onde o velho esperava, aos noventa, novidades sobre o estado de saúde da mulher, internada uma semana atrás.      Em torno da antiga mesa de jantar, juntos, dariam ao velho o pior de todos os boletins. Ao ver os filhos chegando e se colocando de olhos vermelhos e em peso em torno da grande mesa, o pai foi se inquietando e passou a repetir a pergunta, cada vez em um tom acima: cadê Etelvina? cadê Etelvina? cade Etelvina? Descrente no que lhe dizíamos, recusava-se a acreditar e insistia, mas agora já em tom choroso, resignado, abaixo: cadê Etelvina?      Com o trauma do anúncio da morte daquela com quem con

Assim Termina o Livro Que eu Terminei: A Simples Beleza do Inesperado.

      Algo havia mudado em mim; uma cumplicidade com o peixe, com a vida, a humildade de ser apenas uma criatura dividindo o mesmo planeta com tantas outras. Homens, animais, todos lutamos pela sobrevivência. A natureza não sabe. Mas nós sabemos, ou deveríamos saber, nos declarndo Homo Sapiens literalmwnte "homem sábio". Onde encontramos essa sabedoria? No modo como dividimos o mundo com outras criaturas? Onde está a sabedoria quando matamos um leão ou um elefante a tiros, quando matamos um tubarão ou salmão por divertimento, para nos vangloriat, como se fossem troféus? Quais os valores morais que guiam o dedo que puxa o gatilho ou arranca o peixe da água? Existem muitas formas de concretizar os nossos desejos e impulsos, de buscar por grandes realizações e descobertas, que não envolvem a matança de vidas inocentes. Existem muitas formas de nos aproximar da Natureza sem mutilar suas criações.      Sempre soube disso, mas achava que soltar o peixe era suficiente , que o ato de

Vamos Pensar? Palavras.

 

Desenho, poema de Cecília Meireles

Fui morena e magrinha como qualquer polinésia, e comia mamão, e mirava a flor da goiaba. E as lagartixas me espiavam, entre os tijolos e as trepadeiras e as teias de aranha nas minhas árvores se entrelaçavam. Isso era num lugar de sol e nuvens brancas, onde as rôlas, à tarde, soluçavam mui saudosas... O eco burlão, de pedra em pedra saltando, entre vastas mangueiras que choviam ruivas horas. Os pavões caminhavam tão naturais por meu caminho, e os pombos tão felizes se alimentavam pelas escadas, que era desnecessário crescer, pensar, escrever poemas, pois a vida completa e bela e terna ali já estava. Como a chuva caía das grossas nuvens, perfumosa! E o papagaio como ficava sonolento! O relógio era festa de ouro; e os gatos enigmaticos fechavam os olhos, quando queriam caçar o tempo. Vinham morcegos, à noite, picar os sapotis maduros, e os grandes cães ladravam como nas noites do Império. Maripôsas, jasmins, tinhorões, vaga-lumes moravam nos jardins sussurrantes e eternos. E minha avó c

A Bruxa Não Vai Para a Fogueira Neste Livro, texto de Amanda Lovelace

dizer que nem todos os homens têm más intenções não me ajuda a me sentir segura. depois que eu deixar você nada terá mudado. eu ainda terei medo de sair de casa depois do pôr do sol, ainda sentirei conforto com as chaves na mão como uma arma, ainda vou questionar as intenções de cada homem que conhecer, ainda vou me perguntar quando me tornarei uma história feita para alertar as filhas de outras pessoas, & ainda vou chorar quando ligar a televisão e ver mais uma vez outro homem se safar de... bem, do que eles sempre parecem se safar. eu não sou aquela que tem que mudar a maneira de pensar ou de agir. eles é que têm. — expectativas vs. realidade. Em:  A bruxa Não Vai Para a Fogueira Neste Livro, Amanda Lovelace, Ed. Leya, 2018,Pags. 70-71

As Três Experiências, crônica de Clarice Lispector

     Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros,nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O “amar os outros” é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.      E nasci para escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por quê, foi esta que eu segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-

O Prefeito Escritor, sinopse da Amazon sobre livro de Graciliano Ramos

     Ainda não li o pequeno. Sei que é conciso e objetivo porque Gaciliano Ramos escrevia assim.  Ah, O Prefeito Escritor tem apenas 96 páginas.  Pelo que conheci (de leitura) de sua administração, acho que o livro devia ser obrigatório para todos os eleitores independente de partido. por que eleitores e não políticos?  Por a estes não interessa ser bom gestor. O eleitor é que deve ter plena consciência do que cabe ao prefeito, do que esperar dele e do que lhe cobrar. O eleitor é o único responsável por ter maus gestores e representantes.   Por isso ao eleitor, repito, de qualquer partido recomendo a leitura.    Segue a sinopse:  “Evitei emaranhar-me em teias de aranha”, registrou Graciliano Ramos em um dos relatórios dirigidos ao governador do estado de Alagoas, datado de 1929. Em  O prefeito escritor: dois retratos de uma administração , temos um vislumbre do futuro escritor ainda na época em que era político emergente, prefeito de Palmeira dos Índios, pequeno munícipio situado no

