A gente sempre pensa que a mudança virá de grandes resoluções: parar de fumar, pedir demissão, declarar-se à Regininha do comercial. Às vezes, contudo, são as pequenas atitudes que alteram definitivamente o rumo de nossa vida. Ontem, por exemplo, pela primeira vez desde que me conheço por gente, saí pra comprar meias. Sou um novo homem. O leitor pode achar que estou exagerando. É que não teve o desprazer de conhecer a minha gaveta de meias até vinte e quatro horas atrás. Mais parecia um saloon de Velho Oeste: poucos pares estropiados em meio a pés desconjuntados – tenazes sobreviventes de diferentes etapas de minha vida. As três brancas, de algodão, haviam sido ganhas na compra de um tênis de corrida, lá por 98. A marca da loja, escrita no elástico esgarçado, já quase não se lia. Pior que as brancas estavam as azuis, da Varig, do tempo em que a ponte aérea era feita pelos Electras e as aeromoças davam brindes, não broncas. Os pés da meia azul não tinham cur