Eva Tinha Celulite? crônica de Antonio Prata

     Quando Deus criou Adão e Eva, os fez meio tapados. Colocou os dois peladões naquele enorme jardim e disse: "Ó, fiquem aí, numa boa. Podem comer todos os frutos, nadar nos rios, fazer o que der na telha, menos uma coisa: comer do fruto daquela árvore ali". Se eles comessem o tal fruto, perderiam a inocência e descobririam outras atividades interessantes para se fazer pelados, além de comer pitangas e tomar banhos de cachoeira.      Como se sabe, a cobra ofereceu a fruta a Eva, que a mordeu e deu para Adão ( a fruta, que fique bem clato). Assim que os dois comeram, perceberam que estavam nus e se envergonharam. Cobriram-se com folhas de parreira e uma semana depois, em todas as bancas do Jardim do Éden, podia-se ler na capa de primeira revista feminina da história: "10 maneiras hipertransadas de usar folhas de parreira para arrasar nesse verão!" ( se você achou "hipertransadas"e "arrasar" meio ridículo, lembre-se de que a edição e de milhões d

Vamos Pensar? Você sabe o que é Guardar?

G uardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma.  Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro Do que pássaros sem voos. Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: Para guardá-lo: Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: Guarde o que quer que guarda um poema: Por isso o lance do poema: Por guardar-se o que se quer guardar. Antônio Cícero Correia Lima  - foi um compositor, poeta, crítico literário, filósofo e escritor . Ocupante da cadeira 24  da Academia Brasileira de Letras.   O acadêmico Antônio Cícero, através de eutanásia faleceu dia 23 de outubro em Zurique.  O autor de vários poemas musicad

História de Passarinho, conto de Lygia Fagundes Telles

      Um ano depois os moradores do bairro ainda se lembravam do homem de cabelo ruivo que enlouqueceu e sumiu de casa.      Ele era um santo, disse a mulher levantando os braços. E as pessoas em redor não perguntaram nada e nem era precisao, perguntar o que se todos ja sabiam que era um bom homem que de repente abandonou a casa, emprego no cartório, o filho único, tudo. E se mandou Deus sabe para onde.      Só pode ter enlouquecido, sussurou a mulher, e as pessoas tinham que se aproximae inclinando  a cabeça para ouvir melhor. Mas de uma coisa estou cert, tudo começou com aquele passarinho. Que o homem ruivo não saboa se era canário ou um pintassilgo, Ô! Pai, caçoava o filho, que raio de passarinho é esse que você foi arrumar?!      O homem ruivo introduzia o dedo entre as grades da gaiola e ficava acariciando a cabeça do passarinho que por essa época era um fihote todo arrepiado, escassa a plumagem amarelo-pálido com algumas peninhas de um cinza claro.      Não sei, filho, deve ter

Paulina Chiziane a Moçambicana Cátedra da Universidade da Polônia

  A escritora moçambicana Paulina Chiziane está a caminho de Varsóvia, na Polónia, para inaugurar a Cátedra Paulina Chiziane, um marco significativo na promoção da literatura africana no cenário internacional. Nomeada em sua homenagem, a cátedra reconhece a vasta contribuição da autora para a literatura moçambicana e seu papel na defesa da identidade cultural e das vozes femininas, oferecendo um espaço dedicado ao estudo da literatura como meio de construção de identidades culturais, sociais e de gênero. Este evento destaca a importância da literatura como ferramenta para expressar as complexidades humanas, especialmente em sociedades pós-coloniais, e reafirma a visão de Chiziane de que a escrita vai além da arte, servindo também para redefinir identidades e promover o diálogo intercultural e a reflexão crítica sobre o mundo contemporâneo. (Fonte: Revista da Lusofonia) A escritora, primeira mulher negra ganhadora do Prêmio Camões) tem vários livros editados no Brasil : Balada de Amor a

A Mulher Que Só Queria Comer Cores, texto de Ignácio Loyola Brandão

     Entre minha estada num apartamento no Pari e a ida para a alameda Itu, morei alguns dias numa pensão de estudantes na rua Arthur Prado, no Bexiga. Nas primeiras semanas de São Paulo, até mesmo pegar o bonde que descia a avenida Brigadeiro Luís Antônio e me deixava na praça das Bandeiras, próximo ao Teatro de Alumínio, era excitante, aventura. Tudo novo, descobertas. Mais tarde soube que até Olavo Setúbal, o megabanqueiro, usava na juventude o mesmo bonde para ir à Politécnica. O Bexiga já era bairro de casas senhoriais deterioradas pelo tempo, muitas delas transformadas em coriços, outra em pensões baratas, lojas de material de construção, de móveis usados, de tecidos também baratos.      A casa da Arthur Prado tinha uma atração. Pelas janelas, à noite, podia-se praticar o voyeurismo, porque na casa ao lado morava uma das mais belas estrelinhas do cinema brasileiro, a francesa Anik Malvil, que muitas vezes foi certinha do Stanislaw Ponte Preta.      As certinhas, mulheres em biqu